Em boa verdade, nada disto deveria estar a acontecer. O Sudão deveria continuar a ser um só Estado, tal como hoje a Alemanha é só uma e como se espera que em breve a Coreia também venha a ser uma só. Porém, tal é impossível, pois os governantes de Cartum sentem-se no direito de impor à força e com recurso à violência as suas opções religiosas às populações não islâmicas que são maioritárias a Sul, não respeitando as diferenças, nem tolerando outras crenças que não sejam as suas.
Apesar de a guerra civil ter terminado em 2005 e de todo o empenho da comunidade internacional, nomeadamente do ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, no Sul do Sudão continuam a existir milhares de pessoas em fuga e os combates prosseguem com grande violência, especialmente na Região de Abyei, num último esforço por parte dos árabes-islâmicos que não querem a independência e apostam em dominar e subjugar os cristãos e animistas, ou pelo menos manter Abyei sob a soberania do Norte.
Os agentes do ACNUR no Sudão informaram recentemente que Abyei foi praticamente esvaziada. Um terço das cabanas tradicionais foram queimadas. Outras foram saqueadas e destruídas, ficando sem teto, portas e janelas e alguns camiões carregados de objetos saqueados foram vistos a deixar a cidade. A Região de Abyei situa-se na zona de fronteira entre o Norte e o Sul e tornou-se numa zona disputada devido à sua capacidade de produção de petróleo, razão pela qual o regime de Cartum não quer abrir mão da cidade e tudo faz para a manter no Norte, mesmo contra os acordos internacionais que subscreveu.
Através da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que muito tem apoiado os cristãos do Sudão, chegam-nos pedidos de oração para esta hora difícil. Vamos corresponder, rezando, especialmente nestes dias, pela paz e reconciliação no Sudão, ainda que, lamentavelmente, tal tenha de passar pela divisão em dois Estados separados.
Que São Daniel Comboni, Bispo Missionário que deu a vida pela evangelização da África e morreu no Sudão e Santa Josefina Bakhita, primeira Santa Sudanesa, natural do Darfur, juntamente com o Beato João Paulo II que foi um grande defensor da liberdade religiosa no Sudão, sejam nossos intercessores junto de Deus, pela paz e pela liberdade religiosa para o pobre e martirizado povo do Sudão.