GlobalgarveA liquidação do património da Agência de Desenvolvimento Regional do Algarve (Globalgarve), declarada insolvente em julho, pode afetar a manutenção dos serviços informáticos das autarquias algarvias, alertou na sexta-feira o administrador cessante da empresa, Victor Guerreiro.

A empresa – criada em 1995 e que tinha como principais acionistas 15 das 16 câmaras algarvias -, foi declarada insolvente pelo tribunal em julho, face a um passivo de 654 mil euros, na sequência de uma ação interposta por alguns dos funcionários com salários em atraso.

Em conferência de imprensa, Victor Guerreiro afirmou que a conexão à Internet de banda larga fornecida por outras empresas “pode estar em causa com a liquidação do património da Globalgarve”, avaliado em 500 mil euros e cujo maior ativo é a rede de fibra ótica com cerca de 300 quilómetros, que liga os municípios da região.

Contudo, uma vez que o património da empresa não mereceu qualquer proposta de aquisição em hasta pública, o administrador de insolvência tem agora o poder de negociar diretamente com potenciais compradores, por valores mais reduzidos, esclareceu aquele responsável.

A rede de fibra ótica e outros serviços relacionados com o projeto Algarve Digital representaram um investimento de 10 milhões de euros, verba comparticipada por fundos públicos e comunitários em 75% e que integrou ainda investimento de entidades públicas locais e regionais.

Na altura da tomada de posse da administração cessante, em julho de 2013, Victor Guerreiro ainda acreditava na viabilidade económica da empresa, que estava dependente dos pagamentos das dívidas das autarquias à empresa, mas apesar de os municípios se terem comprometido a saldar as dívidas, “a grande maioria” não o fez.

A maior parte da faturação da Globalgarve dependia dos serviços prestados aos municípios – no setor da informática e do marketing, entre outros -, que, devido à quebra de receitas, começaram a falhar os pagamentos à empresa, e que foram obrigados por lei a alienar a sua participação.

Victor Guerreiro, que é também presidente da Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL), aproveitou para apelar aos decisores públicos para que não “deixem cair a mais-valia que é a Globalgarve”, que esteve ao serviço da região, e que pertence a “todos os contribuintes”.

Aquele responsável sublinhou ainda que a posição pública da administração relativamente à insolvência da empresa só foi tomada hoje (quatro meses depois da declaração judicial de insolvência) porque a administração “estava convencida” de que ainda era possível aos antigos acionistas adquirirem a rede de fibra ótica ao gestor de insolvência.

Victor Guerreiro assumiu a presidência da Globalgarve em julho de 2013, quando a ACRAL, a que também preside, ficou com a gestão da empresa.

Na conferência de imprensa de hoje intervieram ainda João Calçada Correia e Carlos Luís, da Confederação de Empresários do Algarve (CEAL), ambos membros da administração cessante.

Criada sob a tutela do então ministro João Cravinho, a Globalgarve tinha, em janeiro de 2009, 56 acionistas, nomeadamente as autarquias algarvias e dezenas de associações do Algarve.

Nos últimos dez anos a empresa focou-se essencialmente no projeto Algarve Digital.