O ano de 2025 desenha-se como um período sombrio na história contemporânea, onde os ventos da guerra sopram em múltiplas frentes, desde as estepes ucranianas, às areias do Médio Oriente, passando pelas terras africanas devastadas pela violência. Segundo o International Crisis Group, a maioria dos conflitos armados atuais “parece destinada a continuar” em 2025, num cenário global marcado por guerras profundas e duradouras, que devastam diferentes regiões. O Fórum Económico Mundial identificou os conflitos armados como o principal risco para 2025, com 23% dos inquiridos a temerem um “conflito armado baseado no Estado”.
A invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, entra no seu quarto ano sem perspetivas claras de resolução. O conflito atravessa um momento crítico, com a Rússia a ganhar terreno mais rapidamente do que em qualquer outro momento desde o início da invasão, conforme noticiado pela CNN Portugal em junho de 2025. Vladimir Putin declarou que “a situação está a mudar drasticamente” e que há “movimento em toda a linha da frente, todos os dias”, segundo reporta o Correio da Manhã.
As perdas humanas são devastadoras: as autoridades ucranianas reportam que a Rússia perdeu quase um milhão de soldados, incluindo mortos, feridos, desaparecidos e capturados. Do lado ucraniano, mais de 2.500 crianças foram mortas ou feridas desde fevereiro de 2022, conforme dados da UNICEF divulgados em fevereiro de 2025. A chegada de Donald Trump à presidência americana trouxe uma nova dinâmica ao conflito, embora as expectativas de uma resolução rápida se tenham revelado demasiado otimistas, como nos tem sido possível observar, com propostas, contrapropostas e nada a ser cumprido, sobretudo por parte da Rússia.
Se olharmos para o Médio Oriente, a guerra entre Israel e o Hamas, desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de 2023, continua a devastar a região e segue com igual intensidade. Apesar de um cessar-fogo ter sido acordado em janeiro de 2025, a trégua durou apenas até março, quando Israel lançou um ataque surpresa, denominado “Operação Poder e Espada”, matando mais de 400 palestinos, incluindo 263 mulheres e crianças, conforme relatado pela SIC Notícias.
Crê-se que o conflito já provocou a morte ou ferimentos graves, bem como a destruição quase completa das infraestruturas do enclave. O UNICEF divulgou números impressionantes: mais de 50 mil crianças foram mortas ou feridas desde outubro de 2023, conforme comunicado da organização publicado no Vatican News, em maio de 2025.
Continuando este olhar pelas situações de contendas armadas que ocorrem neste nosso planeta Terra, vemos o caso do Iémen, que permanece numa das piores crises humanitárias do mundo, com os rebeldes Houthis a manterem os seus ataques contra navios no Mar Vermelho e alvos israelitas, como relata o Observador. Os Estados Unidos intensificaram a sua campanha militar contra o grupo, com mais de 800 alvos atingidos desde meados de março, resultando na morte de centenas de combatentes, segundo o comando militar americano Centcom.
E não há como não olhar para os conflitos esquecidos de África, como é o caso da tragédia do Sudão. Este país enfrenta uma das maiores crises humanitárias do mundo, resultante da oposição entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido. Da população de 51 milhões deste país, 64% dependem, agora, de assistência humanitária e cerca de 12 milhões foram deslocadas, segundo dados da SIC Notícias. O número de mortos saltou de cerca de 40 mil para 150 mil, segundo organizações humanitárias internacionais, citadas pela Deutsche Welle.
Na Ásia, Myanmar mergulhou numa guerra civil desde o golpe militar de fevereiro de 2021, com mais de 6.600 civis mortos pelas forças de segurança. A situação agravou-se com um terramoto devastador em março de 2025, que matou mais de 3.000 pessoas, criando uma “crise dentro da crise”, conforme relatado pelo Observador. A enviada da ONU, Julie Bishop, advertiu que o país está no “caminho da autodestruição” se a violência não cessar.
Na Síria pós-Assad, cujo regime foi derrubado em dezembro de 2024, paz não chegou totalmente, pois os confrontos entre apoiantes do antigo regime e forças leais ao novo governo sírio, continuam a fazer mortos.
