As XXIII Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve evidenciaram que o presente Jubileu que a Igreja está a viver tem como objetivo “reanimar o sentido profundo da esperança cristã” e que “esta esperança tem um nome: Cristo”.

“Se o encontrámos, morto e ressuscitado, não podemos guardá-lo só para nós. O encontro com Cristo deve, pois, ter consequências em quem o encontrou e lhe abriu a porta da sua vida”, considerou o padre Manuel António do Rosário, sacerdote da vizinha Diocese de Beja, que foi o orador do encontro que teve lugar no último sábado no Centro Pastoral de Ferragudo, sobre a temática “Pastoral Social – Chamados a ser sinais de esperança” e contou com 25 participantes.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Uma das preocupações deste e de todos os Jubileus é que nós todos proporcionemos ocasiões de encontro com Cristo. O resto virá a seguir”, disse ainda aquele docente do Instituto Superior de Teologia de Évora, acrescentando haver “tanta gente à espera de uma palavra de esperança, de uma presença”. “É preciso que a conversão não seja apenas mais uma bela palavra que a gente gasta e que não tem consequência na nossa vida”, sustentou.

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O padre Manuel António considerou que os “desafios emergentes” que o Ano Santo apresenta decorrem dos apelos que o Papa Francisco tem apresentado no exercício do seu magistério: “os pobres, a ecologia, a misericórdia e a sinodalidade”.

“Apesar de alguns países considerados do Terceiro Mundo estarem a conseguir sair da pobreza, continua a aumentar o fosso entre países ricos e pobres, surgindo mesmo nos países considerados ricos uma expressão que nos deveria envergonhar: Quarto Mundo. Aqui estão integrados os pobres dos países ricos, Europa incluída, bem como os Estados Unidos, onde o número destes pobres ascende a algumas dezenas de milhões de pessoas”, referiu o orador.

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O padre Manuel António lembrou que o Papa, na bula de proclamação do Jubileu, refere que o Ano Jubilar é uma ocasião em que os cristãos são chamados “a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade”. “Num Mundo onde há milhões de pobres, a quem falta o necessário para viver com dignidade, a resposta passa pelo combate à resignação, empenho em que possam ter habitação, alimentação, e não sejam excluídos, nem votados à indiferença”, acrescentou.

O orador lembrou que o Papa realça naquele documento que “os bens da Terra se destinam a todos e não a poucos privilegiados” e “propõe mesmo que se constitua um fundo global para acabar com a fome e se contribua para o desenvolvimento dos países mais pobres”. “Insiste ainda em que se implementem medidas que permitam o perdão das dividas dos países que nunca as poderão pagar e lembra que há uma divida ecológica entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais, efectuado historicamente por alguns países”, prosseguiu.

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No âmbito da sinodalidade destacou o “desafio ao Ecumenismo” e o “convite à superação das divisões no seio da Igreja Católica”. “É preciso aprofundar o sentido da escuta de uns e de outros, e todos à escuta do Espírito Santo, reconhecendo e valorizando a diversidade dos carismas e ministérios do Povo de Deus”, defendeu, considerando que “a sinodalidade, mais do que novas estruturas, é sobretudo um estilo de ser e viver como Igreja”.

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O conferencista enumerou ainda “sinais” que desafiam os cristãos a trabalharem “conduzidos pela esperança”. Referiu-se concretamente ao “empenho em favor da paz”´; ao combate ao “inverno demográfico”, “amando e acolhendo entusiasticamente a vida”; à defesa de “condições dignas para quem está recluso, respeito pelos direitos humanos e, sobretudo, a abolição da pena de morte”; a respostas de proximidade, carinho, visitas aos “doentes que se encontram em casa e nos hospitais”; ao “com cuidado, empenho, proximidade” aos “jovens sem esperança, sem emprego, alienados”; ao “acolhimento, responsabilidade, ajuda na integração, segurança, trabalho, instrução” como resposta aos “dramas que afetam os migrantes”; à “proximidade da Igreja” aos migrantes; e ao combate à “solidão e abandono a que tantos idosos são votados”, valorizando o “tesouro que eles constituem”, “amparando-os e manifestando-lhes amor e gratidão”.

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O padre Manuel António, que disse ainda ser “evidente e indiscutível que existe uma grande fome de espiritualidade”, evidenciou que “a juventude constitui hoje um tremendo desafio para a Igreja”. “Muitos jovens são crentes, embora não se identifiquem com nenhuma religião em especial, e a grande variedade das propostas neste campo é imensa”, constatou, considerando que “muitos deles ou não fizeram o seu percurso cristão” ou, “se o fizeram, acabaram por se afastar da Igreja”. “Há, contudo, muitos jovens a assumirem a sua fé sem complexos, e a comprometerem-se com a Igreja e a sua missão”, observou, acrescentando ser preciso “ter a capacidade de atrair os jovens”. “Não é fazer para os jovens, é fazer com os jovens”, distinguiu.

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As Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve, promovidas através da Cáritas Diocesana, prosseguiram da parte da tarde com a intervenção de duas técnicas da Cáritas Diocesana de Beja, também assistentes sociais no Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes.

Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve contaram com testemunho de trabalho com migrantes na Diocese de Beja