Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A missão levada a cabo nos últimos três anos em Aljezur por cerca de 60 estudantes do Instituto Superior Técnico chegou ao fim no passado domingo.

A iniciativa, que teve início em 2016 e prosseguiu em 2017, integrou-se no âmbito do projeto católico ‘Missão País’, criado em 2003 a partir do Movimento de Schoenstatt que já organizou e desenvolveu mais de 154 missões universitárias a partir de várias faculdades de Portugal, envolvendo mais de 2500 jovens missionários.

Uma das participantes da experiência em Aljezur garantiu ao Folha do Domingo que ganhou “um aprofundamento enorme da fé e da espiritualidade”. “Acho que sou uma pessoa completamente diferente”, disse Sofia Cortes Martins, que foi também chefe geral da missão neste último ano, acrescentando que depois do triénio missionário o “relacionamento com Deus sai muito reforçado”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquela missionária destaca, por isso, também o enriquecimento da relação com os outros. “Aqui somos a melhor versão de nós próprios. O grande desafio é continuar com o espírito missionário para que também consigamos transformar as pessoas com as quais nos relacionamos”, referiu, observando que o alcance da missão vai para além do espaço onde se realiza. “O impacto da missão não é só no sítio onde a fazemos, mas também as consequências positivas que isso tem para as nossas vidas e para as das pessoas com quem nos relacionamos”, explicou, destacando o acolhimento e o apoio recebido pelas pessoas de Aljezur.

“Esperamos poder deixar aqui alguma coisa em Aljezur que fique e que marque”, desejou Sofia Cortes Martins, confirmando que para alguns participantes a ‘Missão País’ constitui a primeira abordagem à fé e a porta de entrada para uma maior inserção na Igreja. “Alguns não são católicos, mas que têm essa curiosidade de querer perceber aquilo que nós fazemos e aquilo em que acreditamos”, contou, referindo haver muitos interessados em participar numa iniciativa daquelas.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Um dos que quis fazer a experiência testemunhou na vigília de oração do último sábado na igreja de Aljezur uma mudança de vida que classificou como a sua “conversão”. “No primeiro ano saí daqui com muitas dúvidas, mas já a querer saber mais. Comecei lentamente a ir à missa e a ler imenso sobre história da Igreja, a vida de Jesus, as posições da Igreja. Comecei também a tentar rezar que era algo muito estranho para mim, pois nunca o tinha feito”, contou, acrescentando ter começado a preparação para receber os sacramentos da iniciação cristã: batismo, confirmação (crisma) e eucaristia.

“Fui percebendo que encontrava em Deus um sentido para a vida”, afirmou, reconhecendo o contributo da ‘Missão País’. “As missões são uma forma ótima de viver e aprofundar a fé porque nos oferecem a componente mais teórica e a componente mais prática da fé. Realmente, a nossa fé só se percebe se for vivida. Deus só se percebe se dermos a vida pelo próximo como Jesus nos pede que façamos”, concluiu aquele participante da missão que este ano incluiu a recuperação da casa de um casal de idosos.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Outra das missionárias testemunhou que aquele “projeto de Jesus e inspirado por Jesus” mudou não apenas a sua vida, mas a sua forma de entender o próprio Cristianismo. “Percebi nas missões que a mensagem de Jesus é uma coisa muito mais profunda, que exige morrermos para nós e viver para Ele e para os outros. Eu gostava muito de criar a minha religião com as minhas circunstâncias e com os meus contextos”, observou, frisando que ter aprendido em Aljezur a “ver Jesus em cada pessoa”. “Isso ajudou-me a amar muito mais os outros”, acrescentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Lorenzo Lütjens, que acompanhou o grupo durante estes três anos, disse ao Folha do Domingo que para muitos jovens a ‘Missão País’ “é a possibilidade que têm de fazer uma experiência de Deus”. “Há muitos que estão à procura”, afirmou aquele sacerdote do Movimento de Schoenstatt, considerando “muito bonito” o crescimento dos voluntários ao longo dos últimos três anos e ter havido “grandes transformações nalguns”.

O padre Lorenzo Lütjens lembra ainda que, após a realização da missão, os frutos da mesma dependem de cada participante. “Há pessoas que podem ter muito boas experiências, mas se depois não as cultivam, não as alimentam e não são fiéis a elas, esquecem”, advertiu, considerando, não obstante, que “todos ficam marcados” por aquela vivência.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O pároco de Aljezur também confirmou ao Folha do Domingo que a ‘Missão País’ foi uma mais-valia para a paróquia, procurando “levar este encontro com Cristo às pessoas, muitas delas afastadas e outras doentes e acamadas”, mas também na escola local, o que também foi reconhecido na vigília de sábado por uma representante da comunidade escolar. “Foi uma presença de Jesus na casa das pessoas, principalmente daquelas que não procuram esse encontro”, desenvolveu o prior, acrescentando que a iniciativa veio ajudar o trabalho pastoral porque houve uma “grande dinamização”. O sacerdote deseja agora que “que esta semente que eles lançaram à terra aqui em Aljezur possa dar fruto é crescer”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Uma das paroquianas de Aljezur destacou as três “grandes qualidades” dos missionários que ficaram alojados no Espaço Multiusos de Aljezur: “simplicidade, disponibilidade e alegria”. “É preciso muita coragem para deixarem todo o vosso conforto para virem dormir em tendas e com grande frio. Abdicaram da vossa semana de férias, e com certeza das boas refeições que as vossas mães vos preparam, sempre prontos para ajudarem e irem ao encontro daqueles que mais precisam”, afirmou, realçando a ainda a “alegria que contagiou crianças, jovens e adultos”. “Vocês lançaram a semente, agora cabe-nos a nós, comunidade de Aljezur, cuidar dela para que dê muito fruto. «Quando voltarem os vossos nomes estarão gravados no céu» é a letra do hino, mas também vão ficar para sempre gravados nos nossos corações”, concluiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As missões são semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares: externa, interna e pessoal. O lema da ‘Missão País’ deste ano que se realizou de 4 a 11 deste mês foi “A paz esteja em tua casa”.