Desde 2013, momento em que se iniciou o pontificado do Papa Francisco, que já lemos e vimos documentários suficientes, para saber que o Santo Padre não gosta de viajar. Ele próprio já o mencionou por diversas vezes e nas mais variadas formas. Implicitamente, quando adverte os padres e bispos para o corrupio entre viagens e aeroportos, sem a necessária permanência para sentir a presença de Deus em cada lugar, ou explicitamente, quando resistiu, mesmo como cardeal, a descolocar-se até Roma para tratar de assuntos próprios do colégio cardinalício. Já durante o seu Pontificado, confessou, mais do que uma vez, que as viagens apostólicas não são algo que o entusiasmam particularmente. Por isso, pode parecer antagónico que seja logo o Papa Francisco a fazer uma viagem apostólica ao Iraque! Mas não é. O espírito de missão e de cumprimento da vontade de Deus leva-o a esquecer o medo, o desconforto e a dar graças de Deus de poder ser sinal de paz e união entre religiões, onde só há morte, guerra, destruição, terrorismo.
Aliás, arrisco dizer que só um Papa com o perfil de Francisco podia ter ido ao Iraque, porque tem esta leveza de Espírito e Transparência de Deus na sua vida. Porque assume, sem preocupações e receios, as suas debilidades, como fez esta semana numa entrevista ao periódico La Nación (www.lanacion.com.ar), que embora realizada em 2019 a um médico, só agora foi escrita em livro, revelou que consultou uma psiquiatra e que «durante seis meses», essa médica o ajudou «a orientar sobre como enfrentar os medos dessa altura». Recordando os tempos de vivência da ditadura militar na argentina, afirma, ainda: «O tratamento com o psiquiatra também me ajudou a me localizar e a aprender a controlar minha ansiedade e a evitar a pressa na hora de tomar decisões. O processo de tomada de decisão é sempre complexo. E o conselho e o feedback que ela me deu foram muito úteis. Ela era uma profissional muito competente e, fundamentalmente, uma pessoa muito boa. Estou-lhe extremamente grato. Os seus ensinamentos ainda são muito úteis para mim hoje». E para espanto geral, menciona que as «neuroses precisam ser alimentadas», explicando que temos de acariciá-las, dizendo, «são companheiros da pessoa ao longo de sua vida», prosseguindo: «Sou muito apegado ao habitat das neuroses e acrescentei que, depois daquela leitura, decidi cuidar delas. Ou seja, é muito importante saber onde os ossos rangem. Onde estão eles e quais são os nossos males espirituais. Com o tempo, a pessoa fica ciente de suas neuroses». Como mortal que é, o Papa Francisco tem uma neurose ansiosa. Ele complementa: «Querer fazer tudo agora e agora. É por isso que você tem de saber frear. Eu dominei bastante a ansiedade. Quando me deparo com uma situação ou tenho de enfrentar um problema que me causa ansiedade, interrompo. Eu tenho métodos diferentes para fazer isso. Um deles é ouvir Bach. Isso acalma-me e ajuda-me a analisar os problemas de uma maneira melhor. Confesso que ao longo dos anos consegui colocar uma barreira à entrada da ansiedade em meu espírito. Seria perigoso e prejudicial para mim tomar decisões em um estado de ansiedade. O mesmo acontece com a tristeza produzida pela impossibilidade de resolver um problema. Também é importante dominá-la e saber manuseá-la. Seria igualmente prejudicial tomar decisões dominadas pela angústia e pela tristeza. Por isso digo que a pessoa deve estar atenta à neurose, pois é algo constitutivo de seu ser», conclui o Santo Padre.
O que o Papa Francisco nos diz é que é perigoso não ter medo, porque é sinal que não precisamos da confiança em Deus; que é perigoso é dizer que estamos psicologicamente fortes e sem problemas, porque não precisamos de ajuda de Deus, nem de quem Deus coloca na nossa vida; e que é perigoso pensar que conseguimos fazer tudo, que somos os heróis, perfeitos e sem falhas e que não precisamos de ajuda.
O Papa Francisco incorpora em absoluto, em toda sua vida, a máxima paulina: «pois quando sou fraco, então é que sou forte (2 Cor 12, 10)».