O clero do Algarve está a viver hoje um dia de recoleção que teve como ponto alto a reflexão, esta manhã, do bispo da Diocese de Bragança-Miranda.
D. José Cordeiro exortou a “entender a crise como um desafio à coragem e à confiança” e destacou a oração como “solução” para este “tempo duro” provocado pela pandemia. “Não devemos cansar-nos de rezar sempre. Não conhecemos outra solução para os problemas que estamos a viver senão a de rezar mais e, ao mesmo tempo, fazer tudo o que nos for possível com mais confiança. A oração permitir-nos-á ter esperança para além do que se podia esperar”, acrescentou, lembrando que os membros do clero não estão imunes a doenças como a depressão ou o burnout.
Na reflexão, subordinada ao tema “Dom da Quaresma, o agora da conversão”, participada pelo bispo do Algarve e por 35 padres e diáconos da diocese, D. José Cordeiro desafiou também o clero algarvio a uma “leitura crente” da atualidade, partindo da seguinte questão: “O que é que Deus quer de mim, quer de nós, durante este tempo e depois deste tempo?”.
O bispo de Bragança-Miranda lembrou que “este tempo da Quaresma é sempre um tempo de treinamento interior, oração, contemplação e adoração”. “Como interpretar este tempo?”, interrogou, desafiando a “contemplar os sinais para construir o significado” do que se está a viver. “Podemos experimentar que estamos solitários, mas solidários. Talvez se possa dizer que estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo. Todavia, somos chamados a cuidar uns dos outros e a cuidar uns pelos outros. O tempo é oferta de nós próprios pela redenção do mundo”, destacou.
Nesse sentido, lembrou que “ninguém dá aquilo que não tem”. “Se não cultivamos aquilo que temos ou pensamos ter ou saber, depressa se esvai e depois caímos no comum, no banal ou, se calhar, até nalguma mediocridade espiritual sendo muito religiosos, mas pouco cristãos”, alertou.
O orador destacou a Quaresma como tempo de conversão, lembrando que esta “não é um momento, mas uma atitude”. “A conversão não é só mudança de mentalidade, mas é a mudança interior. Não é só na Quaresma, é todos os dias da nossa vida. Mas neste tempo como que somos interpelados por todos os meios e respiramos este convite permanente à conversão, à mudança do coração”, afirmou.
“Estamos em grandes e profundas mudanças”, considerou D. José Cordeiro, acrescentando que “o mundo contemporâneo perdeu o primado da interioridade”, uma constatação que disse ser comprovada com uma “espreitadela às exterioridades das redes sociais”.
Exortando ao “cultivo dessa interioridade”, o orador desafiou os ministros ordenados ao “exercício do centrar no essencial” para que possam “ser mais presença de serenidade e de paz”. “Que este tempo de silêncio e renuncia seja também para nós fonte de santificação”, desejou, pedindo-lhes que sejam “testemunhas credíveis das obras de misericórdia e da misericórdia das obras na Igreja e no mundo”. Sendo esta “presença de paz e misericórdia”, defendeu que ajudarão a “evitar muitos problemas mentais, psicológicos e espirituais em muitas pessoas”.
“Este é o tempo que Deus nos oferece, é o agora da conversão. Precisamos dar tempo a Deus, que o mesmo é dizer, dar tempo a nós próprios para que voltemos ao essencial”, reforçou, considerando a Quaresma como “sinal sacramental” da conversão. “O tempo da Quaresma é um admirável sinal, podemos até atrever-nos a dizer sacramento da Igreja e da nossa conversão, cujo objetivo fundamental é a celebração do mistério pascal”, sustentou.
D. José Cordeiro lembrou que as mãos dos sacerdotes são ungidas “para o serviço e não para o poder”. “A unção não significa que sejam intocáveis. São mesmo o contrário. Temos mesmo de as sujar para servir. Por isso, demos as mãos e mãos à obra”, afirmou, lembrando que “a amizade fraterna e a comunhão sincera na corresponsabilidade é mais importante que trabalhar sozinho”. “Precisamos de agir em união e na paz”, prosseguiu, apontando a “um novo dinamismo pastoral”.