As XXIII Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve contaram no passado sábado com o testemunho de duas assistentes sociais da Cáritas Diocesana de Beja e do Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) com um abrangente trabalho com estes destinatários.

No encontro que teve lugar no Centro Pastoral de Ferragudo sobre a temática “Pastoral Social – Chamados a ser sinais de esperança” e contou com 25 participantes, Ana Margarida Barrocas e Teresa Palhete explicaram que os imigrantes que chegam àquela diocese vizinha procuram as duas entidades sobretudo para pedir ajuda na sua regularização, mas o auxílio ao reagrupamento familiar ou ao retorno voluntário aos países de origem também são pedidos frequentes.
Para além disso, o apoio no acesso aos cuidados de saúde é outra das preocupações da Cáritas de Beja e do CLAIM. “A proteção de um imigrante é a proteção de cada um de nós. A saúde de um é a saúde de todos. As portas dos serviços de saúde deviam ser escancaradas à comunidade migrante e não fechadas”, defendeu Ana Margarida Barrocas.

Para além do apoio a procedimentos burocráticos de diversa natureza, a promoção da interculturalidade e ações de formação de vária ordem são também outras das iniciativas que têm sido levadas a cabo. As assistentes sociais testemunharam também a articulação com outras entidades da área como os grupos paroquiais e enumeraram os serviços e valências da Cáritas de Beja.
As duas técnicas, que apresentaram vídeos com testemunhos de imigrantes que apoiam, realçaram que a vinda para Portugal de pessoas de outros países “tem vindo a aumentar todos os anos”. “A Pordata, em 2022, dizia que havia 800 mil estrangeiros em Portugal, quase o dobro de há 10 anos. Hoje estima-se que sejam mais de 1 milhão”, adiantou Ana Margarida Barrocas.
A assistente social disse que “querem procurar trabalho e melhores condições de vida para a sua família”, traçando o retrato do “jovem adulto” que vem para Portugal e “é o sustento de toda a família”. “Não só de mulher e filhos, mas também dos seus ascendentes que estão no país de origem em situações precárias”, precisou, explicando haver imigrantes que auferem o ordenado mínimo e “conseguem subsistir cá e enviar dinheiro de forma a que a família inteira subsista lá”.
Ana Barrocas explicou que os homens “trabalham sobretudo na agricultura e na construção civil”, enquanto as mulheres “muito na assistência e apoio a idosos e nas limpezas”. Disse ainda que “muito africanos” chegam ao país para “completar os seus estudos quer a nível superior, quer do secundário e do ensino profissional”.

“Também temos muitos imigrantes nos procuram por questões de saúde, porque não têm acesso a tratamentos. Comparativamente a muitos outros países, o nosso país é muito bom a nível das respostas de saúde”, prosseguiu, explicando que muitos valorizam a “qualidade de vida” em Portugal, indicando particularmente aspetos como “a segurança, a tranquilidade ou a oportunidade de emprego”. Ana Barroca disse ainda que outros procuram o país por causa de “contextos políticos e de guerra” nos seus países de origem.
Teresa Palhete lamentou os “preconceitos”. “Quem são as pessoas que vêm para cá? São pessoas exatamente como nós. Têm é um percurso completamente diferente, com condições completamente diferentes das nossas, mas todos têm pai, mãe e filhos, todos precisam de trabalhar, de comer. Só falam uma língua diferente e, se calhar, a cor da pele pode ser diferente. E temos de pensar na nossa história que, enquanto portugueses, já fomos para outros países e temos também uma história de emigração”, referiu.