O centenário do nascimento de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, assinalou-se a 22 de janeiro deste ano, mas devido à pandemia de covid-19 a programação prevista, que iria prolongar-se até 22 de janeiro de 2021, tem sido quase toda cancelada.
No Algarve, a efeméride, que tem como lema “Celebrar para encontrar”, será assinalada no próximo domingo, 22 de novembro, com a celebração de uma eucaristia presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, na Sé de Faro, pelas 11h30, que será transmitida na página de Facebook do jornal Folha do Domingo.
No final da eucaristia será inaugurada no salão de atos da própria catedral de Faro uma exposição itinerante alusiva à vida e obra de Chiara Lubich.

Numa nota enviada ao Folha do Domingo, o Movimento dos Focolares explica que, como referiu Maria Voce, a sua atual presidente, “o intuito não é apenas recordar Chiara, mas encontrá-la na sua obra, Obra de Maria, nos testemunhos, nas ações que realizou, na mensagem sempre atual de fraternidade, unidade e comunhão”.
O documento destaca Chiara Lubich, nascida em Trento (Itália) no dia 22 de janeiro de 1920, como “uma mulher que escolheu Deus como ideal da sua vida”. O documento acrescenta que o Movimento dos Focolares, hoje presente em 182 países, dos cinco continentes, “ultrapassou as fronteiras da Igreja, abrangendo pessoas de várias denominações cristãs, religiões e convicções não religiosas” e que “falar de Chiara significa, portanto, falar de alguém cuja vida foi totalmente doada a Deus e, por Ele, à humanidade”.
“A sua capacidade de diálogo e de acolhimento alicerçados no Evangelho, levou-a a criar relacionamentos pessoais e institucionais que permitiram tornar-se protagonista no campo ecuménico, inter-religioso, e intercultural, levando-a a difundir em todo o mundo o Carisma da Unidade”, prossegue a nota.
Chiara Lubich faleceu a 14 de março de 2008 em Rocca di Papa (Itália). Em novembro de 2019, na catedral de Frascati (Itália) concluiu-se a fase diocesana do seu processo canonização de Chiara Lubich.
Chiara Lubich nasceu em Trento em 22 de janeiro de 1920, numa família modesta. Da mãe herdou a fé cristã e do pai socialista herdou uma forte sensibilidade social. Foi professora primária nos anos 1939-43. A sede de verdade levou-a à Universidade, mas não pôde continuar por causa da Segunda Guerra. E foi precisamente naqueles anos escuros, sob os bombardeamentos, que descobriu no Evangelho aqueles valores do espírito que reconstroem o homem e o tecido da sociedade desagregada.É neste cenário, no clima de ódio e violência da guerra, que em 1943 Chiara fez a “fulgurante descoberta” e imediatamente partilhada por outras jovens: o Único Ideal que permanece, é Deus que experimenta como Amor. Uma descoberta que transforma as suas vidas e ilumina a amplitude dos planos de Deus sobre a humanidade diante da última oração de Jesus: “Que todos sejam um, como eu e tu”. E gastou toda a sua vida para concretizar aquela frase do Evangelho. O mandamento do amor recíproco: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, foi vida quotidiana, suscitou a comunhão dos bens materiais e espirituais, foi “o código para transformação social, uma nova corrente espiritual, um motor de transformação social, estando o amor e a unidade inscritos no DNA de cada pessoa.
Começou pelos pobres dos bairros mais desfavorecidos de Trento nos anos 40. Chiara reconheceu nos inumeráveis rostos de dor, divisões e traumas da humanidade, o rosto do Homem-Deus que sobre a cruz grita o abandono do seu Pai, na certeza, que se torna experiência viva, que Ele os recompôs e sanou. É Ele, coração do seu carisma, que a leva a arquitetar uma Obra vasta e complexa visando recompor na unidade e na fraternidade a família humana através do Movimento dos Focolares. Difundiu-se em 182 países, incluindo os países do Leste Europeu, ainda antes da queda do muro.
 Sob o impulso do drama da revolução húngara em 1956, impulsionou as primeiras realizações para a renovação dos vários âmbitos da sociedade, tendo em 1968 dado origem ao Movimento Humanidade Nova, sendo hoje uma ONG com voz junto da ONU. Em 1966 lançou os jovens como protagonistas de um mundo novo: o mundo unido. Nasceu o Movimento Gen (geração nova). Nos anos ’70, pressagiando os desafios da globalização indicou-lhes como modelo “o Homem-Mundo”. Em ’67 deu início ao Movimento Famílias Novas que se propõe viver e irradiar no mundo da família os valores que promovem a fraternidade universal, sublinhando a importância da função educativa dos pais e a ação social da própria família.
No campo cultural, em 1990 deu vida à Escola Abba, um centro de estudos internacional e interdisciplinar. Nos últimos meses da sua vida fez nascer o Instituto Universitário Sofia em Loppiano (Florença), uma das 23 cidadelas de testemunho por ela fundadas. Diante das graves disparidades sociais na América Latina, durante uma viagem ao Brasil, em 1991 deu início ao projeto da Economia de comunhão. Em 1996, em Nápoles, colocou as bases do Movimento Político para a Unidade.
Chiara desenvolveu um diálogo como via privilegiada para a unidade e a fraternidade, no seio da Igreja Católica, entre as Igrejas, entre religiões, com pessoas sem qualquer referência religiosa e com a cultura contemporânea. A sua espiritualidade é reconhecida, aos poucos, como espiritualidade ecuménica de reconciliação e partilhada por cristãos de 300 Igrejas. Foi a primeira mulher e cristã que em 1981 expôs a sua experiência espiritual num templo em Tóquio, diante de mais de 10.000 budistas. Em 1997 falou a centenas de monges e monjas budistas na Tailândia, em Chiang Mai. Poucos meses depois tomou a palavra na Mesquita de Harlem (Nova Iorque), diante de cerca de 3000 muçulmanos afroamericanos. Em 2001 na Índia, em Coimbatore foi distinguida com o prémio Defensora da Paz por Instituições gandianas.
  O seu trabalho foi reconhecido com a atribuição dos Prémios Educação para a Paz ’96 da Unesco, Direitos Humanos do Conselho da Europa (1998) e com numerosas cidadanias honorárias; no campo cultural foram-lhe atribuídos 16 doutoramentos honoris causa em várias Universidades da Europa, Américas e Ásia e no campo religioso recebeu o Prémio Templeton para o progresso da Religião (Londres 1977).
“Nunca fiz planos”, repetiu várias vezes. “A partitura está no Céu, nós procuramos tocar essa música na Terra”. No dia 14 de março de 2008, depois de um longo período de doença, faleceu na sua casa em Roccadi Papa. Participaram no funeral milhares de pessoas, numerosos bispos e cardeais, personalidades civis, políticos de vários quadrantes, representantes de movimentos, de Igrejas e religiões. O Papa Bento XVI, na sua mensagem, afirmou que Chiara era uma mulher “em plena sintonia com o pensamento dos Papas, que por vezes conseguia intuir em antecipação”. |