© Samuel Mendonça
© Samuel Mendonça

O padre Pedro Manuel disse no passado sábado que o amor conjugal “tem de ser vivido como dom, mas também como vocação”.

“Se for vivido assim por ambos [os cônjuges], a rutura não acontece. Repito: se for vivido assim por ambos. Porque pode querer viver assim, só um”, afirmou na Jornada de Pastoral Litúrgica, este ano dedicada ao tema “Na Família, chamados ao Amor”, promovida pelo Departamento da Pastoral Litúrgica da Diocese do Algarve no Centro Pastoral de Ferragudo e participada por 101 pessoas de todo o Algarve.

O sacerdote, que discorreu sobre o tema “A Família: comunidade de vida e amor, projeto de Deus Criador”, disse ainda que “o Sacramento do Matrimónio, celebrado entre duas pessoas, apenas o é se ambas estiverem abertas a essa graça” e que o mesmo se baseia “no entregar tudo, ao ponto de dar a vida pelo outro”, como fez Cristo, deixando assim espaço uma reflexão que a Igreja tem vindo a fazer sobre a nulidade do sacramento.

Considerou ainda que, “assolada por muitas mudanças, profundas e rápidas, na sociedade e na cultura, a família sentiu minada a base da sua missão de revelar a cada um o próprio matrimónio como vocação para se encontrar com Deus”. “Muitas famílias vivem este desafio diante da perda de valores, entre eles a fidelidade, fragilizada junto com os demais princípios que constituem o fundamento da instituição familiar”, sustentou, aludindo a “pressões vindas dos mais diferentes campos: meios de comunicação social, vida da sociedade em geral, obscurecimento de valores”. “É necessário que assumamos e reconheçamos que hoje a vida da comunidade familiar está em risco”, concluiu.

O orador continuou, reconhecendo que “na mudança cultural presente, o mundo aguarda o testemunho da família cristã que procura dar resposta a diferentes inquietações: à família tradicional e à indissolubilidade do matrimónio, mas também à família que acontece no contexto de uma união de facto ou no contexto de um matrimónio rompido que dá lugar a outro”, lembrando que “por esse tipo de nova vida familiar também passa o amor de Deus”.

“Sabemos bem como a Igreja hoje está preocupada em dar resposta pastoral e espiritual a estes novos modelos de família porque, nas nossas igrejas, quando começamos uma missa em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, quem nos responde «Ámen» são, muitas vezes, famílias cicatrizadas pela separação e não podemos fechar os olhos diante de uma realidade que é cada vez maior. Também nós havemos de começar a moldar o nosso coração para o acolhimento dessa diferença”, complementou.

O padre Pedro Manuel, citando o Papa João Paulo II, lembrou ainda que a “aventura do matrimónio” tem o objetivo de “dar fruto” porque é o “santuário da vida” e “está a serviço da vida”. “Os filhos não são um acessório num projeto de uma vida conjugal, mas o dom precioso na estrutura da própria união”, disse, lembrando que “a fecundidade surge como consequência natural do amor vivido na família e concretiza-se, não só nos filhos, mas também no acolhimento e na relação com os outros”.

Neste sentido, e lembrando o pensamento do falecido pontífice, frisou que “aqueles casais que fecham a sua união aos filhos, fecham a sua união com o Espírito Santo”, tornando-a um “contrassinal do amor trinitário”. “Para aqueles que estão preenchidos com o Espírito Santo, a contraceção é simplesmente inconcebível. Eles sabem que ela é uma mentira que toma o lugar da verdadeira linguagem do corpo. E mentir, dentro do coração da intimidade conjugal, tem um efeito ruim”, citou.

O sacerdote exortou os casais a uma “verdadeira espiritualidade familiar” para o estabelecimento de uma “comunidade de oração” e, nesse contexto, considerou a “espiritualidade como alimento do casal”. “O caminho para a união do lar passa pela vivência e descoberta da oração”, sustentou.

Citando a carta pastoral de 2004 da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o tema “Família, esperança da Igreja e do mundo”, o conferencista aludiu à necessidade de “tempo para a partilha da fé e para o encontro familiar”. “Para que seja possível à família desenvolver a espiritualidade de comunhão é preciso prever tempos de encontro e de partilha comunitária. A vida cristã não é feita apenas de trabalhos, compromissos e tarefas. Nela tem que haver também lugar para a contemplação do amor de Deus, para a oração em comum, para a escuta e para a partilha familiar da palavra de Deus, para celebração familiar da fé”, destacou, lembrando que “o Domingo é um tempo privilegiado para a construção familiar como realidade de comunhão”. “Sendo o dia da Igreja, o Domingo é também o dia da família”, evidenciou.