“Podeis contar connosco. Não vos sintais sozinhos”. Esta foi a mensagem que o bispo do Algarve quis transmitir ontem à noite aos ucranianos a viver na região, na vigília de oração que juntou algumas centenas de pessoas na igreja matriz de São Pedro.
“Gostaríamos todos que sentísseis o nosso abraço, o nosso afeto, a nossa proximidade e que esta sirva de lenitivo no vosso sofrimento e nas vossas dores”, afirmou D. Manuel Quintas no final da oração do terço que contou com uma numerosa presença da comunidade ucraniana no Algarve.

Naquela iniciativa, promovida pelas paróquias de Faro, o bispo diocesano, lembrando a “força da oração”, referiu-se à “situação dramática” que o mundo atravessa por causa da invasão militar da Rússia à Ucrânia que já dura há cinco dias. “Iniciamos a Quaresma, este ano marcada pela guerra que os governantes da Rússia moveram contra a Ucrânia. Uma guerra que viola os princípios mais elementares reguladores das relações internacionais de povos e nações e de defesa da dignidade da pessoa humana. Uma guerra que provoca em todos nós sentimentos de perplexidade, consternação e desconforto. Perplexidade pelo fato de acontecer no continente europeu, em pleno século XXI; consternação pelo sofrimento e morte infringidos aos povos envolvidos, particularmente ao povo ucraniano agredido; desconforto pela incapacidade, daqueles que se lhe opõem, em silenciar as armas e impor o seu fim imediato”, afirmou.

D. Manuel Quintas lamentou ser “uma guerra que confirma a «loucura» e a «insensatez» de todas as guerras e que constitui um verdadeiro retrocesso civilizacional pela destruição e morte que provoca, com consequências, neste momento, ainda imprevisíveis”. “Unimo-nos, como Diocese do Algarve, com toda a Igreja e toda a humanidade, às intenções e inquietações do Papa Francisco, neste tempo que a todos perturba e afeta, sobretudo ao povo ucraniano, que se vê atingido na sua própria casa, não lhe sendo reconhecidos e respeitados os seus direitos mais elementares, a sua identidade, a sua língua, a sua história, a sua cultura, a sua soberania, os seus limites geográficos”, prosseguiu.

O bispo do Algarve adiantou ainda que a diocese algarvia irá aderir ao apelo do Papa Francisco de fazer de amanhã, 2 de março, Quarta-Feira de Cinzas, “um dia de jejum e de oração pela restauração da paz na Ucrânia e em todas as regiões da terra”.

D. Manuel Quintas informou também que a renúncia quaresmal da Diocese do Algarve este ano, para além de reverter para as Dioceses de São Tomé e Príncipe e Baucau (Timor), apoiará também o povo ucraniano acolhendo as propostas da Cáritas Diocesana. A instituição, a par duma campanha lançada pela Cáritas Portuguesa – Cáritas ajuda Ucrânia – “dispõe-se a apoiar as famílias ucranianas no Algarve, que acolham familiares em suas casas, participando nas despesas de bens de primeira necessidade, tais como medicamentos, água, luz, gás”, divulgou. “Tenhamos presente este ano o nosso apoio à Cáritas diocesana, sobretudo na semana que lhe é dedicada (14 a 21 março), como expressão da nossa proximidade e solidariedade com o povo ucraniano”, pediu.

O sacerdote assistente da comunidade ucraniana no Algarve considerou que “o povo ucraniano está em guerra com o exército mais forte da Europa e talvez do mundo”. “O nosso povo heróico defendendo-se do ataque da Rússia. Estamos protegendo, não apenas a nós mesmos, mas o resto da Europa e todo o mundo civilizado da psicopatia de Putin”, afirmou o padre Oleg Trushko.
“A nossa bandeira azul e amarela tornou-se um símbolo de resistência à tirania. Os nossos soldados são os nossos filhos e esposos que estão a lutar contra o inimigo invasor. Neste momento mais cidades e vilas estão sendo bombardeadas, matando mais civis inocentes. Nós queremos dizer não à guerra. Hoje temos guerra na Ucrânia, amanhã poderá ser no resto da Europa”, concluiu o sacerdote greco-católico, na celebração em que se rezou também pela conversão da Rússia.

Desde quinta-feira, dia do início da invasão militar russa à Ucrânia, várias paróquias algarvias têm realizado oração pela paz naquele país.