Temos ouvido, e com certa razão, que nem sempre a verdade objectiva, a realidade dos factos acontecidos se prova nos tribunais dos homens, prevalecendo, muitas vezes, a verdade formalística dos papéis e as tramóias urdidas por advogados e testemunhas que, sem escrúpulos, afirmam ou negam, consoante as conveniências, a veracidade dos acontecimentos.
Até juízes, de grande probidade, podem ser ultrapassados pelos métodos e sistemas que advogados menos honestos e menos conscienciosos utilizam, para conseguirem ludibriar a justiça.
E aí temos nós outros tantos erros de menor monta, digamos assim, mas também sempre de consequências negativas e de prejuízo para a Verdade e, portanto, para a Justiça.
Daí também o gerar-se o descrédito a respeito de algumas instituições onde os verdadeiros valores humanos, a ética e a própria Verdade deveriam prevalecer, em todas as circunstâncias, e quantas vezes, são escamoteados e por isso, aquelas instituições se tornam não só inúteis como até prejudiciais.
Ora, uma vez que, a verdade nem sempre é reconhecida e, proclamada como tal, antes pelo contrário, é a mentira que se sobrepõe à Verdade, então, é bem de ver e perfeitamente admissível, que a própria natureza humana exija, digamos assim, uma instância superior para repor as coisas nos seus devidos lugares, para que a justiça se cumpra, para que resplandeça a Verdade.
Por isso, para corrigir e emendar os tribunais dos homens, nós cremos, admitimos e defendemos o Tribunal (com T grande) de Deus.
Ali, não há, nem pode haver erros judiciais, não existem subterfúgios, distorções, interpretações vesgas das leis, não pode existir a má fé de falsas testemunhas, ali, é a verdade simples e clara.
E na alegria da absolvição ou na tragédia da condenação, nem sequer há hipótese para adiamentos, tudo se verifica, tudo se prova na evidência e não pode haver apelo nem agravo trate-se de quem se tratar, desde o Papa ao mais humilde fiel, desde o Rei ao escravo, desde o nobre ao plebeu, desde o inteligente e sábio ao ignorante, todos, absolutamente todos, são julgados pelo Juiz mais imparcial e único conhecedor até as mais íntimas intenções do coração humano.
Daí que possamos afirmar que alguns daqueles que são absolvidos nos tribunais dos homens, serão condenados no tribunal do Juiz Omnisciente. Outros, porém, condenados nos tribunais deste mundo, serão absolvidos pelo Supremo Juiz que vê e julga não pelas aparências mas pela realidade, pela objectividade dos factos, porque conhece até os pensamentos fundos e escondidos de cada homem.
É esta certeza que nos alenta, de algum modo, apesar de nos desiludirmos cada vez mais, à medida que os anos vão passando, com a justiça deste mundo.
Quantas vezes, no fim de contas, não passa de uma forma fria e formalística de julgar os casos mais ou menos revestidos de coerências forjadas!…
Consola-nos, de alguma maneira, a fé na justiça incorrupta de Deus que tudo irá repor nos seus devidos lugares e cujo veredicto inapelável resulta sempre do conhecimento exacto dos factos, das realidades despidas de toda a ganga de hipocrisia e aferidas pela moral fundamentada na lei divina.
Pois, se não fora esta esperança, quem pudera suportar, tantas vezes, a humilhação de se passar por mentiroso, nos tribunais dos homens, de assistir inerte, às mais diversas maquinações que fazem triunfar a mentira sobre a Verdade?!…
Dói fundo no coração de quem foi educado na verdade, de quem a defende e a proclama, mesmo contra os seus próprios interesses, ver-se desmentido mesmo perante aquelas instituições onde se jura dizer toda a Verdade!…
Mas, por outro lado, sente-se e goza-se aquela paz, aquela tranquilidade de consciência que, de certo, falta sempre nos perjuros.