Depois da edição inaugural realizada no concelho de Alcoutim, de 2020 a 2023, a segunda edição da ‘Missão País’ de estudantes da Universidade do Algarve (UAlg) rumou desta feita a Paderne.

A semana de voluntariado missionário, realizada de 27 de janeiro a 04 de fevereiro, contou com 39 participantes, 31 raparigas e oito rapazes, incluindo estudantes de outras universidades como as de Coimbra, Lisboa ou Beja.

Uma das que veio de fora foi Sofia Rosinha, estudante da licenciatura em Terapia Ocupacional no Instituto Politécnico de Beja. Aquela jovem, residente em Vila Viçosa, que participou pela primeira vez na ‘Missão País’, explica que se inscreveu colocando como primeira opção fazer a experiência de voluntariado em Beja, em segundo lugar em Évora e como última escolha no Algarve. “Fiquei muito feliz porque acho que Deus faz tudo no tempo certo e se Ele me enviou para o Algarve é porque eu tinha de vir para o Algarve. E ainda bem que vim”, testemunhou à reportagem do Folha do Domingo.
Pertencente à paróquia de São Bartolomeu de Vila Viçosa, na vizinha Diocese de Beja, aquela jovem contou ter uma “ligação à Igreja muito forte”, mas realçou que participar naquela experiência foi “muito transformador”. “Está a ser tão incrível, tão bom e tão especial. Parece que é um sonho. Saber que está a acabar e que vamos ter de ir para o choque da realidade está a assustar um bocadinho. É uma experiência fora do normal que já me fez crescer e que, quando sair daqui para o pós-missão, com a reflexão e todas as memórias que vou levar das pessoas, me fará crescer ainda mais. Muitas bases que aqui adquiri vou levar para a vida”, testemunhou.

Outra das que não pertencem à UAlg e que viveu a experiência pela primeira vez foi Camila Gonçalves, estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, licenciada em Teatro, mas a realizar o mestrado em Escrita Criativa. “A missão ser feita num sítio longe, que não conheço e onde nunca estive, é mais impactante do que ser perto da minha casa”, considerou.
Aquela paroquiana da paróquia de São Pedro na Cova Gala, Figueira da Foz, na Diocese de Coimbra – que contou ter feito o “percurso normal” de caminhada cristã, inicialmente pela mão dos pais, ambos católicos – disse não ter uma função específica na sua comunidade. “Se é preciso ler, leio, canto e o meu pai prepara as músicas”, referiu, explicando que o pai “sempre cantou nas missas” e “o preparar das músicas, no sábado à noite, sempre foi uma rotina em casa”.
Por outro lado, Camila constatou que a sua paróquia está “bastante envelhecida e há poucos jovens” e, por ser uma comunidade piscatória, tem algumas particularidades. “Sinto que as pessoas de perto do mar têm uma vivência religiosa um bocado diferente das pessoas do interior. São mais as mulheres que vão à igreja. O marido vai ao mar”, observou.
Aquela missionária que integrou a comunidade do teatro, contou que a equipa era “extraordinária”. “Parece que fomos escolhidos a dedo até para as personagens que temos na peça”, referiu, acrescentando: “foi muito interessante para mim, que já venho do ramo artístico, perceber a verdadeira conexão entre a fé e a arte, que estão intrinsecamente ligadas. Claramente quem criou a missão já sabia isto porque incluiu a vertente do teatro, mas para mim foi muito bonito e fico mesmo muito feliz de cada vez me aperceber mais disso. E quero que as pessoas à minha volta se apercebam também que a arte leva a Deus e que Deus faz com que possamos criar melhor arte”.
Camila Gonçalves disse estar “muito interessada em conhecer congregações” que trabalhem nesse âmbito do artístico-religioso.


Quem também realizou pela primeira vez a ‘Missão País’ foi o algarvio Tomás Silva. Aquele estudante da licenciatura de Gestão da UAlg, que foi chefe de oração, disse que, apesar de ter a intenção de se inscrever porque sempre ouviu “falar muito bem do projeto”, o convite dos chefes gerais Fábio Guerreiro e da Mafalda Gato surgiu primeiro.
“Tem sido muito bom, apesar das dificuldades que, por vezes, aparecem. Temos conseguido fazer tudo de maneira que seja uma boa experiência para os missionários”, referiu, considerando a ‘Missão País’ “muito diferente” de outros projetos de voluntariado. “A maneira como as coisas funcionam é muito diferente de tudo o que possa ter experimentado antes. Temos esta sensação de querer sair daqui para continuar a ser missionário, esperando que possamos ser acolhidos nas nossas comunidades como tal”, observou aquele membro da comunidade de São Paulo da paróquia de São Pedro de Faro.

Os chefes gerais, que realizaram a sua primeira ‘Missão País’ em 2022, explicaram que este ano houve um “aumento bastante significativo no número de inscrições”. “Tivemos 138 inscritos, contudo só puderam participar mesmo estes 39, o que é uma pena”, referiu Fábio Guerreiro, justificando que muitos não puderam participar por coincidir com semana de exames. “Anteriormente fazíamos sempre na primeira semana de aulas, mas sentimos que a proporção de pessoas que deixam de participar acaba por ser semelhante”, sustentou, explicando que naquela semana também muitos não podem participar por implicar perderem aulas.
Mafalda Gato admitiu, no entanto, que os estudantes com “espírito missionário” acabam por ter na ‘Missão País’ uma “motivação extra” para serem “mais bem-sucedidos” e prescindirem dos exames. “Quem já está à espera da próxima edição esforça-se um pouquinho mais para garantir esta semana reservada para a missão”, afirmou.

Os chefes gerais garantem que o balanço da semana – que teve início com uma celebração “muito simples e despojada” no “espírito de missão” numa antiga capela do Castelo de Paderne, na qual foram entregues aos missionários os ‘kits’ constituídos pela camisola, a cruz, o caderno e uma publicação com as intervenções do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa – foi “muito positivo”.

Relativamente a Alcoutim, Fábio e Mafalda constataram que a logística foi mais simplificada. “Aqui em Paderne temos uma comunidade maior com tudo perto, o que acaba por ser perfeito para nós porque diminui muito os problemas logísticos como o de termos de ir de autocarro para outra comunidade”, concretizou Fábio. Mafalda disse que, em relação à doação de alimentos, houve “quase uma competição entre pessoas e famílias para ver quem dá mais, quem faz mais e quem agrada mais”.
Aquela responsável adiantou que este foi o último ano em que a missão dos estudantes da UAlg pertenceu à secção “expansão”, passando no próximo ano a integrar a zona “sul” da organização nacional da ‘Missão País’, o que vê como um sinal da consolidação do projeto na região algarvia.

A semana de voluntariado voltou a contar com a assistência do padre António de Freitas, da Diocese do Algarve, e teve também a participação do seminarista Bruno Valente.
A ‘Missão País’ tem este ano como lema ‘Lança as redes e encontrarás!’ e conta com 69 projetos de voluntariado em 57 faculdades diferentes, envolvendo quase 4.000 universitários.
No caso do Algarve, a região acolherá ainda a missão da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa em Boliqueime, para cumprir, de 17 a 24 de fevereiro, o último ano do triénio.
A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou com estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, com 20 jovens, em 2003, e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.