O cónego José Pedro Martins, de 77 anos, completa amanhã, 29 de junho, 50 de sacerdócio.
Natural da freguesia de São Sebastião de Lagos, onde nasceu a 26 de outubro de 1942, José Pedro de Jesus Martins cresceu no seio de uma família católica e foi batizado na paróquia de Santa Maria pelo pároco de então, padre Francisco António Carmo. Aquela paróquia viu-o também ser crismado pelo bispo do Algarve da altura, D. Francisco Rendeiro, e ordenado diácono.
Mas foi na paróquia de São Sebastião que frequentou a catequese e fez a primeira comunhão. O sacerdote explicou ao Folha do Domingo que naquele tempo “havia a preocupação” de que a catequese seguisse um “formato de perseverança”. “Esse formato englobava uma catequese mais fundamentada e também a participação em grupos”, sustentou.
Para além de ter sido catequista, pertenceu então a um grupo da Juventude Operária Católica (JOC), naquele tempo com forte implantação no Algarve, que conta ter marcado a sua juventude e do qual chegou a ser dirigente. “Foi um movimento extraordinário. Aquilo que hoje fazemos em termos de Lectio Divina para mim não é novidade porque a base [da JOC] era sempre a leitura do evangelho e a sua aplicação às realidades da vida. Foi uma boa escola”, testemunha, acrescentando que “a metodologia era atraente” porque “o grupo lia os acontecimentos à luz do evangelho” na reunião semanal e depois organizava “iniciativas várias de ordem social”.
Estudante na Escola Industrial e Comercial de Lagos, foi também convidado a pertencer ao Corpo Nacional de Escutas e esteve igualmente ligado a uma publicação intitulada ‘Fermento’. Foi nessa altura, já com 18 anos, que equacionou a possibilidade de vir a fazer uma experiência no Seminário. O sacerdote explica ter sido influenciado pelo que fazia no contexto da Ação Católica. “Via que aquilo, e muito mais do que aquilo, exigia uma pessoa que continuasse”, contou, referindo que, ao participar em Ferragudo num campo de férias com os seminaristas, falou com D. Francisco Rendeiro.
Conheceu em Lagos os padres José Rosa Simão e Júlio Tropa Mendes.

Em 1961 seguiu diretamente para o Seminário de Almada, juntamente com o falecido cónego algarvio Firmino Ferro, depois de uma viagem de comboio desde o Algarve. “Ficámos sempre muito amigos”, realça, o cónego José Pedro Martins, que também ali foi colega de D. João Marcos, hoje bispo de Beja. Depois de dois anos naquele Seminário, continuou estudos no dos Olivais, onde esteve mais cinco anos.

Tendo concluído, em 1970 com 28 anos, o Curso de Teologia no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Lisboa, foi ordenado diácono no dia 29 de maio, em Lagos, e sacerdote no dia 29 do mês seguinte na Sé de Faro, pelo bispo do Algarve de então. D. Júlio Tavares Rebimbas convidara-o quatro dias antes para concelebrar consigo naquele dia por ocasião das suas bodas de prata sacerdotais. Juntamente com o padre José Pedro Martins foram ordenados dois sub-diáconos, um deles o padre José Águas, também sacerdote da Diocese do Algarve.
Foi depois nomeado prefeito e professor de música, história e português do Seminário de Faro e só celebrou a ‘Missa Nova’ na sua terra natal a 19 de julho. Na mesma semana, o bispo do Algarve pediu-lhe para ir substituir o pároco de Aljezur, Bordeira e Odeceixe até setembro daquele ano.
Foi também nomeado membro do Secretariado Diocesano da Liturgia, Música e Arte Sacra, assistente diocesano da Liga Agrária Católica Feminina (LACF) e do Secretariado da Obra das Vocações. Organizou também uma escola de música na Casa de Retiros em São Lourenço do Palmeiral. Ainda como prefeito do Seminário, o padre Júlio Tropa, que tinha acabado de assumir em 1969 a paróquia de Santa Bárbara de Nexe, chamou a colaborar. Também o padre Manuel Bárbara, pároco da vizinha paróquia de Estoi, fez o mesmo.
