1. A Igreja inicia um novo Ano Litúrgico inaugurado com um tempo especial – o Advento. Trata-se, como sabemos, do tempo que antecede o Natal e que visa a sua preparação.

Quando iniciamos a preparação de um evento ou festa com quatro semanas de antecedência é porque se trata de algo grandioso e deveras significativo. O segredo de qualquer festa está na sua preparação, no tempo que gastamos com a mesma e na forma como a vamos deixando habitar o nosso coração ainda antes da data.

Como quero preparar este Natal?

Quero prepará-lo com uma árvore bem decorada, com luzes interiores e exteriores e com um presépio feito em família, que serão expressão daquilo que interiormente sinto e vivo? Quero prepará-lo olhando mais às necessidades dos outros e compreendendo onde sou útil? Quero prepará-lo estando verdadeiramente atento e vigilante?

Um dos grandes convites que nos é feito neste I Domingo do Advento que iremos celebrar é o convite à vigilância. Não se trata de vigiar atrás da cortina nem de entrar na vida dos outros de modo abusivo, mas, estando atento às suas necessidades, termos a capacidade de lhes estender a mão e abrir o coração de forma desinteressada.

Possivelmente nunca tivemos um Advento tão desafiante, em que este convite a vigiar fizesse tanto sentido. Quantas necessidades duplicaram ou triplicaram devido às circunstâncias actuais? Quantos irmãos estão ao nosso lado a clamar por ajuda? Vigiar não é controlar, mas estar atento, a mim e ao outro.

Que vigilância tenho feito e quero fazer do meu modo de ser e viver? Em dias tão perturbadores para todos nós, em que os níveis de stress e irritação aumentam consideravelmente, urge estarmos vigilantes, para corrigirmos e superarmos estes comportamentos, para que o nosso coração deixe de ser um armazém de azedume e se converta em terra fértil de acolhimento e compreensão.

As restrições sanitárias têm e terão forte impacto na vivência do Natal quando o olhamos como oportunidade para juntar toda a família. Comecemos a prepará-lo conscientes de que este ano, talvez não seja possível proceder como nos anos pretéritos, tendo em vista um bem maior – a nossa segurança e a daqueles que muito amamos. Teremos de nos reinventar, porém, não percamos de vista que o impacto do Natal na nossa vida dependerá sempre da qualidade do nosso Advento. Menosprezar o Advento é remeter o Natal para a esfera do banal e do descartável, não tendo em conta o verdadeiro Protagonista desta História.

2. No passado dia 15, teve início um conjunto de entrevistas semanais aos candidatos à Presidência da República, que decorrerão a cada segunda-feira, e que são organizadas por Miguel Sousa Tavares. O primeiro candidato entrevistado foi André Ventura.

Deixo apenas duas observações. Em primeiro lugar, a entrevista não teve qualquer cunho presidencial, parecendo sim uma entrevista a um candidato a Primeiro Ministro. O entrevistador tentou do princípio a fim, “encostar às cordas” o entrevistado, replicando as suas afirmações mais polémicas e aquilo que o seu partido defende, acabando enredado na própria teia que montou, pois se há coisa que não falta a André Ventura é inteligência. Além de considerar que Miguel Sousa Tavares não esteve à altura do tipo de entrevista que deveria ter sido feita, agravou esse sentimento mostrando ser parcial, algo que um jornalista não pode ser. Porém, tudo piorou quando ao abordar o tema do racismo perguntou a André Ventura se tinha amigos pretos. Voltei atrás para ter a certeza de que ouvira bem. E tinha, infelizmente. Quando o jornalismo (?) atinge este nível algo não vai bem certamente.

Em segundo lugar, hostilizar um partido e/ou uma pessoa, nunca foi boa estratégia. Pelo contrário, esse é o seu combustível. Não compreender isto, é descurar comportamentos sociais e ignorar princípios políticos.

Enquanto cidadãos comprometidos com o nosso país, temos o dever de conhecer aqueles que entram nesta corrida a Belém. É mais um motivo para um Advento vigilante, com o intuito de escolhermos a pessoa que julgamos mais capacitada para o respectivo cargo, e que melhor defenderá os nossos interesses.