Chama-se André Fonseca, tem 23 anos, é natural de Portimão e este ano decidiu entrar no Seminário da Diocese do Algarve muito por causa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa.
“Se não tivesse participado na JMJ, se calhar não tinha vindo este ano para o Seminário. Acho que iria acabar por acontecer, mas, se calhar, não tinha sido tão rápido”, testemunha o novo seminarista, reconhecendo que a participação no encontro com o Papa, o primeiro em que participou, teve peso na decisão de entrar no Seminário.
“Na adoração ao Santíssimo [Sacramento] no Parque Tejo, senti alguma coisa que nem sequer compreendi bem naquela altura, mas que depois de voltar, durante uma semana, começou a construir-se”, conta, explicando que passou os dias seguintes a pesquisar podcasts sobre “vida no seminário” e “o que faz um padre”, bem como dicas de “como é que se faz para ouvir a voz de Deus”. “Foi uma pesquisa intensiva”, reforça.
André inscreveu-se na JMJ como peregrino com um grupo de amigos que ficou alojado na casa de um deles na capital do país. “Estivemos um bocado independentes e, a determinada altura, sentimos que não estávamos a aproveitar tudo o que nos estava a ser oferecido”, conta, explicando que chegar ao Parque Tejo entrou completamente na JMJ.
A inclinação a entrar no Seminário já vinha pairando na sua mente há algum tempo. “Na ‘Missão País’ foi a primeira vez que comecei a levar a sério essa possibilidade”, confessa o jovem que participou no grupo de estudantes da Universidade do Algarve que realizou este ano, de 4 a 12 de fevereiro, aquela experiência de voluntariado missionário no concelho de Alcoutim. “A possibilidade vinha-me, às vezes, à cabeça, mas na ‘Missão País’ foi a primeira vez que pensei que era mesmo uma possibilidade séria”, sustenta.
Depois de a possibilidade de vir a ser sacerdote se afigurar como séria, André Fonseca permaneceu “um pouco divido” diante da hipótese de seguir para o Seminário da sua diocese ou integrar a Companhia de Jesus. “Depois da ‘Missão País’ estive a pesquisar sobre Santo Inácio de Loyola e os exercícios espirituais e foi uma coisa que me interessou. Sentia que, de alguma maneira, os jesuítas são um pouco diferentes, têm uma visão um pouco diferente da vida”, justificou, acrescentando que o facto de poder ir para qualquer parte do país e a falta de padres no Algarve acabou por pesar a favor da hipótese que escolheu.
Numa altura em que a Diocese do Algarve promove mais uma cadeia de oração ininterrupta, durante 15 dias e 15 noites, ao Santíssimo Sacramento para que surjam padres e religiosos, o seminarista admite que de alguma forma as interpelações diretas feitas pelos sacerdotes aos jovens durante edições passadas do lausperene mexeram consigo. “Ficava ali alguma coisa”, reconhece, acrescentando: “tenho um amigo a quem diziam sempre que iria para padre e eu ficava a pensar se não seria uma mensagem para mim”.
André Fonseca cresceu numa família católica, pertencente parte dela ao Caminho Neocatecumenal. Foi batizado, fez a Primeira Comunhão e recebeu o Crisma. Por exemplo do pai, que era acólito na paróquia da matriz de Portimão, acabou por também desempenhar aquele serviço. Para além de acólito, fez parte do coro e entrou, como Pioneiro (elementos dos 14 aos 18 anos), para o agrupamento de escuteiros da paróquia. Saiu antes de entrar para os Caminheiros, mas regressou nos últimos anos e agora é candidato a dirigente do Corpo Nacional de Escutas.
Em 2019 participou no Convívio Fraterno nº 1385 que diz ter sido ocasião de “amadurecimento da fé”. Na altura em que recebeu o Crisma “não percebia bem certas questões na Igreja, relacionadas mais com a atitude das pessoas que fazem parte dela do que propriamente com Deus”. O Convívio Fraterno ajudou a esclarecer essas dúvidas, reconhece. Essa experiência, a par da ´Missão País’ e da JMJ tiveram um papel de importância na sua caminhada cristã. “Se não tivesse feito o Convívio Fraterno antes, se calhar não tinha vivido a ‘Missão País’ como vivi”, esclarece, acrescentando que, apesar de sempre ter estado na Igreja, o Convívio Fraterno foi especial. “Se calhar, foi a primeira vez em que realmente senti a fé, o contato com Deus”, testemunha.
A indecisão do caminho a seguir fez com que também o seu percurso educativo fosse marcado por várias mudanças. No ensino secundário seguiu a área de ciências. Entretanto, como sempre tocou guitarra, frequentou um curso profissional de instrumentista de jazz. Esteve para rumar a Inglaterra para seguir o ensino académico naquela área. “Na altura pensei: «se não entrar em Inglaterra vou para o Seminário»”, conta. Depois de realizar a prova prática de acesso ficou colocado, mas acabou por não seguir também por causa da pandemia de Covid-19.
Optou por candidatar-se e entrar em Castelo Branco no curso de Música Eletrónica e Produção Musical, mas também não se sentia totalmente realizado e as dúvidas sobre o ingresso no Seminário acompanhavam-no, pese embora nunca tenha pedido acompanhamento espiritual. Nessa altura deu-se até um certo afastamento da Igreja, tendo deixado inclusive de participar na Eucaristia em Castelo Branco.
Cada vez mais confuso sobre o futuro académico, começou a pesquisar sobre Psicologia e deixou a formação em Castelo Branco para tentar ingressar naquele curso na Universidade do Algarve (UAlg). Não conseguiu entrar, mas foi admitido na opção secundária de Ciências da Educação e da Formação na UAlg, que frequentou durante os últimos dois anos. Este ano não se matriculou para entrar no Seminário. “Achava interessantes as disciplinas, mas não estava totalmente convencido”, justifica, acrescentando que resolveu fazer uma experiência no Seminário para perceber se o caminho passa pelo sacerdócio. “Vim para o Seminário a pensar que o caminho será o sacerdócio. Não vim para aqui com o objetivo de entre várias vocações descobrir qual delas é, mas para descobrir se é realmente esta”, garante.