O historiador não é o que sabe, mas o que procura
Hoje, vamos à Vila Adentro. E ao transpor a Porta que foi estudada no n.º 1 desta série, separamos que à nossa esquerda se encontra uma outra Porta em Ferradura que vem do século XI, e que estivera entaipada para mais de um século e meio, (património único do género no Algarve). Será uma porta Almóada, seita muçulmana do Norte de África, fundada por Mohámede bem Turmarte, defensor da doutrina da unidade de Deus, e assim classificada.
Subindo o caminho que nos leva à Sé-Catedral de Faro pela rua que teve o topónimo em ser do Aljube, actualmente do Município, lá havemos de descrever a história contada e escrita por alguns eruditos.
A subida é um breve morro de pedra antiga. Já galgada a meia rampa da velha calçada e desfeita a meia-curva, como se um filme se projectasse na nossa mira: a Catedral surge inesperadamente.
Vai evoluindo na geometria das suas formas de cubos e meia circular das abóbadas de cal, numa alvura imaculada. Desencalhada a nossa visão no aperto dos paços do concelho e dos bispos, rompe-se-nos o olhar numa clareira ampla, fresca de laranjais matizados de verde e ouro dos seus frutos. É a mais bela praça de Faro, quiçá do Algarve, na matriz da sua Catedral e emoldurada de casas menos notáveis, num palácio construído entre os séculos XVI e XVII, em telhados de tesouro, uma marca da arquitectura inspirada dos tempos de marca das navegações continentais, assim como o notável edifício do Seminário, fim século XVIII. A Catedral de Santa Maria é uma visão de culturas, em que lemos (exterior-interior) o registo dos séculos. Alguns estudiosos têm trabalhado nesse mistério que nos vem do início do cristianismo e na implantação do bispado na cidade romana de Faro (Ossónoba).
O primeiro tempo do cristianismo, no império romano, a presença das comunidades cristãs, está confirmada por diversas fontes.(1) Rezam os documentos ser Ossónoba uma cidade centro do cristianismo, após o édito de Milão (313 d.C.), pelo qual o imperador Constantino reconhece o cristianismo como religião oficial do império romano, sendo a cidade principal do Algarve romano, um berço desta religião(2).
Sobre as origens da Catedral de Faro, várias são as opiniões que se constroem, num registo mais credível que incerto. Que, como disse o historiador Oliveira Martins: A história não é profecia, mas um estudo das idades passadas deixa entrever, muitas vezes, as probabilidades futuras.
Foi em Novembro de 1933 que Abel Viana desenterra Ossónoba, como nos deixou publicado o título “Restos de Ossónoba – no Largo da Sé, em Faro”- Em cronologia mais recente temos Pinheiro e Rosa (1976) numa “dúvida”: Não é crível que (Faro) pudesse ter sido Catedral antes do édito de Milão (…) Portanto, só depois se pode pensar na erecção dessa “célebre “ catedral de Ossónoba, que os escritores antigos tanto encarecem.(3) Correia de Azevedo, vem em 1977 reconhecer que a Sé Catedral de Faro – Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 40.361 de 20/10/1955, é o monumento arquitectónico mais representativo de Faro. (4) O padre José Cabrita, em 1985 procura, em todo o rigor, que se considera credível, quando afirma: As origens romanas de Faro e a mais velha Sé de Portugal. Por que me recuso a crer num monumento gótico? Porque seria um anacronismo insustentável. Todos sabem que o Gótico é o desenvolvimento artístico que nasceu na Península Ibérica, do cruzamento do estilo visigótico com o árabe, que deu origem ao Românico, o qual entrou em França com o Cluniacence, depois o Cisterciense, raiz última do Gótico. A minha tese é muito diferente. Afirmo que a actual Sé de Faro é, com as modificações que a vida impôs, a mesma construção romana, erguida no século IV sobre as ruínas do templo pagão e que sempre funcionou como Catedral até à conquista portuguesa.(5) Outros “convidados”, a nova geração das Universidades, gente que entra na ciência da história, como Justino Maciel: A Diocese de Ossónoba: A própria religião cristã, afirmando-se à partida como um fenómeno urbano nesse contexto, não poderia chegar ao campo sem antes se impor no ambiente urbano e deixar-lhe, ao mesmo tempo, as suas marcas indeléveis de vivência do espaço (…) Então os bispos hispânicos(?) que denunciaram Presciliano, em 378,constam o de Ossónoba, Itácio e o de Mérida. Estes bispos agem como grande potenciores rurais(6). Um jovem professor francês, doutorem história, Bruno Léal, na Universidade de La Rochelle (França), vem no seu doutoramento, num apoio às origens da Catedral de Ossónoba, a Faro actual. Fizemos a tradução, incluindo breves referências no meu livro editado sobre o tema “Faro – Romana, Árabe e Cristã -“ Edição 2009. Escreve Leal: De Ossónoba a Faro, uma história em movimento. A igreja do Algarve é uma das mais antigas da Península Ibérica. As fontes permitem reparar que no fim do século III d.C. Ossónoba tinha o seu bispado e era uma das principais cidades do Império romano a receber o cristianismo. Os historiadores discutiram durante os tempos o lugar exacto de Ossónoba. Hoje sabemos a antiga cidade romana está em na actual cidade de Faro(7). Seguindo os documentos, temos Carlos Fabião que diz: Nos inícios do século IV, o bispo cristão de Ossónoba está presente no Concílio de Elvira, o primeiro celebrado na Península Ibérica (…) Nesta precoce manifestação do cristianismo podemos ver mais um indicador do cosmopolitismo mediterrâneo de grande centro urbano algarvio.