Estando a decorrer a 58ª Semana de Oração pelas Vocações (de 18 a 25 de abril), D. Francisco Senra Coelho, durante a sua passagem por Loulé, nas celebrações da festa Grande em honra da Mãe Soberana, considerou importante realizar uma reflexão sobre a formação dos futuros sacerdotes e sobre as dificuldades que hoje se colocam a essa realidade.
«Os jovens que vão para o Seminário são iguais aos outros jovens que vão para a escola», referiu e salientou que esta «passa por uma crise muito acentuada e é da escola que vêm os alunos para a Teologia». Do mesmo modo, a vida familiar também enfrenta dificuldades que devem ser tidas em conta. «É um desafio grande que a Igreja está a enfrentar», destacou, elogiando o papel do Seminário de S. José, de Faro, que dá «um grande contributo», acolhendo o «Seminário Propedêutico, para onde nós enviamos os nossos alunos para se prepararem para a Teologia (aqui ficam um ano; depois fazem seis anos de Filosofia e Teologia e mais um de estágio)».
O que a Igreja precisa, na perspetiva do Arcebispo de Évora, é de sacerdotes «seguros na Fé, muito abertos no diálogo» e capazes de «salvar sempre o ser humano». «Não há nenhum ser humano perdido; é sempre possível dar-lhe a mão e é esta força que nós temos de ter também dentro da Igreja», evidenciou D. Francisco Senra Coelho, sendo, do seu ponto de vista, da maior importância, «não nos fecharmos, colaborarmos com todos, termos evidentemente a nossa identidade bem aferida», sobretudo num tempo em que as comunidades cristãs são «às vezes um pedaço anémicas, envelhecidas». Há necessidade de rejuvenescimento na Igreja, segundo o prelado e de «famílias que acordem para os grandes valores cristãos». O Arcebispo de Évora apelou, mesmo a que «os pais não se distraiam com futilidades banais, que são muitas vezes urgentes, mas que não são essenciais».
Essa crise que se sente, segundo o prelado eborense, acaba por se manifestar num «certo radicalismo que surge no nosso tempo, até dentro da Igreja Católica e de outras Igrejas cristãs, uma espécie de um regresso ou um certo retrocesso histórico, um saudosismo», que, considera, resulta «das inseguranças que o futuro nos coloca». «É sempre mais fácil agarrarmo-nos ao passado como uma espécie de âncora», diz, «mas isso não resolve nada, porque o mundo não anda para trás». E reforça: «O mundo nunca mais vai entender latim, nem vai celebrar missas em latim; o mundo nunca mais vai ser um mundo sem o contributo digital; o mundo anda para a frente». E se há «declives, precipícios e retrocessos civilizacionais», há, igualmente, a necessidade de seguir por «uma estrada que é para a frente, com coragem, de mãos dadas e em trabalho em rede, com todo o homem de boa vontade», volta a reforçar.
Os últimos Papas têm dado, na visão do Arcebispo de Évora, grandes sinais sobre esse caminho que a Igreja deve trilhar: «O Papa Pulo VI gritou, em Fátima, no ano de 1967: “Homens sede Homens”. João Paulo II disse, com muita clareza, que o caminho mais direto para Deus é o Homem. O Papa Bento XVI foi muito claro, quando nos mostrou em Fátima, na sua visita, que esta não estava esgotada. E afinal, o que é Fátima, senão a ternura de três crianças na atenção e na dedicação de Maria, que lhes vem ensinar a semear a humanização no mundo, para que não haja guerra, para que haja paz? E o Papa Francisco é incansável! Os gestos que ele faz! O Papa Francisco ouve-se mais com os olhos, do que com os ouvidos. Ele fala mais em sinais, do que com palavras!».
Por isso, temas como o diálogo inter-religioso e a humanização ganham uma nova importância na formação dos cristãos e, em particular, dos sacerdotes, na visão de D. Francisco Senra Coelho. «Os Seminários têm de ser essa escola de humanização, têm de formar peritos em Humanidade», afirma. «Não podem formar pessoas fora do mundo, em bolhas de realidade que, digamos, são as comunidades cristãs, que normalmente são minoritárias. Têm de fazer uma formação muito aberta ao mundo e, ao mesmo tempo, com uma mundovisão de diálogo, de abertura, de compreender, com muita clareza, que têm de ouvir, escutar», reforça com grande ênfase, concluindo: «Jesus Cristo foi entendido por ter sido profundamente humano», menciona. «Foi tão humano, tão humano, que as pessoas disseram: – “Ele tem de ser Deus”! Ou seja, Ele é o modelo, o protótipo do Homem, Ele é o primeiro Homem, de onde o Homem foi tirado, para que ao olhar para Ele aprenda a ser Homem. E esta dimensão é aquela que a Igreja, hoje, tem de usar».
Esse caminho no sentido de constituir uma Igreja cada vez mais virada para fora e, simultaneamente, sendo sinal de valores muito fortes, «exige muita segurança de identidade», bem como «uma capacidade de consciência do que somos, para não temer, dialogar seja com quem for, termos a nossa consciência iluminada e a nossa opinião esclarecida».