Na sua mensagem para a Quaresma que se inicia na quarta-feira, o bispo do Algarve considera que a Igreja tem de “assumir a responsabilidade” da “realidade inqualificável” revelada pelo relatório para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa pela Comissão Independente, pedido pela Conferência Episcopal Portuguesa e conhecido a semana passada.

“Se reconhecemos que «a verdade liberta» (cf. Jo 8,22) também temos de assumir a responsabilidade que essa verdade reclama”, escreve D. Manuel Quintas na mensagem quaresmal hoje divulgada, acrescentando que “com o pedido de perdão a todas as vítimas, inclusive àquelas que não tiveram a coragem de o manifestar”, a Igreja deve sentir-se obrigada a “assumir as consequências destes atos inqualificáveis, cometidos por quem devia ser «defensor» e não «abusador» dos mais frágeis”, consciente de que tudo o que se possa fazer “apenas atenuará o sofrimento e a humilhação das vítimas”.

Citando o Papa Francisco para frisar que “um só caso constitui uma realidade monstruosa”, o bispo diocesano sugere ainda que sejam promovidas “ações de formação com todos os agentes de pastoral sobre este assunto com o objetivo de criar uma «cultura do cuidado e da transparência» em todas as instituições eclesiais” e que se possa “incutir nas comunidades cristãs, e através delas na sociedade em geral, uma nova sensibilidade de modo a prevenir e a denunciar situações que possam ocorrer na proteção e defesa das crianças, adolescentes e adultos vulneráveis”.

D. Manuel Quintas considera que “em boa hora a Conferência Episcopal, demonstrando coragem e decisão em conhecer a verdade sobre esta «chaga humana e social» no âmbito da sua ação, decidiu percorrer este caminho”. O bispo do Algarve refere que o relatório da Comissão Independente “constitui um veemente apelo à conversão”. “Ninguém pode abafar ou ignorar este grito”, adverte.

Na sua mensagem, aquele responsável católico acrescenta que a “necessidade de conversão pessoal se situa num âmbito mais vasto do que este, uma vez que abrange todas as dimensões” da vida. “A oração, a esmola e o jejum são-nos recordados cada ano pela liturgia de Quarta-Feira de Cinzas como meios imprescindíveis para uma adequação sincera da nossa vida a Cristo e ao Evangelho que ele anunciou. Meios imprescindíveis e inseparáveis, já que se reclamam mutuamente”, escreve.

O bispo do Algarve refere-se ainda à dimensão sinodal do caminho da Quaresma como imagem do “caminho da cruz” percorrido por Jesus. “Trata-se de um verdadeiro caminho sinodal, porque o percorremos juntos como discípulos de um único e mesmo Mestre”, sustenta, acrescentando que “o caminho quaresmal, bem como o caminho sinodal conduzem a uma transfiguração pessoal e eclesial, só possíveis aos que se decidem a escutar Jesus e a escutar os irmãos em Igreja”.

D. Manuel Quintas anuncia ainda o destino da renúncia quaresmal deste ano e revela os valores angariados na do ano passado e no contributo solidário do Natal passado com a arquidiocese de Kiev, Ucrânia.