(8) Manuel F.S. Patrocínio, docente da Universidade de Évora, vem em título “Um país Afortunado”, retiramos: Mesmo que as indicações quanto a Ossónoba não sejam desenvolvidas, estando estas, porém, entre as cidades dignas de nota, de localização fundamental no litoral e em direcção ao oceano, assim se formava a ampla densidade urbana no Sul da Ibéria (…) O mundo anterior já não existia, senão em formalidade, e a história da fundação de Ossónoba continuava debaixo da cidade romana. (9)
Do arquitecto Victor Cantinho vêm registos os testemunhos inscritos nas pedras do Claustro da Sé Catedral de Faro, antes da conquista portuguesa (1249), em caracteres, sem dúvida Moçárabes, os obreiros que foram artífices nos tempos pretéritos, nas mudanças dos tempos (10). O Cónego José Pedro Martins na Celebração da reabertura da Catedral, com dedicação do Novo Altar, deixa o seu testemunho à Catedral intervencionada desde o início do 3.º Milénio, nas palavras ditas e registadas: A actual Catedral de Faro alicerça em edifícios (um templo?) do Forum da Romana Ossónoba. É a igreja de Santa Maria da época visigótica, adaptada para mesquita no período árabe e readaptada de novo a templo cristão, após a conquista de Faro, em 1249(11).
Hoje, homenageamos um Forum de gente que já partiu, e de gente que continua na busca dos conhecimentos esquecidos, nesta, que queremos (se assim o desejarem em pesquisas e estudos, que Faro seja uma cidade monumental), tanto pela sua memória histórica, como construída.
Só entraremos na Sé, no próximo número. Admiremos, por enquanto, a fachada da Catedral, em que sobressai a Torre Moçarabe, (essa gente cristã que vivia entre os Árabes Muçulmanos e tomavam os seus usos e costumes). E que assim existe desde o terramoto de 1755.
Hoje, vamos à Vila Adentro. E ao transpor a Porta que foi estudada no n.º 1 desta série, separamos que à nossa esquerda se encontra uma outra Porta em Ferradura que vem do século XI, e que estivera entaipada para mais de um século e meio, (património único do género no Algarve). Será uma porta Almóada, seita muçulmana do Norte de África, fundada por Mohámede bem Turmarte, defensor da doutrina da unidade de Deus, e assim classificada.
Subindo o caminho que nos leva à Sé-Catedral de Faro pela rua que teve o topónimo em ser do Aljube, actualmente do Município, lá havemos de descrever a história contada e escrita por alguns eruditos.
A subida é um breve morro de pedra antiga. Já galgada a meia rampa da velha calçada e desfeita a meia-curva, como se um filme se projectasse na nossa mira: a Catedral surge inesperadamente.
Vai evoluindo na geometria das suas formas de cubos e meia circular das abóbadas de cal, numa alvura imaculada. Desencalhada a nossa visão no aperto dos paços do concelho e dos bispos, rompe-se-nos o olhar numa clareira ampla, fresca de laranjais matizados de verde e ouro dos seus frutos. É a mais bela praça de Faro, quiçá do Algarve, na matriz da sua Catedral e emoldurada de casas menos notáveis, num palácio construído entre os séculos XVI e XVII, em telhados de tesouro, uma marca da arquitectura inspirada dos tempos de marca das navegações continentais, assim como o notável edifício do Seminário, fim século XVIII. A Catedral de Santa Maria é uma visão de culturas, em que lemos (exterior-interior) o registo dos séculos. Alguns estudiosos têm trabalhado nesse mistério que nos vem do início do cristianismo e na implantação do bispado na cidade romana de Faro (Ossónoba).
O primeiro tempo do cristianismo, no império romano, a presença das comunidades cristãs, está confirmada por diversas fontes.(1) Rezam os documentos ser Ossónoba uma cidade centro do cristianismo, após o édito de Milão (313 d.C.), pelo qual o imperador Constantino reconhece o cristianismo como religião oficial do império romano, sendo a cidade principal do Algarve romano, um berço desta religião(2).
Sobre as origens da Catedral de Faro, várias são as opiniões que se constroem, num registo mais credível que incerto. Que, como disse o historiador Oliveira Martins: A história não é profecia, mas um estudo das idades passadas deixa entrever, muitas vezes, as probabilidades futuras.
