Mas poderá haver outro Natal ou outros natais diferentes, do verdadeiro Natal, em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, o Verbo Eterno que veio morar entre os homens?

De facto, infelizmente, para muitos, mesmo cristãos, o Natal não passará de uma festa meramente sentimental em que se dão e recebem prendas, esquecendo por completo o maior acontecimento da história da humanidade – o nascimento de Jesus Cristo, Deus que vem ao nosso encontro.

Por isso o Natal não é, nem pode ser identificado com um velho de longas barbas brancas, vestido de vermelho com um saco de brinquedos às costas…
Natal não é, nem pode ser só lautas consoadas, magníficos banquetes, nem um beijo ternurento na imagem do Menino Jesus… Nem pode ser só o presépio, com mais ou menos fantasia e profusão de figuras, algumas até bastante anacrónicas.

E não pode ser só uma árvore enfeitada de luzes e lantejoulas!…

Então pergunta-se: o que é, no fim de contas, o Natal?

Sem dúvida que o Natal é Deus que irrompe na nossa vida, como irrompeu há mais de dois mil anos na História humana para trazer a salvação aos homens de todos os tempos…

Natal é aquele acontecimento inaudito e maravilhoso em que Deus omnipotente nos apareceu e se manifesta na fragilidade de um Menino completamente despojado dos Seus atributos divinos e dependente dos cuidados de Maria e José…

O Senhor da terra e do Céu nasce num estábulo e é reclinado numa manjedoura, sem, qualquer conforto…

É certo que os Anjos cantam as glórias do recém-nascido e que pastores e reis ocorrem a Belém e com fé adoram aquele Menino que reconhecem como o Senhor…

Natal é também ou tem de ser, nos tempos que correm, a lembrança e o interesse por todos os escorraçados da sociedade, como os sem abrigo, os idosos, os oprimidos, os que vivem na pobreza e na miséria…

Natal terá que ser, igualmente, o grito de revolta contra todas as injustiças, contra todos os atropelos à dignidade da pessoa humana…

Natal tem que ser a nosso disponibilidade de serviço a todos os que mais precisam da nossa ajuda quer nas necessidades temporais, quer no conforto espiritual e psicológico.

Natal é estarmos de coração aberto a todos os que nos procuram ou que encontramos nos caminhos da vida e que procuram ajuda para as suas dificuldades, tristezas e desesperos… é vencer as cobardias, os medos e toda a espécie de respeitos humanos na manifestação desassombrada da nossa fé… De facto, não é ou não deve ser para todos nós a maior honra pertencermos a Cristo e militarmos na Igreja por Ele fundada?

Por isso, Natal será e é sempre quando, cada dia, Jesus nasce nesse silencioso e inaudito milagre da eucaristia.

Sim, não podemos esquecer que com e pela acção do Espírito Santo e pelas palavras da consagração, o mesmo Jesus que há dois mil anos nasceu em Belém, nasce nos nossos altares na celebração da Eucaristia.

Por isso podemos concluir: temos Natal todos os dias.

Joaquim Marques Mendes