Na Igreja de Cristo, ninguém tem o monopólio do anúncio da palavra salvadora de Deus. Cabe à Igreja, no seu todo, ser o instrumento do anúncio e do testemunho da Palavra de Deus. Ela é, por natureza, missionária. Importa, porém, lembrar que a maioria dos membros da Igreja são os fiéis leigos. Por isso, importa que estes assumam as suas responsabilidades no meio do mundo, onde vivem entrosados com a vida social, familiar e cultural, campos privilegiados da sua acção evangelizadora. Quem crê verdadeiramente em Cristo, leva-o consigo, seja onde for que a sua vida se gaste.
Ninguém pode substituir o agregado familiar no papel que lhe cabe, relativamente às coisas da fé. No âmbito do lar, todos são evangelizadores uns dos outros, todos são catequistas uns dos outros, todos são testemunhas do Evangelho. Ou, então, não são. E, nesse caso, quem poderá substitui-los nessa missão?
Mas o papel evangelizador do leigo não se limita à geografia da família. Cabe-lhe, enquanto leigo, desempenhar a missão da Igreja no mundo em que vive.
1 – Já Paulo VI escrevia, na Evangeli Nuntiandi: «A primeira e imediata tarefa dos leigos é por em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, mas já presentes e operantes, nas coisas do mundo. O campo próprio da sua actividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e da arte, da vida internacional, dos meios de comunicação social e ainda outras realidades abertas para a evangelização, como sejam, o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento» (EN70).
Todo este vasto mundo é campo de evangelização, onde os «leigos» têm uma parte preponderante e insubstituível. Por isso, quando se fala de anúncio da Palavra ou de evangelização, quer se trate da primeira evangelização quer se trate da nova evangelização, há um lugar que só o laicado poderá desempenhar, e ninguém poderá substitui-lo. Se os leigos o não fizerem, ficará por fazer e ninguém mais colmatará essa falha!
2 – A Igreja missionária, por sua natureza, tem de ir ao encontro de todos os homens, de qualquer quadrante geográfico, cultural ou de raça, para anunciar a mensagem cristã da salvação, em toda a terra: «Ide por todo o mundo» é ordem de Jesus aos seus seguidores, entre os quais se encontram também os leigos. E nesta tarefa de primeiro anúncio, também eles têm um papel insubstituível, como diz o Decreto ad gentes: «Nas terras de missão, os leigos ensinem nas escolas, administrem os bens temporais, colaborem nas actividades paroquiais e diocesanas, iniciem e promovam as várias formas de apostolado dos leigos, para que os fiéis das novas Igrejas possam quanto antes assumir a sua própria missão na vida da Igreja» (AG41). Nestes tempos, em que se fala tanto de nova evangelização, que tão urgente é, onde estão os leigos a dar forma evangélica à vida de todos os dias, nos mais variados ambientes da sociedade hodierna?
D. Manuel Madureira Dias
*bispo emérito do Algarve
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.