E, no meio de toda esta dor e luta, surge a voz profética do Papa Leão XIV, que, desde a sua eleição em maio de 2025, se tem destacado como alguém que é um incansável defensor da paz mundial, seguindo o legado do seu predecessor Francisco. As suas palavras ecoam. No seu primeiro discurso dominical, o Papa Leão XIV fez um apelo veemente: “No atual cenário dramático de uma III Guerra Mundial em pedaços, como afirmou várias vezes o Papa Francisco, dirijo-me também eu aos grandes do mundo, repetindo o apelo sempre atual: nunca mais a guerra”, conforme relatado pelo Vatican News. Esta declaração, proferida perante cerca de 100 mil fiéis na Praça de São Pedro, reflete a sua determinação em fazer da paz uma prioridade absoluta do seu pontificado.
O pontífice define a paz de forma profundamente espiritual: “Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante, que vem de Deus, Deus que nos ama a todos, incondicionalmente”, segundo as suas declarações registadas pelo Vatican News. Para Leão XIV, “a paz de Cristo não é o silêncio sepulcral que reina depois do conflito, não é fruto da opressão, mas é um dom que olha para as pessoas e reativa a sua vida”.
Aliás, o Papa ofereceu formalmente a mediação do Vaticano para resolver os conflitos mundiais, declarando: “A Santa Sé está sempre pronta para ajudar a reunir os inimigos, cara a cara, para que conversem entre si, para que os povos em todos os lugares possam mais uma vez encontrar esperança e recuperar a dignidade que merecem, a dignidade da paz”, conforme afirma o Vatican News.
Relativamente à Ucrânia, o Papa expressou nesse seu discurso: “Trago em meu coração os sofrimentos do amado povo ucraniano. Que se faça todo o possível para se alcançar, o quanto antes, uma paz autêntica, justa e duradoura. Que todos os prisioneiros sejam libertados e que as crianças possam retornar às suas famílias”. Sobre Gaza, as palavras ditas pelo Papa são, igualmente, tocantes: “Da Faixa de Gaza, eleva-se ao Céu, sempre mais intenso o pranto das mães e dos pais que apertam os corpos sem vida das crianças e que são continuamente obrigados a deslocar-se em busca de um pouco de alimento e de um abrigo mais seguro contra os bombardeamentos”.
O Papa é categórico na sua condenação da guerra: “A guerra nunca é inevitável, as armas podem e devem ser silenciadas, pois não resolvem os problemas mas só os aumentam; pois ficará na história quem semeia a paz, não quem ceifa vítimas; pois os outros não são sobretudo inimigos, mas seres humanos: não vilões a odiar, mas pessoas com quem falar. Rejeitemos as visões maniqueístas típicas das narrações violentas, que dividem o mundo entre bons e maus”.
Este pontificado fica, desde já, marcado pelo apelo universal do Santo Padre, à construção da paz, apelo esse que ressoa como um farol de esperança numa época sombria, oferecendo não apenas palavras de conforto, mas um compromisso ativo na busca de soluções pacíficas. Nas suas primeiras palavras, logo após a eleição, disse: “Deus ama-nos, Deus ama-vos a todos e o mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, de mãos dadas com Deus e entre nós, vamos em frente”. Estas palavras encapsulam não apenas a sua visão teológica, mas também o seu apelo prático para que a humanidade escolha o diálogo em vez da violência, a reconciliação em vez da vingança. E como precisamos dessa compreensão.
Estamos num cenário semelhante ao de 1938/39, um cenário que o mundo esperava nunca ver repetido, mas tudo converge para que este olhar se comprove: as guerras, o populismo e os extremismos, uma crescente desinformação, mas também, falta de formação, uma economia que não respeita o ser humano, a natureza, que nos aprisiona em espaços de grande desigualdade e solidariedade, em que a velocidade e a capacidade tecnológica e científicas, nada conseguem contra o discurso de ódio. Olhemos para o que nos diz Leão XIV. Com um olhar onde a verdade e a vontade de mudar imperem. Ou o caos vencerá.