
A Igreja do Algarve realizou ontem à tarde quatro encontros para a família, em simultâneo em cada uma das vigararias (circunscrições eclesiásticas das quais fazem parte várias paróquias) que constituem a diocese e que foram participados por mais de um milhar de pessoas.
Realizados no contexto do Programa Pastoral da Diocese do Algarve que neste ano 2013/2014 dá “particular atenção” à Pastoral da Família, procurando responder ao chamamento implícito no seu lema – “Chamados ao Amor” – em três particulares “dimensões vivenciais” – “o amor celebrado na comunidade, o amor vivido na família e o amor testemunhado no mundo” – os encontros de ontem decorreram em Sagres (para a vigararia de Portimão), Ferreiras (para a vigararia de Loulé), Faro (para a vigararia de Faro) e Altura (para a vigararia de Tavira).
Em Faro, no Colégio de Nossa Senhora do Alto, reuniram-se cerca de 450 pessoas que, após o acolhimento, um breve jogo inicial e as fotos por famílias, foram recebidos no ginásio da instituição. “Estamos reunidos para procurarmos ser, cada vez mais, família”, introduziu o padre António da Rocha, responsável pela Pastoral Familiar na vigararia de Faro, considerando que “a família, hoje, vive um bocadinho adoentada”. “Falamos de grandes mudanças na sociedade, mas se há realidade em que estas mudanças são fortes e rápidas é na família. A família está em grande mudança. Será para melhor? É isso que a gente deseja, mas, aparentemente, parece que não está a ser para muito melhor”, sustentou, abordando questões como o decréscimo da natalidade ou as novas realidades familiares. “Será que tudo isto é o que Deus quer?”, interrogou, acrescentando que “a Igreja também tem uma proposta, mas as pessoas parece não estar a prestar muita atenção”.
O sacerdote considerou que “a família está a passar por uma grande transformação e a Igreja quer estar atenta para poder responder, não marginalizando ninguém, nem pondo ninguém de lado”.
Divididas por grupos, as famílias procuraram então responder a algumas questões sobre a realidade familiar, enquanto as crianças até aos 11 anos de idade e os jovens realizaram também um trabalho em dois grupos distintos sobre a temática familiar que apresentaram durante o plenário.
Regressados àquele espaço de apresentação das conclusões, as famílias referiram-se a questões diversas como a educação dos filhos, a parentalidade, os atuais condicionalismos da vida familiar, as dificuldades em viver a missão e a fé na família, na sociedade e na Igreja, a consciência e aceitação da moral católica e da doutrina eclesial sobre o matrimónio, os valores, o relativismo, as novas realidades familiares, o divórcio, a preparação para o matrimónio e o acompanhamento depois do sacramento, a nulidade do matrimónio, entre outros temas.
Algumas das chamadas questões fraturantes dividiram o grupo de famílias entre as que defendem que a Igreja deveria alterar a sua posição sobre as mesmas e os que parecem compreender melhor a prudência por parte da instituição.
O encontro terminou com a celebração da eucaristia na igreja do Imaculado Coração de Maria, junto ao colégio, presidida pelo padre Rui Guerreiro, vigário da vigararia de Faro, que teve início com a bênção das velas. O sacerdote desafiou os presentes a apresentarem a Deus as famílias que conhecem. “Muitas famílias estão afastadas do Pai do céu. Temos como obrigação fazer a nossa oração por todas essas famílias. Muitas ainda desconhecem este Deus-Pai, muitas não têm consciência da forma como devem viver. Vivem no egoísmo e, se calhar, por isso é que chegámos até este ponto em que estamos hoje em que a família, de certa forma, está um pouco destruída”, sustentou.
Referindo-se às “novas conceções de famílias”, o sacerdote abordou o tema do referendo à co-adoção por homossexuais. “Como católicos, vamos ser chamados a ter uma palavra acerca daquilo que aqueles que nos governam querem impor. O cristão sabe aquilo que vai ter que dizer se for chamado a ter que dizer alguma coisa”, afirmou.
Assegurando que “a Igreja não age sob pressão dos meios de comunicação social, nem de qualquer poder que pense poder influenciar”, o padre Rui Guerreiro explicou que “a Igreja decide e age quando meditou e ponderou todos os argumentos que vêm do passado e toda a sua doutrina, de forma a melhor corresponder aos tempos presentes”. “Só depois é que toma uma decisão e vê aquilo que há-de propor em termos de disciplina. Não vamos exigir que a Igreja dê já uma resposta qualquer. Aguardemos que as coisas sigam o seu rumo”, pediu.
Referindo-se à Doutrina Social da Igreja e à sua posição sobre a realidade familiar, lembrou que a família é o “lugar da vida e do amor”. “E aqui resta saber como é que os pais do nosso tempo dão amor aos seus filhos”, acrescentou.
O sacerdote afirmou ainda que “os países onde existem medidas do Estado para promover a natalidade são os países mais ricos, os do norte da Europa”. “Quando um Estado não promove a natalidade, o país, a pouco e pouco, vai empobrecendo”, lamentou, exortando os presentes a “rever o amor dentro da família”.
O encontro para as famílias da vigararia de Loulé realizou-se na paróquia de Ferreiras, no concelho de Albufeira. A tarde foi constituída pela apresentação da reflexão feita pelas famílias das paróquias daquela vigararia sobre a dimensão de “o amor vivido na família”, evidenciado pelo Programa Pastoral da Igreja algarvia.
A tarde de “encontro para as famílias” da vigararia de Loulé terminou com uma eucaristia solene, presidida pelo padre Carlos de Aquino, vigário dessa vara. As cerimónias tiveram início pelas 17h30, logo após a conclusão do encontro.
Presentes estiveram todos os sacerdotes da vigararia, tendo as cerimónias tido início no exterior do templo, com a bênção das velas e grande número de fiéis presentes.
O presidente da assembleia, comentando as leituras do dia, salientou a necessidade de “acreditar, de saber escutar, de ter a luz de Deus em cada um de nós, para a poder transmitir a cada irmão, não só no trabalho, na rua, na comunidade, mas sobretudo na família”. O padre Carlos de Aquino esclareceu, ainda, que o encontro tido nessa tarde “correu muito bem” e que seria “feita uma avaliação do mesmo, estando prevista a realização de mais encontros deste tipo noutras paróquias”, encontros esses que seriam “um bem para todas as famílias”.
O encontro para a vigararia de Portimão teve como tema “Família que Celebra, Vive e Testemunha o Amor”. A tarde, que contou com momentos de partilha, testemunho e animação, preparados pelas diversas paróquias, foi também concluída após a celebração da eucaristia.
O encontro para as famílias da vigararia de Tavira foi feito no salão da paróquia de Altura, sob o tema “Beleza do amor humano” e contou com uma palestra de Filipa Ribeiro Cunha, especialista sobre a problemática familiar. A iniciativa contou também com testemunhos de casais pertencentes a movimentos eclesiais de espiritualidade familiar e terminou com uma celebração mariana.
com Sandra Moreira