Tribunal_portimaoA médica ginecologista acusada de homicídio por negligência negou ontem no Tribunal de Portimão que tivesse atuado fora dos procedimentos durante a intervenção cirúrgica que causou a morte de uma mulher, em 2011.

O caso remonta a abril de 2011, quando a vítima, uma mulher de 27 anos, enfermeira, aceitou a sugestão da médica de se submeter a uma cirurgia aos ovários para poder engravidar, no Hospital Particular do Algarve, em Alvor.

De acordo com o despacho de pronúncia, a morte de Vera Alves ocorreu por “negligência” da arguida durante a cirurgia, ao, alegadamente, não proceder com o cuidado a que, “segundo as circunstâncias, estava obrigada e era capaz”.

Segundo a pronúncia, o procedimento da médica terá provocado uma “hemorragia intra-abdominal e laceração do fígado”, que estiveram na origem da morte de Vera Alves.

Na primeira sessão do julgamento, a arguida assegurou que efetuou “todos os procedimentos habituais para a cirurgia em causa”, alegando que se tratou de “um acidente, decorrente dos riscos que uma intervenção cirúrgica envolve”.

A médica ginecologista, Madlen Youssif Benun, contou ao tribunal que durante o ato cirúrgico e após constatar uma hemorragia e sem conseguir detetar a origem, procedeu segundo “os conhecimentos enquanto cirurgiã obstetra, até à chegada de um cirurgião geral que detetou uma perfuração da artéria aorta abdominal.

Segundo a arguida, na altura chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Particular do Algarve, em Alvor, a intervenção cirúrgica “era considerada de baixo risco”, não havendo justificação para que fosse assistida por outro colega da especialidade.

Durante a primeira sessão do julgamento no Tribunal de Portimão, foram também ouvidos os três médicos que acabaram por intervir no processo cirúrgico, considerando que a médica Madlen Benun “atuou de acordo com os procedimentos normais para a situação”.

Contudo, registaram-se algumas contradições nos depoimentos de dois dos clínicos, em relação à forma como foi detetada a hemorragia.

O médico obstetra do Hospital Particular do Algarve, Eduardo Rita, o primeiro a acorrer à chamada da médica, disse ao tribunal que “pouco depois da sua entrada no bloco, detetou a perfuração, quase impercetível na artéria aorta abdominal, mas que não tinha conhecimentos para proceder à sua sutura”, tendo que aguardar pela chegada de um cirurgião geral.

No entanto, o cirurgião Gata Gonçalves, que chegou cerca de 25 minutos depois, acabou por contrariar Eduardo Rita, ao afirmar que quando chegou ao bloco operatório se deparou com uma situação “brutal” de uma “hemorragia abdominal grave” que não tinha sido detetada, o que só foi conseguido após algum tempo.

O cirurgião Gata Gonçalves atribuiu ainda as lesões no fígado e nas artérias ilíacas, que constam do relatório da autópsia, “aos procedimentos de emergência efetuados para tentar detetar e estancar a hemorragia”.

O clínico disse ainda que as intervenções cirúrgicas, independentemente do seu grau de complexidade devem ser realizadas por equipas compostas por dois cirurgiões, de acordo com as recomendações da Ordem dos Médicos.

O julgamento prosseguiu hoje no 1.º Juízo do Tribunal de Família e Menores e de Comarca de Portimão.