A síntese da fase diocesana do processo sinodal na Diocese do Algarve, divulgada no sítio da Diocese do Algarve, propõe “uma real implementação dos órgãos de participação e responsabilidade comunitária”.
Os participantes nesta fase do Sínodo 2021-2023, convocado pelo Papa Francisco e que, desde outubro de 2021 até maio deste ano decorreu a nível local, consideraram que o assunto “carece duma profunda mudança e conversão”. Defendendo que a existência daqueles órgãos deveria ser de caráter “obrigatório”, os consultados lamentam a sua “ausência” “em muitas paróquias” ou “a existência mas com pouca utilidade”, bem como “a falta de formação dos leigos para poderem exercer as missões próprias destes órgãos”.
Entre os temas que “mais debate mereceram e, por isso, maior número de contributos reuniram” encontra-se o “Discernir e Decidir”. No âmbito deste assunto reconheceu-se haver “um enorme défice na formação e no exercício da sinodalidade em muitas comunidades” e foi mesmo referido que “em algumas comunidades, nem conselho pastoral existe e que este, até mais do que o Conselho Económico deveria ser instituído como obrigatório pelo Direito Canónico”. “Mas a falta de formação para a sinodalidade é algo que não é específico dos leigos, mas que atinge os próprios padres, sendo que estes deveriam ser formados nos próprios seminários já com esta perspetiva”, acrescenta-se.
Sobre o “Discernir e Decidir” sublinha-se que “a avaliação dos caminhos empreendidos e das decisões tomadas é pouco existente”. “Além disso, refere-se várias vezes a falta de ambiente orante, onde o Espírito Santo deve ser protagonista, nos encontros em que se deve discernir e abrir lugar a decisões”, acrescenta-se.
Entre os “assuntos ou temas mais focados” no que diz respeito ao ponto “Visão da Igreja atual e Propostas de Mudança”, a síntese propõe também o desenvolvimento nas paróquias de “iniciativas que promovam um maior acolhimento, sobretudo aos que não fazem parte habitual das celebrações”. A este nível adianta-se ter sido “várias vezes referida a necessidade de formação para que os leigos possam assumir melhor o seu papel na comunidade paroquial e no mundo”. “Esta formação é importante para promover a mudança de mentalidades e desenvolver o acolhimento, a comunhão, o afeto, a humildade e, a partir daqui, fazer com que a comunidade, onde todos têm lugar e voz, chegue ao mundo com um testemunho coerente, no qual se reflita o que diz acreditar e celebrar”, justifica-se.
Outro dos aspetos ao nível dos temas mais apontados foi a necessidade de se “partir mais do Espírito Santo, da Oração e da Palavra de Deus”, tendo estes sido “considerados, por várias vezes, aspetos em que comummente se está em falta”. “Os contributos referem a necessidade de mudança e de conversão, acrescentando em vários temas que, sem estes três pilares da vida cristã comunitária e pessoal, não pode haver mudança nem conversão, continuando tudo na mesma, ainda que se fale dos assuntos”, acrescenta-se, considerando que “a necessidade de mergulhar mais nestas três realidades é um imperativo para o viver cristão em todas as suas dimensões”.
A síntese sublinha que a “visão da Igreja atual” “é um tema a necessitar de conversão” porque “ainda persistem visões de Igreja que seguem linhas bastantes diferentes”. “Tanto se afirma que a Igreja é toda a gente, como se afirma que a Igreja é a Hierarquia”, exemplifica-se, considerando: “um dos elementos fundamentais para se poder fazer caminhos juntos, gerar comunhão, participação e missão, é saber quem somos e qual a nossa mais profunda identidade”.
Ainda no mesmo ponto foi requerida uma “maior proximidade e presença do sacerdote na comunidade e a sua estabilidade”. “A estabilidade dos sacerdotes nas comunidades que lhe são confiadas, significam a estabilidade e o crescimento contínuo das próprias comunidades. As mudanças em curtos espaços de tempo levam à instabilidade das comunidades que, assim, nunca conseguem levar por diante o caminho iniciado com os seus párocos”, adverte-se, realçando que muitos “cargos e tarefas” “poderiam muito bem serem atribuídas a Diáconos ou Leigos”.
Para além do tema já referido atrás – “Discernir e Decidir” – os restantes três entre os que “mais debate” e contributos” reuniram foram “Ouvir e Falar”, “Celebrar” e “Dialogar na Igreja e na Sociedade”. Relativamente ao primeiro destaca-se que “a Igreja tem ainda uma enorme necessidade de crescer e fazer caminho nestes dois aspetos: dar tempo e não recear ouvir, dar espaço e oportunidade a que se fale abertamente, colocar os mais variados assuntos da vida eclesial e pastoral à consideração de todos os batizados, alargar os grupos de consulta, corresponsabilidade e participação”, procurando também “dar mais espaço aos leigos”.
No que respeita ao segundo, aponta-se a necessidade de “um caminho formativo para o exercício dos ministérios e serviços litúrgicos, de modo que se estenda o mais possível a toda a comunidade; uma maior inclusão de jovens e mulheres na vida celebrativa das comunidades; a necessidade de usar uma linguagem adequada à comunidade que celebra; uma maior aposta no conhecimento da Palavra de Deus, de modo que esta possa ser transportada para a vida, iluminando-a; não cingir a dimensão celebrativa e orante às celebrações comunitárias dominicais, mas desenvolver uma espiritualidade familiar e noutros âmbitos da vida paroquial”.
Em relação ao terceiro é dito que “os diálogos com o mundo juvenil, com os não crentes ou com aqueles que têm posições diferentes da visão cristã” são “os mais difíceis e tensos de empreender”, reconhecendo “a difícil linguagem da Igreja que, para tantos, não é percetível” e acrescentando a “necessidade de formação humana e espiritual” para que haja disponibilidade para dialogar.
Entre os “temas ou assuntos que geraram maior tensão ou opiniões díspares” estão a “maior abertura, acolhimento e compreensão com aqueles que não vivem dentro dos «parâmetros ou padrões» de vida propostos pela Igreja à luz do Evangelho: casais recasados, casais em uniões de facto, pessoas homossexuais, etc”; “o diálogo sincero dentro das comunidades” por forma a “gerar formas de predispor os cristãos para a correção fraterna, onde a hipocrisia, a indiferença ou a omissão não destruam o saudável tecido comunitário”; “os escândalos na Igreja” que “têm prejudicado muito a credibilidade da Igreja e a sua missão evangelizadora” e a “necessidade de uma boa formação humana dos cristãos no que respeita à sexualidade e aos afetos”; e “os ministérios, serviços e partilha de responsabilidades”, evitando que recaiam “sempre nos mesmos” e que não se formem cristãos para o desempenho daqueles ou para “assumirem lideranças”, mas que se procure “valorizar o envolvimento de mais pessoas, especialmente os jovens”.
O Sínodo 2021-2023, subordinado ao tema ‘Para Uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão’, promove um processo global de escuta e mobilização das comunidades católicas, com etapas diocesanas, nacionais e continentais antes da assembleia que o Vaticano vai receber, em outubro de 2023.
Fase diocesana do processo sinodal foi participada por 57,4% das paróquias algarvias