© Samuel Mendonça
© Samuel Mendonça

O antigo ministro da Educação e atual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian considera que “a Europa está numa situação muito difícil sem saber para onde vai e sem capacidade política para sair desta crise”.

Marçal Grilo diz que “a União Europeia parece mal apetrechada para resolver todas as questões que se levantam”. “São tempos em que o mundo, a Europa e Portugal têm algumas grandes questões pela frente, porque são, sobretudo, tempos de incerteza, de dúvidas e de alguma falta de esperança”, advertiu o orador na palestra que proferiu na sexta-feira no Colégio de Nossa Senhora do Alto, considerando que “a Europa não tem lideranças políticas particularmente fortes, com exceção da chanceler alemã”.

Considerando que estes “tempos de grandes desafios” são “tempos sem valores e, sobretudo, sem o sentido da ética e sem o respeito pelos outros”, Grilo disse que “Wall Street parece ter mais poder do que Washington DC”.

Referindo-se concretamente à situação em Portugal que considerou “muito complexa”, o orador lamentou na política o “desentendimento evidente” entre “forças políticas que têm o dever e a obrigação patriótica de dialogar e encontrar soluções”.

“No sector financeiro, onde ainda estamos longe da estabilidade e da robustez necessárias e onde a dívida externa é um fator que condiciona o nosso desenvolvimento, estamos longe de poder dizer que temos um sector (sobretudo o sector bancário) robusto. Na economia, onde se conseguiu atingir o equilíbrio da balança de transações, bens e serviços, atingimos um equilíbrio que é ainda muito frágil”, complementou.

Marçal Grilo lamentou a “taxa de desemprego elevadíssima” no sector social que “afeta centenas de milhares de pessoas”. “Somos um país empobrecido sem grandes recursos naturais, a não ser o mar e os recursos humanos e talvez o gás aqui no Algarve. Atravessamos uma crise que ameaça prolongar-se, temos uma população globalmente pouco instruída. Somos um país frágil, sem grandes instituições e sem grandes referências”, lamentou.

O ex-governante admitiu, contudo, haver “sinais de esperança”. “A crise está a fazer despertar potencialidades que pareciam desaparecidas no país. Os cidadãos começaram a perceber que o Estado não lhes resolve os problemas e têm que encontrar, por eles próprios, soluções adequadas. As redes institucionais começam a ser mais ativas”, destacou, considerando começar a “haver uma grande preocupação com temas como a pobreza, a intolerância ou o ambiente”. “As famílias começaram a perceber que estudar e saber são fatores decisivos para a realização dos seus filhos”, complementou, advertindo que, pela primeira vez, poderá existir uma “décalage” de, “em vez dos filhos viverem melhor que os pais, se inverter o processo e os filhos passarem a viver pior que os pais”.