Ernesto, perdão, Mons. Don Ernesto Brotóns (vou tratá-lo simplesmente por D. Ernesto neste artigo) é, desde o dia 15 de outubro, o Bispo mais recente da Espanha. Tive a sorte de conhecer Don Ernesto em Saragoça, através de um amigo comum, Manuel Fandos, meu orientador de Doutoramento em Educomunicação. Dom Ernesto era, na época diretor do CRETA (Centro Regional de Estudos Teológicos de Aragão) e um dos presbíteros mais influentes na diocese de Saragoça. No entanto, era e é um dos sacerdotes que conheci com um trato mais humano e de humildade nos gestos e atitudes. Sempre usando de abertura de espírito, partilhámos sentimentos e perspetivas eclesiais à volta de uma rodada de pinchos. As suas armas episcopais são sinal da sua simplicidade, humanidade, mas, igualmente, de uma profundidade exemplar.
Porque é que eu estou a contar a história do Don Ernesto, atual bispo de Plasencia? Porque durante o já tradicional Lausperene Diocesano de oração na Semana dos Seminários rezei sobre a ordem do Papa Francisco a Don. Ernesto, aquando do encontro antes da ordenação episcopal. O Papa Francisco disse a Don Ernesto: “Quero que sejas um Pastor, não um polícia”. Muitos querem que nós sejamos polícias, mas temos que ser pastores. O povo precisa de pastores, não de polícias.
Desde que Don Ernesto me relatou este momento com o Santo Padre (facto que o próprio tornou público no dia da ordenação) que tenho rezado sobre esta frase. Se pudesse perguntaria simplesmente ao Papa Francisco: “E quando o povo de Deus quer que sejamos Polícias?” Sinto, muitas vezes, que o Povo de Deus espera que, presbíteros e bispos, sejamos polícias em vez de pastores. Querem e esperam que a “autoridade” de Deus seja exercida por nós, em vez de olharem o sacerdote como a imagem de Cristo Pastor, cuidador e acolhedor da comunidade. E alguns de nós também caímos nesta tentação, de procurar a posição do agente de autoridade, porque promove a inquestionabilidade. Don Ernesto não vai nisso, já que na sua reunião de apresentação aos jornalistas presentes em Plasencia, fez questão de sublinhar que com ele as pessoas estão sempre no centro da vida da igreja. Disse, recordando os conselhos de Francisco: “Una vez más, hizo hincapié en «poner a las personas en el centro» y que la mejor forma de hacerlo era «la acogida y la aceptación de cada persona tal como es con su vida a cuestas» y ser conscientes de que cada decisión afecta a personas, por lo que hay que establecer cauces para escucharlas”.
Um bispo jovem, que deve agir de acordo com o Evangelho, seguindo os conselhos de um ancião, que tem uma mentalidade mais aberta do que a grande maioria dos atuais seminaristas. Um bispo que valorizará o papel da mulher, dos leigos, o diálogo e a partilha, atributos de quem, pela maneira de ser e de estar tem muito mais autoridade – porque esta nasce do ethos e da relação – e, consequentemente o respeito dos diocesanos e demais pessoas.
Guardo para mim a instrução. Espero ter a graça de não ser polícia; e peço, do mesmo modo, a graça de que não me cobrem tal papel, porque só me revejo no de pastor e irmão em Cristo Nosso Senhor.
A D. Ernesto, votos de que o caminho seja plano e sem demasiadas dores.