Tantos de nós vivemos isto: quando chega o dia de Natal, ao sentarmo-nos à mesa de família, recordamos com uma saudade angustiada, aqueles que amámos, que fizeram parte das nossas vidas e que já partiram. Naquele momento, parece-nos que há um vazio, uma ausência infinita, uma perda impossível de superar. Depois, a alegria de tudo o que nos rodeia – os adultos atarefados, as crianças ruidosas, os cheiros familiares, as cores e as luzes, sempre mais intensas nesta quadra – acaba por nos fazer ultrapassar esse momento.

Por um segundo, quase esquecemos que somos cristãos, batizados e que o sentido maior da nossa Fé é acreditar na verdadeira ressurreição, na partida para uma vida eterna e melhor, onde junto do Pai teremos uma morada onde a luz nunca se apagará e a esperança será sempre uma certeza.

É por isso que em novembro, com o Dia de Todos os Santos e o Dia dos Fiéis Defuntos deveremos iniciar a celebração do nosso Natal, um Natal que envolve os que já partiram, mas que continuarão sempre a fazer parte das nossas vidas.

Os Anglo-saxónicos têm uma tradição que os faz precisamente caminhar nesse ritmo celebratório: a criação de uma Árvore da Esperança ou da Memória, que é colocada na Igreja e na qual os fiéis são convidados a colocar lembranças dos seus entes queridos ou orações em sua memória. Recordam-se os que partiram ao longo desse ano, mas também todos os outros.

Ao longo de um mês, as várias comunidades reúnem-se em torno dessa árvore, ou seja, honram a sua memória coletiva. Tornam presentes as qualidades, as emoções, as histórias daqueles que continuam a fazer parte dessas suas comunidades, mas noutra dimensão. É bonito de se ver: deixamos de pensar nos mortos como tal, mas como pessoas que estão eternamente vivas, sempre presentes em nós e nas nossas existências. Integramos as memórias no nosso quotidiano e entendemos, melhor que nunca, que ser santo é ser aquilo que Deus pede a cada um de nós e que todos somos chamados a esse caminho de partilha e de justificação da nossa Fé.

Este ano, em Tavira, há também uma Árvore da Esperança ou da Memória. Aos poucos, tem-se vindo a encher de pequenos papelinhos, com orações, fotografias, memórias… De repente, em todas as eucaristias estamos a rezar e a partilhar o pão com aqueles que tanto amámos e que já não nos parecem tão longe. Em verdadeira alegria, a nossa mesa maior, aquela onde partimos o pão consagrado e transfigurado no Corpo e Sangue de Cristo, é a nossa mesa de Natal, a mesa dos nossos afetos. Compreendemos que ser comunidade, que estar em comunhão é isso mesmo: partilhar, ali, diante de Jesus, o amor, o verdadeiro e eterno amor, que nos faz a todos presentes.