Foi em Novembro de 1933 que Abel Viana desenterra Ossónoba, como nos deixou publicado o título “Restos de Ossónoba – no Largo da Sé, em Faro”- Em cronologia mais recente temos Pinheiro e Rosa (1976) numa “dúvida”: Não é crível que (Faro) pudesse ter sido Catedral antes do édito de Milão (…) Portanto, só depois se pode pensar na erecção dessa “célebre “ catedral de Ossónoba, que os escritores antigos tanto encarecem.(3) Correia de Azevedo, vem em 1977 reconhecer que a Sé Catedral de Faro – Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 40.361 de 20/10/1955, é o monumento arquitectónico mais representativo de Faro. (4) O padre José Cabrita, em 1985 procura, em todo o rigor, que se considera credível, quando afirma: As origens romanas de Faro e a mais velha Sé de Portugal. Por que me recuso a crer num monumento gótico? Porque seria um anacronismo insustentável. Todos sabem que o Gótico é o desenvolvimento artístico que nasceu na Península Ibérica, do cruzamento do estilo visigótico com o árabe, que deu origem ao Românico, o qual entrou em França com o Cluniacence, depois o Cisterciense, raiz última do Gótico. A minha tese é muito diferente. Afirmo que a actual Sé de Faro é, com as modificações que a vida impôs, a mesma construção romana, erguida no século IV sobre as ruínas do templo pagão e que sempre funcionou como Catedral até à conquista portuguesa.(5) Outros “convidados”, a nova geração das Universidades, gente que entra na ciência da história, como Justino Maciel: A Diocese de Ossónoba: A própria religião cristã, afirmando-se à partida como um fenómeno urbano nesse contexto, não poderia chegar ao campo sem antes se impor no ambiente urbano e deixar-lhe, ao mesmo tempo, as suas marcas indeléveis de vivência do espaço (…) Então os bispos hispânicos(?) que denunciaram Presciliano, em 378,constam o de Ossónoba, Itácio e o de Mérida. Estes bispos agem como grande potenciores rurais(6). Um jovem professor francês, doutorem história, Bruno Léal, na Universidade de La Rochelle (França), vem no seu doutoramento, num apoio às origens da Catedral de Ossónoba, a Faro actual. Fizemos a tradução, incluindo breves referências no meu livro editado sobre o tema “Faro – Romana, Árabe e Cristã -“ Edição 2009. Escreve Leal: De Ossónoba a Faro, uma história em movimento. A igreja do Algarve é uma das mais antigas da Península Ibérica. As fontes permitem reparar que no fim do século III d.C. Ossónoba tinha o seu bispado e era uma das principais cidades do Império romano a receber o cristianismo. Os historiadores discutiram durante os tempos o lugar exacto de Ossónoba. Hoje sabemos a antiga cidade romana está em na actual cidade de Faro(7). Seguindo os documentos, temos Carlos Fabião que diz: Nos inícios do século IV, o bispo cristão de Ossónoba está presente no Concílio de Elvira, o primeiro celebrado na Península Ibérica (…) Nesta precoce manifestação do cristianismo podemos ver mais um indicador do cosmopolitismo mediterrâneo de grande centro urbano algarvio.(8) Manuel F.S. Patrocínio, docente da Universidade de Évora, vem em título “Um país Afortunado”, retiramos: Mesmo que as indicações quanto a Ossónoba não sejam desenvolvidas, estando estas, porém, entre as cidades dignas de nota, de localização fundamental no litoral e em direcção ao oceano, assim se formava a ampla densidade urbana no Sul da Ibéria (…) O mundo anterior já não existia, senão em formalidade, e a história da fundação de Ossónoba continuava debaixo da cidade romana. (9)
Do arquitecto Victor Cantinho vêm registos os testemunhos inscritos nas pedras do Claustro da Sé Catedral de Faro, antes da conquista portuguesa (1249), em caracteres, sem dúvida Moçárabes, os obreiros que foram artífices nos tempos pretéritos, nas mudanças dos tempos (10). O Cónego José Pedro Martins na Celebração da reabertura da Catedral, com dedicação do Novo Altar, deixa o seu testemunho à Catedral intervencionada desde o início do 3.º Milénio, nas palavras ditas e registadas: A actual Catedral de Faro alicerça em edifícios (um templo?) do Forum da Romana Ossónoba. É a igreja de Santa Maria da época visigótica, adaptada para mesquita no período árabe e readaptada de novo a templo cristão, após a conquista de Faro, em 1249(11).
Hoje, homenageamos um Forum de gente que já partiu, e de gente que continua na busca dos conhecimentos esquecidos, nesta, que queremos (se assim o desejarem em pesquisas e estudos, que Faro seja uma cidade monumental), tanto pela sua memória histórica, como construída.
Só entraremos na Sé, no próximo número. Admiremos, por enquanto, a fachada da Catedral, em que sobressai a Torre Moçarabe, (essa gente cristã que vivia entre os Árabes Muçulmanos e tomavam os seus usos e costumes). E que assim existe desde o terramoto de 1755.
Teodomiro Neto