D. Manuel Quintas disse ontem à noite no Seminário de Faro, na apresentação do terceiro volume, intitulado ‘A infância de Jesus’, que a contextualização que a obra apresenta, ajuda os leitores a “alargar os horizontes”.

Na iniciativa, promovida em parceria pela Diocese do Algarve, pela Princípia Editora que editou a obra nas versões impressa, eletrónica e áudio, e pela Paulinas que também a comercializa, o prelado constatou que a narrativa do autor balança entre o Nascimento e a Paixão de Jesus, ou seja, entre o “mistério da encarnação” e o “mistério da redenção”.

Lembrando que Joseph Ratzinger começou a redigir esta trilogia em 2003, ainda antes da eleição como Papa, D. Manuel Quintas lembra que a obra “após um longo caminho interior” do Papa”.

Por outro lado, ao analisar os terceiro e quarto capítulos da publicação e citando o autor, o bispo do Algarve recorda que este último livro “não se trata de um terceiro volume mas de uma espécie de um pequeno pórtico dos dois volumes anteriores sobre a pessoa de Jesus de Nazaré”.

D. Manuel Quintas, que quis “abrir o apetite a todos” para a leitura da obra, comparou a mesma a uma “biblioteca” pelo manancial de referências bibliográficas presente ao longo das suas páginas. “É uma leitura que nos atrai e um excelente subsídio neste tempo de Advento. Temos de agradecer ao Papa este apoio que nos dá para crescermos na fé e, sobretudo, para entendermos quem é Cristo”, concluiu.

O padre Joaquim Nunes, a quem coube a análise do primeiro e segundo capítulos, lembrou que na apresentação da publicação em Roma se afirmou que, por via dela, o Papa pretende “repensar o mistério”. “O Papa quer ajudar-nos a repensar e revisitar o mistério em ordem à nossa própria vida com Jesus e a caminho de Jesus”, afirmou, considerando, assim, que “o livro pode servir como uma espécie de etapa de uma peregrinação para meditação e oração, quer no caminhar do campo largo da vida, quer no «jardim» interior de cada um”. “É, ao mesmo tempo, uma aprendizagem e um percurso de fé que o Papa nos oferece”, acrescentou.

O padre Joaquim Nunes frisou ainda que a obra é uma partilha do autor da sua “procura pessoal do rosto do Senhor” e não “um ato de magistério”, como, de resto, o explica o próprio Bento XVI. “O Papa foi-nos oferecendo o seu modo de ver, para nos ajudar a ver o rosto de Jesus de Nazaré”, afirmou, sustentando que a “descoberta do verdadeiro rosto” faz-se através das suas “genealogias”, apresentadas por Bento XVI. O sacerdote complementou que o Papa incentiva a assim a ir “à procura das origens de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem” e “utiliza os textos para nos ajudar a penetrar no mistério que é o próprio viver de Jesus, enquanto criança, menino, adolescente e jovem”.

O padre Joaquim Nunes considerou ainda significativo que o lançamento do livro aconteça ao iniciar-se o Ano da Fé e destacou que o Papa “apresenta o livro como se fosse ao ritmo da Lectio Divina” e utiliza uma linguagem que é um “desafio” a entrar nele. “Desafio, não pela complexidade, mas pela simplicidade e sabedoria”, complementou, considerando a linguagem “profunda, acessível, mais marcada pela sabedoria do que pela erudição, muito embora esta não falte”. “As palavras têm carga de uma afetividade espiritual que as torna muito próximas e nos orientam nesta peregrinação para vermos o rosto de Jesus”, acrescentou ainda.

Tal como o padre Joaquim Nunes, a irmã Eliete Duarte, da Paulinas, destacou o facto de a trilogia concluir-se com um volume sobre a infância de Jesus que é lançado em pleno tempo do Advento, o primeiro do calendário litúrgico da Igreja, o qual precede e prepara o nascimento de Cristo e é constituído pelas quatro semanas que antecedem o Natal. “Parece-me muito feliz o tempo litúrgico que escolheu. Estamos neste tempo de Advento, esta preparação da vinda de Jesus, desejosos de uma leitura que nos prepare e nos ajude a concretizar o seu tempo”, afirmou.

O volume agora publicado, apresentado no dia 20 de novembro no Vaticano, divide-se em quatro capítulos e aborda o arco histórico que começa na apresentação da genealogia de Jesus e termina na sua separação e reencontro com os pais, em Jerusalém, aos 12 anos.
Em causa estão 180 versículos dos capítulos iniciais dos evangelhos segundo São Mateus e São Lucas, as únicas referências aos primeiros anos da vida de Jesus que se encontram na Bíblia.

A nível internacional, o livro teve uma tiragem inicial de mais de um milhão de exemplares, em oito línguas.

Samuel Mendonça