O bispo do Algarve referiu-se hoje, na Eucaristia da solenidade da Páscoa, a que presidiu na Sé de Faro, ao “mundo cheio de perplexidades” que “perturbam, que criam desconforto e, até possivelmente, alguma ansiedade e interrogação em relação a um futuro próximo, que já é presente”.




“As guerras que prosseguem, ainda que lhe chamem outros nomes como «operação especial» mas que, na realidade, está a provocar várias dezenas de milhares de mortos; a guerra em Gaza continua igualmente com números alarmantes de mortes, nomeadamente de crianças. É assustadora esta situação. Assistimos a crueldades inqualificáveis e intermináveis; mais recentemente falamos em guerra das tarifas, em guerra comercial… tudo isto nos sugere desnorte, falta de bom senso de quem preside ou pretende presidir ao destino dos povos e nações”, criticou D. Manuel Quintas, referindo-se aos conflitos militares na Ucrânia e em Israel, bem como às novas taxas decretadas pelo Governo norte-americano.




Considerando que “os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados ao desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem”, o bispo diocesano centrou a sua reflexão apoiado na quarta encíclica do pontificado do Papa Francisco, ‘Dilexit nos’ (amou-nos).




D. Manuel Quintas referiu que o Papa constata ser “necessário voltar a falar do coração”. “Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de se unir e pacificar, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração”, referiu, citando Francisco na alusão à importância de se recorrer ao “coração de Cristo”. “É nesse coração que nos reconhecemos e aprendemos a amar”, sustentou.





D. Manuel Quintas exortou assim os diocesanos à “esperança, alegria e ao testemunho de Cristo vivo” como “frutos da sua ressurreição”. “Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte inesgotável da nossa esperança, uma esperança que não engana. A sua ressurreição não é algo do passado. É uma força sem igual em cada dia. Onde parece que tudo morre, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição”, referiu, apelando aos cristãos que professem “com renovada convicção” a sua fé em Cristo Ressuscitado. “Deixemo-nos iluminar pela luz que brota da sua Ressurreição, e anunciemos a todos a mensagem de amor, de vida nova, de alegria e esperança que Ele trouxe ao mundo, e da qual nos faz suas testemunhas”, pediu na celebração, em que lembrou: “a fé é o elemento essencial para celebrar a Páscoa e, sobretudo, para nos deixarmos envolver por aquilo que significou a ressurreição de Jesus e que significará a nossa própria ressurreição”.





Na última noite, o bispo do Algarve presidiu à Vigília Pascal, que lembrou ser “a mãe de todas as vigílias, verdadeiro coração da liturgia cristã e centro do ano litúrgico”. A celebração teve início com a liturgia da luz que consiste na bênção do fogo, na preparação e acendimento do círio pascal no lume novo (símbolos da luz da Páscoa que é Cristo, luz do mundo), seguindo-se a entrada na catedral às escuras que foi sendo iluminada pela chama do luzeiro.





Na noite de Sábado Santo para Domingo de Páscoa, em que os cristãos celebram o acontecimento mais importante da sua fé – a ressurreição de Jesus Cristo – que a fundamenta e lhe dá sentido, bem como a tudo o que dela e nela se inspira, a Igreja convida os seus filhos a reunirem-se em vigília e oração para aguardarem a ressurreição de Cristo e celebrarem-na nos sacramentos. O bispo do Algarve batizou seis adultos e manifestou a sua alegria pelos cerca de 40 que na última noite receberam em toda a diocese os sacramentos de iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia. “Damos graças a Deus por cada um deles, bem como pelos seus párocos, catequistas e comunidades, que os prepararam e acompanharam no caminho do catecumenado”, afirmou.





Para além da liturgia da luz ou “lucernário”, a Vigília Pascal conta ainda com mais três partes – a liturgia da palavra, a liturgia batismal e a liturgia eucarística – que D. Manuel Quintas também fez questão de referenciar. Após a proclamação do precónio pascal, a liturgia da Palavra compôs-se das sete leituras do Antigo Testamento que recordam a história da salvação e das duas do Novo Testamento. A liturgia batismal teve início com o canto da ladainha dos santos, a bênção da água (o outro símbolo da noite) e a aspersão de toda a assembleia com a água benta depois da renovação das promessas batismais e da oração universal.
















com Guilherme Bacôco