Padre Miguel Neto

Há semanas abeirou-se de mim um jovem que queria renegar o seu batismo.

Esse jovem tomou essa decisão, ao contrário da maioria das vezes que isto acontece, não para supostamente fugir a algum imposto social na Alemanha, mas porque, dizia, «era ateísta e tinha a certeza, não acreditava que a religião cristã, ou qualquer outra, tivesse alguma influência positiva na sua vida».

Por se ter declarado ateísta e não ateu, percebi logo que a sua formação nesse campo vinha da consulta de sites brasileiros. O que o próprio mais tarde comprovou ser verdade.

Esse jovem, era conhecido dos jovens cristãos da paróquia e, por isso, fiquei a saber que teve uma longa formação catequética e cristã. Durante cerca de seis a sete anos de catequese na qual foi presente, frequentava por vezes as eucaristias e cantava num dos vários coros cristãos que outrora existiram naquela paróquia.

Depois da conversa com ele e de lhe ter explicado como realizar esse ato, do ponto de vista formal, fiquei a refletir sobre aquele jovem e a sua atitude. Cheguei à conclusão que ele, tal como tantos outros, “praticou o cristianismo”, mas não conheceu nem criou uma relação de intimidade com Jesus Cristo.
Curiosamente, foi no fim de semana de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2019 no Panamá. Pensei como pode um evento de género favorecer o conhecimento, a intimidade com Aquele que nos conduz ao Pai.

No presente, fala-se muito da JMJ Lisboa e do seu impacto para Portugal a vários níveis: económico, turístico, social, integrador, comunitário, etc. Mas não do impacto sobre a aproximação de cada jovem à pessoa de Jesus Cristo.

Na experiência que tive em Roma 2000 sei que isso nem sempre está presente. Também sei que presentemente o modelo alterou-se, havendo até espaço para a celebração do sacramento da reconciliação. Mas as JMJ2022, na minha modesta opinião, não podem ser mais um evento de multidão de jovens, como qualquer festival de música, um evento destinado precisamente aos jovens que muitas vezes criticam os festivais de música e o que lá se passa, porque não consideram moralmente digno ou edificante da pessoa humana.

Espero, desejo mesmo do fundo do meu coração, que a JMJ2022 seja uma grande manifestação de testemunho cristão, onde fique demonstrado que os jovens católicos têm os mesmo gostos e tendências dos outros jovens, mas que conhecem intimamente Jesus Cristo e querem-no demonstrar, vivendo a alegria da sua juventude, a festa do encontro com os outros que acreditam e partilham dos mesmos valores mas, sobretudo, querem que aquele momento seja um verdadeiro e profundo encontro consigo mesmos e com Deus.

Não gosto de jovens velhos, que muitas vezes vivem deslocados da sua idade e geração. Gosto de Jovens atuais, com gostos atuais, fazendo da relação íntima com Cristo a sua força no presente das suas vidas. As JMJ 2022, em Lisboa, não podem ser uma oportunidade perdida para demonstrar isso mesmo. E eu acredito que assim será, porque esse crer é também sinal da presença do Espírito Santo, que trabalhará em todos para tornar visível e real o rosto jovem do Senhor do Universo, o rosto que em canções tão belas, que os nossos jovens partilham nas suas horas de oração, ficará para sempre marcado nos corações de quem partilha estes momentos, porque esse testemunho é Dom de Deus:

Deus de Amor
Oh Deus de Amor
Tu és o único
O Deus de Amor
Não há outro Deus
Fora de Ti
Fora de Ti (Para mim)
Para mim (Para mim)
Não há Amor