Há pouco tempo vi uma série numa das plataformas de streaming disponíveis, que era daquelas leves, românticas, sem nada de absolutamente fantástico e até com algumas doses de previsibilidade, mas retratava cenas de vida familiar e relação de irmãos, muito giras. As personagens dos Pais (pai e mãe) eram absolutamente fantásticas nas suas atitudes e relações com os filhos, que eram vários, de várias idades. A mãe, a certa altura, a propósito de uma zanga séria entre dois irmãos, diz-lhes qualquer coisa deste género: “Aquilo que vocês têm é absolutamente precioso, mas também imensamente frágil.”

Percebi o alcance de quem quer explicar que a boa relação de irmãos não é um dado adquirido e identifiquei-me.

Tenho 3 filhos adultos, as duas mais velhas, praticamente independentes. O mais novo, ainda numa fase de dependência dos Pais, pelo menos economicamente falando. Vivem juntos, em Lisboa, desde o início dos percursos universitários. Testemunho as tensões habituais de irmãos que vivem juntos e que têm uma relação que sei que é saudável, próxima e significativa para todos eles, mas alerto-os muitas vezes para isto. As relações e os afetos significativos, não acontecem por decreto (AMOR POR DECRETO), não existem só porque se é filho, pai, mãe, irmão, irmã. Têm de ser cuidadas, regadas e percebidas com seriedade e para isso, tem de existir o respeito, a compreensão, mas sobretudo, muito, muito sobretudo, a vontade de querer AQUELA pessoa na nossa vida e de dar às coisas DESSA PESSOA uma importância grande, porque são dela e porque essa pessoa é importante para nós. E isto, mesmo que tenhamos um feitio diferente, ritmos e maneiras de estar distintas, formas de reagir opostas. É assim, é o que é. É o que acontece entre pessoas que se querem e que se gostam. E entre irmãos, é assim que deve ser. Sempre. Mesmo que sejamos adultos, independente e diferentes uns dos outros.

E com isto sinto, como aquela mãe da série, que este nosso radar-de-mãe-para-as-coisas-importantes-da-vida, nunca pode enferrujar, ou deixar de funcionar. Só para o caso de se estar esquecido da verdadeira direção.