As tardes de oração, promovidas pelo Cabido da catedral de Faro ao longo dos domingos da presente Quaresma, concluíram-se no passado dia 26 de março com a celebração orientada pelos membros do Movimento dos Focolares.

A iniciativa na Sé de Faro, presidida pelo bispo do Algarve, foi vivida “à luz da espiritualidade da unidade” promovida pelo movimento focolarino, fundado por Chiara Lubich. “Unidade não significa uniformidade, mas respeito pela diversidade e o reconhecimento de que é possível fazer de muitos, na sua originalidade, uma só família”, advertiu D. Manuel Quintas, acrescentando: “sabemos como é fundamental e essencial construirmos esta unidade porque é uma condição para que o mundo acredite que Jesus é o filho de Deus”.

Lembrando que, “no carisma de Chiara Lubich todos os caminhos vão dar à unidade”, o bispo diocesano recordou que “o Focolar é uma pequena comunidade com um estilo de vida que tem como modelo a família de Nazaré”. “É constituído por leigos, consagrados, homens e mulheres, pessoas casadas, que na própria família se doam totalmente a Deus. O principal compromisso dos membros é viver com radicalismo o amor recíproco e assumirem nas suas vidas a construção da unidade”, desenvolveu.

D. Manuel Quintas considerou que se trata de “tornar vivo e atuante hoje na Igreja e no mundo o pedido que Jesus fez aos seus discípulos e que Chiara assumiu como ideal da sua vida e legou em testamento a outros que seguem este mesmo ideal: o carisma da Obra de Maria que se exprime na Igreja de muitos modos”. “Hoje somos levados a reviver aquilo que motivou esta mulher, jovem ainda, de 23 anos em plena Segunda Guerra Mundial. Chiara Lubich com mais algumas companheiras deixaram-se tocar pelo evangelho, levaram o evangelho a sério. Aquele foi o texto das suas vidas, pelo qual se abriram a este carisma, a este dom que Deus lhes concedeu”, prosseguiu, lembrando que essa decisão “havia de transformar-se numa poderosa revolução social capaz de tudo incendiar à sua volta num fogo inextinguível, fogo que viria a dar origem à Obra de Maria e ao Movimento dos Focolares”.

D. Manuel Quintas considerou que “a Obra de Maria pode ser comparada a uma árvore com um só tronco, para exprimir a unidade e a comunhão, mas com muitos ramos”, lembrando as inúmeras expressões que constituem o movimento. “Esta obra, que alcançou uma difusão mundial, está presente praticamente em 200 países, com mais de 2 milhões de membros”, acrescentou, considerando que “do acolhimento da Palavra de Deus por esta mulher houve uma explosão de amor, de vida, verdadeira manifestação do Espírito Santo como se de uma manhã de Pentecostes se tratasse”.


O bispo do Algarve disse que Chiara se tornou “apostola e testemunha da unidade e da comunhão na Igreja, edificada e vivida em cada comunidade, em cada família, em cada cristão” como “meio eficaz de diálogo e de aproximação de povos, de culturas, de religiões e, simultaneamente, de luta contra todas as formas da pobreza no mundo”. “Possamos nós também seguir o exemplo de Chiara Lubich. A Diocese do Algarve quer continuar a sentir-se privilegiada com a vossa presença e o que mais desejo é que esta nossa Igreja diocesana continue a ser enriquecida com o vosso testemunho, de modo a perpetuar no tempo o carisma de Chiara Lubich que continua a ser profundamente atual”, concluiu.

Na celebração, concelebrada pelos cónegos Mário de Sousa e Rui Barros Guerreiro, respetivamente deão e pelo arcediago do Cabido da catedral, lembrou-se que o ideal focolarino “nasceu da completa e múltipla devastação”, “diante da destruição provocada pelo ódio”. “Foi assim que começou a história do Movimento dos Focolares e é sempre importante voltar às raízes para entender quem somos chamados a ser hoje”, referiu-se a partir do relato da fundadora. “Escolhemos este texto de Chiara Lubich porque vivemos uma época de tribulações, cheias de ameaças planetárias e desnorteamento pessoal. Também hoje, somos desafiados a viver o amor a Deus e ao próximo na vida concreta de cada dia”, acrescentou-se.


A oração ficou ainda marcada pelos testemunhos de diferentes membros do movimento que foram convidados a partilhá-los. Duas crianças testemunharam a ajuda prestada a outras crianças. Maria Adília, membro do movimento há cerca de 40 anos, disse ter aprendido a “aceitar as pessoas como são”. O casal Helena Boavida e José Manuel testemunhou o que significa promover em família um “clima de entreajuda, disponibilidade, amor e paz”, mas também no trabalho. Mariana Piteira Santos relatou a experiência de 25 anos de serviço na pastoral sóciocaritativa na assistência, com o apoio do marido e de muitos outros colaboradores, a “pessoas idosas com fraco rendimento e pensões baixas ou desempregados” e, ultimamente, a “muitos imigrantes, refugiados de guerra”.