Em 1978 concluiu a habilitação própria para lecionar Português e, mais tarde, realizou a profissionalização e o estágio em Olhão para ser professor. Lecionou Português e também Educação Moral e Religiosa Católica, não apenas na Secundária de Olhão, mas também no então Liceu e na Escola Tomás Cabreira, em Faro. Fez ainda parte da comissão diretiva da revista do GEA – Grupo de Estudos Algarvios, com início em abril de 1978.
Frequentou, entretanto, a Faculdade de Letras de Lisboa, onde se licenciou em História, em 1980. Fundou e dirigiu, como primeiro diretor artístico, o Coro do Conservatório Regional do Algarve, onde também lecionou a disciplina de História da Música.
Em 1980 viu o desejo de ser pároco concretizar-se num período em que o Seminário não estava a funcionar por estar em obras. Foi nomeado pároco de Pechão e Quelfes, serviço que manteve até 1983, tendo sido também vigário da vigararia de Faro, e, desde então até ao presente, membro do Conselho Presbiteral. Foi nessa altura que acumulou com a lecionação em Olhão.
Foi também o fundador e primeiro diretor do Coral Ossónoba, em 1980, função que suspendeu em 1983 por ter sido nomeado pároco de Vila Real de Santo António por D. Ernesto Gonçalves Costa, então bispo do Algarve, após a morte do prior daquela paróquia que na altura incluía também a de Monte Gordo, posteriormente desmembrada. A nomeação do bispo diocesano incluía a indicação de ser “animador e coordenador da pastoral na área da vigararia com o encargo de formar uma equipa sacerdotal que, progressivamente”, viesse a “dar uma assistência religiosa mais efetiva às paróquias de Vila Real de Santo António, Castro Marim e Alcoutim”.
Nessa altura, aconteceu simultaneamente o seu regresso ao Seminário de Faro, “porque era preciso reabrir” a instituição após as obras realizadas e D. Ernesto Costa nomeou-o vice-reitor.
Foi moderador da equipa sacerdotal que chegou a constituir-se em 1986, acumulando as paróquias do concelho de Alcoutim e vigário da vara de Tavira de 1987 a 1989. A Câmara de Faro atribui-lhe a medalha da cidade em 1988.
Chegado em 1988 ao Algarve, D. Manuel Madureira Dias manteve-o num primeiro momento como vice-reitor do Seminário diocesano, mas queria o sacerdote em Faro. O novo bispo diocesano nomeou-o em 1989, não só reitor, mas também vigário geral da diocese com jurisdição sobre a pastoral, “considerando a necessidade de imprimir à ação pastoral um ritmo mais eficaz e concertado”. D. Manuel Madureira Dias tinha em mente um plano para aplicação da reforma litúrgica no Algarve, com a consequente reestruturação da pastoral da diocese, e o sacerdote fazia parte desse intuito. Aquela que é a organização atual da diocese resulta desse trabalho.
D. Manuel Madureira Dias pediu-lhe então para frequentar o Curso de Atualização Teológico-Pastoral no Instituto Superior de Pastoral da Universidade Pontifícia de Salamanca que terminou em 1994. Muito trabalho na execução de diversos planos pastorais, bem como a edição de imensos subsídios para a pastoral, resultou dessa estratégia.
“A Igreja do Algarve – uma comunidade fraterna a crescer”, em 1995 e “Diocese do Algarve – Orientações Pastorais e Documentos – I”, em 1996, edições dos Serviços Diocesanos de Pastoral do Algarve são algumas dessas publicações. É também autor de “Liturgia da Celebração da Penitência”, Edições Paulinas, 1974; “Formar para Servir”, obra pioneira destinada à formação de acólitos e publicada em 1987; “A Páscoa do Povo de Deus – apoio à preparação das celebrações pascais”, em 2000; e, ainda nesse mesmo ano “Iniciação das crianças baptizadas em idade de catequese” nºs I e II.
