Na sua mensagem para a Quaresma que amanhã começa, o bispo do Algarve destaca que este tempo de preparação para a celebração da Páscoa, marcado pela “guerra que o governo da Rússia moveu contra a Ucrânia”, surge como incentivo a um compromisso pessoal permanente com a paz.

“A Quaresma que estamos a iniciar, com o convite habitual à conversão pessoal e comunitária, rumo à celebração da Páscoa de Cristo, surge como uma oportunidade para revermos o modo como nos situamos, face a todas as formas de agressividade e violência e, simultaneamente, como um incentivo a nos assumirmos como construtores da paz através de um compromisso pessoal permanente”, escreve D. Manuel Quintas no documento intitulado “Felizes os construtores da paz”.

O bispo diocesano lembra que “a paz é efetivamente um bem inestimável, a aspiração mais profunda da pessoa, condição essencial para o progresso e o bem-estar, fonte de segurança e de esperança no futuro”. D. Manuel Quintas recorda os quatro pilares indicados pelo Papa São João XXIII, “na sempre atual encíclica Pacen in terris”, “como condição concreta e essencial para construir a paz e um oportuno instrumento de revisão de vida em tempo quaresmal: a verdade, a justiça, o amor e a liberdade”.

O bispo do Algarve recorre também ao Papa Francisco que, na encíclica Fratelli Tutti, lembra que “a verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia”. D. Manuel refere que a diocese algarvia se une, “com toda a Igreja e toda a humanidade, às intenções e inquietações” do pontífice, “neste tempo que a todos perturba e afeta, sobretudo ao povo ucraniano, que se vê atingido na sua própria casa, não lhe sendo reconhecidos e respeitados os seus direitos mais elementares, a sua identidade, a sua língua, a sua história, a sua cultura, os seus limites geográficos”. “Vamos aderir ao apelo do Papa Francisco e fazer do próximo dia 2 de março, Quarta-Feira de Cinzas, um dia de jejum e de oração pela restauração da paz na Ucrânia e em todas as regiões da terra”, apela, desejando que este “gesto de compromisso pela paz” caraterize todo o caminho quaresmal, como um “tempo de reflexão” sobre a condição humana, de modo a todos se deixem “transformar pelo Espírito”.

Aquele responsável católico anuncia ainda que a renúncia quaresmal dos algarvios reverterá para as dioceses de São Tomé e Príncipe e de Baucau (Timor) e para “apoio ao povo ucraniano acolhendo as propostas da Cáritas Diocesana”.

D. Manuel Quintas escreve que a atual guerra na Ucrânia “viola os princípios mais elementares reguladores das relações internacionais de povos e nações e de defesa da dignidade da pessoa humana”. “Uma guerra que provoca em todos nós sentimentos de perplexidade, consternação e desconforto. Perplexidade pelo fato de acontecer no continente europeu, em pleno século XXI; consternação pelo sofrimento e morte infringidos aos povos envolvidos, particularmente ao povo ucraniano agredido; desconforto pela incapacidade, daqueles que se lhe opõem, em silenciar as armas e impor o seu fim imediato. Uma guerra que confirma a «loucura» e a «insensatez» de todas as guerras e que constitui um verdadeiro retrocesso civilizacional pela destruição e morte que provoca, com consequências, neste momento, ainda imprevisíveis”. lamenta.

D. Manuel Quintas preside amanhã, pelas 21h, à celebração de Quarta-feira de Cinzas na catedral de Faro. A Quaresma é um tempo de 40 dias que se inicia com a celebração das Cinzas, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.