(Coisas de mães…. e de pais também…)

Durante alguns anos tive um blog onde escrevia textos e reflexões. Foi uma época engraçada da minha vida, muito gratificante, onde só substitui os caderninhos pretos, pequenos, que cabiam na mala e onde estava sempre a escrever, por um espaço especial, na blogosfera, que fazia ampliar exponencialmente o eco que estas reflexões tinham em mim.

Um dos textos desse tempo era o “Galinha gorda”, onde falava da proteção de uma mãe para os seus filhos, da tentação de metê-los todos debaixo da asa grande e de os proteger, até que o mundo e as coisas se compusessem outra vez, só os deixando sair quando tudo estivesse arranjado e sem perigos.

Acho que as mães, (e usarei a expressão seguinte de forma carinhosa), serão sempre “galinhas gordas”. Terão sempre essa tentação, a tal do abrir da asa e de meter lá debaixo os filhos. Aconchegá-los num quentinho de proteção que os protege e as faz (a elas, às mães), ter tempo para respirar para o “que vem a seguir”. Os filhos crescem, mas as preocupações não cessam. Os filhos autonomizam-se, mas o mundo não se compõe instantaneamente para eles, com tempos e locais certos, “à la carte”, segundo suas vontades e necessidades de momento. Os perigos, inseguranças e contrariedades, continuam aí, espalhados e por todo o lado. E então sim, muitas vezes me lembro deste “galinha gorda”. Muitas vezes tenho a velhinha tentação de abrir a asa outra vez e de os meter lá debaixo, protegidos, à espera, sossegados, que tudo se componha. Mas sei que isto de nada serve. Há perigos e dúvidas e guerras que se têm de enfrentar e passar. Há fases que fazem parte da vida e que têm de ocorrer. Há contrariedades que fazem crescer e então nós, mães e pais temos de conseguir fechar a asa sem eles, deixar os filhos seguir caminho, ficar a vê-los no carreiro e pacificar o nosso coração, esperando que os influxos de amor que os fizeram crescer fortes, os façam agora, passar ligeiros pela vida fora. E é um exercício hercúleo para as mães e para os pais. É um exercício constante, contínuo, nesta tese de doutoramento sem guião que é a maternidade/paternidade. E eu gostarei sempre de falar nisto. É um tema inesgotável. Porque esta carapuça nunca deixará de me servir e porque este universo infinito da maternidade me oferecerá, constantemente, matéria de facto para escrever e lembrar e crescer. E é por isso, que um texto de 2015 continua (e continuará sempre) tão atual. Para todas as mães e pais.