Em 1993 moderou o grupo de língua portuguesa no 45º Congresso Eucarístico Internacional em Sevilha. Como vigário geral foi também administrador da Tipografia União e da Folha do Domingo.
O interesse pela música na vida do cónego José Pedro Martins aconteceu ainda em Lagos, onde chegou a pertencer a um coral da JOC, e prosseguiu nos Seminários com o ensino musical. “Com o padre [António] Cartageno fazia músicas no Seminário dos Olivais”, lembra o sacerdote, contando que aos fins de semana visitavam paróquias onde sentiam que “as pessoas não cantavam ou cantavam algumas coisas que já vinham muito de trás”. “Faltava um bocadinho de renovação, mas também coisas mais cantáveis”, complementa, lembrando que a sua primeira publicação intitulou-se ‘O povo de Deus reunido’, uma “coletânea de cânticos de ambos e de outros cânticos”.
Desde então, um e outro, consagraram-se como dois dos maiores nomes da música litúrgica nacional. O cónego José Pedro Martins tem vários álbuns editados e o seu nome consta mesmo da Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, do Círculo de Leitores, realçando que alguns dos seus cânticos “foram traduzidos e inseridos em coletâneas oficiosas, como o Cantoral Liturgico Nacional de Espanha”. É autor de um grande espólio de música litúrgica com algumas publicações e gravações editadas em Portugal, Espanha, Brasil e Itália. Mas grande parte das suas composições estão divulgadas em folhas avulsas.
Em 1980 foi jurado do Festival RTP da Canção, em representação do Algarve.
Em 1999, um CD intitulado “Os melhores coros da Região – Algarve”, inseriu algumas composições suas e, em 2000 um outro CD com interpretações do Grupo Coral de Lagos, intitulado “Terra Morena”, abre, precisamente, com esta composição de sua autoria. Mais recentemente também o músico Rão Kyao elaborou trabalhos discográficos em que incluiu temas da sua autoria.
Em 1996, D. Manuel Madureira Dias nomeou-o cónego para o Cabido da Sé de Faro de que foi chantre e, desde 2009, é deão.
Em 2003 voltou a ser pároco. D. Manuel Madureira Dias nomeou-o pároco da matriz de Portimão, serviço que manteve até 2009, e vigário episcopal para a Pastoral. Em 2009 voltou a Faro para paroquiar a paróquia da catedral, continuando como Vigário Episcopal e sendo novamente nomeado reitor do Seminário de São José. Em 2017 foi dispensado destes cargos, e nomeado diretor do Arquivo Histórico da Diocese, continuando o exercício das funções de deão do Cabido da Catedral e assumindo a paroquialidade de duas paróquias periféricas da cidade de Faro: Santa Bárbara de Nexe e Estoi.
Em 2017 foi também o responsável pela criação da Escola de Órgão da Catedral de Faro.
Tem muitas publicações dispersas em jornais e revistas sobre variadíssimos assuntos, mormente de temática histórica, musical, litúrgica, pastoral e vocacional e colaborou ainda no I volume da coletânea “Algarve – Tradições musicais”, iniciada em 1995.
Ao Folha do Domingo, o sacerdote manifesta a “alegria” e “consciência de ter correspondido ao imperativo” de Deus como “um servidor”, “sempre desejoso de servir em qualquer parte, circunstância e situação, não olhando a nada de grandezas ou promoções”.
Dadas as atuais circunstâncias, o aniversário da sua ordenação será vivido apenas na missa dominical das 10h deste domingo na paróquia de Santa Bárbara de Nexe. “Como entrei no Seminário em outubro, pensei fazer uma celebração nessa altura”, adianta o sacerdote na esperança de que até lá a situação sanitária provocada pela pandemia de Covid-19 esteja mais normalizada.