O Natal é um tempo alegre por excelência. É isso que significam as iluminações das cidades e das nossas casas, as árvores de Natal enfeitadas com prendas ao redor e os presépios que são montados um pouco por todo o lado. É um tempo de sonho, encanto e magia para os mais pequenos pelas múltiplas actividades desenvolvidas nesta quadra deixando-os radiantes porque os sonhos parecem ganhar forma e cor, aproximando-se da sua concretização.
Celebrar o Natal é para a maioria das pessoas sinónimo de celebrar a família. Nesta época fazem-se viagens esquecidas durante o ano, enviam-se mensagens adiadas durante meses e sacrificam-se muitos ordenados na compra de presentes. O Natal é certamente tempo de família, mas, por imitação da família de Nazaré, aquela de onde brotou o Protagonista de cada Natal. À volta desse Menino que nasceu e que quer nascer no coração de cada um de nós, somos convidados a parar. Parar para compreendermos que a época da família é extensiva ao ano todo; parar para intuir se as datas verdadeiramente importantes da nossa família têm sido celebradas convenientemente; parar a fim de compreendermos que o Mistério da Encarnação não reside na superficialidade das ofertas que fazemos e recebemos, mas que estas devem ser apenas a materialização da nossa alegria interior. Se pararmos e chegarmos à conclusão de que celebramos a família o ano todo, este Natal será mais leve, e menos penosa será a ausência daqueles que amamos.
No passado dia 20 o Papa Francisco alertou o mundo para o perigo do consumismo, afirmando que o mesmo “sequestrou-nos o Natal”, pois retirou-se o foco d’Aquele que transformou uma manjedoura no berço mais importante do Mundo. O presépio subverte as nossas lógicas porque onde vemos miséria e fraqueza Deus vê despojamento e Amor.
Possivelmente viveremos um Natal mais vazio de coisas e pessoas porque as contingências assim o pedem, mas, mais cheio de Deus e mais sensíveis aos dramas dos que nos rodeiam, deixando-nos levar pela lógica libertadora do presépio e não pelo consumismo. Sejamos austeros no dinheiro a gastar, mas nunca nos afectos, e assim, estaremos próximos de (re)descobrir a essência do Natal que é dádiva pura e exemplo de entrega desinteressada. Quiçá a celebração do Natal deste ano não transformará as nossas vidas, porque, reduzidos à essência, nos aproximaremos da sua real origem? Despreocupados com a correria às compras de primeira ou última hora, tenhamos um coração disponível para acolher este nascimento capaz de transformar o curso da nossa história.
Oxalá estas festividades nos despertem para o essencial – o Amor – que nos vem de Deus e que somos convidados a ter nas relações que estabelecemos. Numa sociedade e num mundo em que raramente se oferece sem esperar cobrar isso mais além, aprendamos do Natal que o Amor só pode ser livre e desinteressado. Não amemos porque nos amam. Não ofereçamos porque nos oferecem. Isso será corresponder a um afecto ou a um gesto por delicadeza e/ou obrigação de protocolos estabelecidos pela sociedade.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia