Cinquenta e oito participantes do Algarve participaram nas Jornadas Nacionais de Catequistas 2019 que decorreram entre sexta-feira e domingo, em Fátima, com o tema ‘Uma Catequese Inovadora’.
Na iniciativa, que reuniu mais de sete centenas de catequistas de todo o país, esteve em destaque o modelo proposto pela Igreja Católica em Portugal para a catequese com adolescentes.
“A questão fundamental é ser com os adolescentes. Não é uma nova catequese, é um novo catequista: é um catequista acompanhante, companheiro, que faz discipulado em missão, em conjunto com os adolescentes, o papel que eles têm de missão, uns com os outros, nas suas famílias, nas suas comunidades de fé e na sociedade”, disse Cristina Sá Carvalho, diretora do Departamento de Catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), em declarações à Agência Ecclesia.

O tema foi abordado numa conferência do bispo de Viana, D. Anacleto Oliveira, a partir da carta pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, ‘Catequese: A Alegria do Encontro com Jesus Cristo’.
“Quisemos tornar claro, no documento, que o modelo escolar, com um catequista e um grupo de catequizandos, uma hora por semana com um conjunto de aprendizagens intelectuais subjacentes, é obsoleto e deve ser abandonado para dar lugar a um caminho conjunto entre o catequista e os catequizandos num modelo mais catecumenal, mais projetual, que implique o coração, as mãos e os pés”, explicitou, numa intervenção divulgada pelo portal Educris, do SNEC.
Para D. Anacleto Oliveira, é fundamental que os “catequistas não tenham medo de tentar, de experimentar e de arriscar novos caminhos e abordagens na catequese com os adolescentes”.
Já o diretor do Serviço diocesano de Catequese de Leiria-Fátima abordou as propostas para a catequese da adolescência “projetual, participada e comprometida”.
O padre José Henriques Pedrosa disse que o tempo presente é “difícil para a transmissão da fé”, mas é um momento de olhar com esperança esta oportunidade única para a Igreja” que é “a realidade da adolescência”.

Na preparação da edição portuguesa das Jornadas Mundiais da Juventude, que Lisboa acolhe em 2022, há espaço para debater a relação dos mais novos com a fé católica, como explica o padre Tiago Neto, diretor do Setor da Catequese do Patriarcado.
“Aparentemente, nós estamos naquilo que alguns autores chamam uma geração incrédula”, indica o especialista, sublinhando “uma quebra da fé como possibilidade de orientar a existência”.
O evento começou na última sexta-feira, com a intervenção de D. António Moiteiro, presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF), o qual evocou a figura de monsenhor Amílcar do Amaral, homenageado na edição de 2019, apresentando-o como “a figura mais importante da catequese no século XX português”.
O bispo de Aveiro desafiou os presentes a refletir sobre os desafios que hoje se colocam a uma transmissão da fé que “pretende colocar catequistas e catequizandos a caminhar juntos, para o encontro com Jesus Cristo”.
Monsenhor Amílcar Amaral, sacerdote da Diocese de Aveiro, foi presidente do Secretariado da Catequese, criado a 29 de março de 1949.
Em declarações enviadas à Agência Ecclesia pelo SNEC, D. António Moiteiro evoca uma figura “cimeira” na área da Catequese e do ensino religioso, que promoveu a elaboração de catecismos em Portugal, “adaptados às crianças portuguesas”, com a preocupação de “chegar a todos” e de formar catequistas.
O bispo de Aveiro indica que, numa sociedade secularizada, como a de hoje, o “fundamental é descobrir o essencial da vida cristã, que é a pessoa de Jesus”, fazendo com que a catequese seja mais “um encontro e não uma lição”.
Na primeira conferência dos trabalhos, subordinada ao tema ‘O Contexto eclesial no tempo editorial de Monsenhor Amílcar Amaral’, o padre Alexandre Palma, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), apontou o Concilio Vaticano II “como fundamental para o aparecimento de figuras transformadoras em toda a Igreja, como a do monsenhor Amílcar do Amaral”.

“O Concilio Vaticano II foi de tal modo marcante para a vida da Igreja no século que promove uma mudança de paradigma e marca, de maneira clara, o período editorial de monsenhor Amílcar do Amaral, que nele bebeu e se inspirou para a renovação da catequese em Portugal”, referiu, numa intervenção divulgada pelo portal Educris.
O conferencista desejou que seja possível “criar uma nova capacidade de perceber a experiência cristã como uma experiência plural que se desenha em conjunto para um caminho comum”.
O padre António da Graça Cruz, da Diocese de Aveiro, conviveu com monsenhor Amílcar do Amaral, falando “num homem de fé, comunicativo”, que procurava integrar as pessoas, e “sobretudo um homem de oração”, que o inspirou a seguir o sacerdócio.
“Era diferente, porque comunicava connosco, jogava à bola, comunicava com filmes, com imagens”, recorda.
Filomena Capelo, do Patriarcado de Lisboa, começou o seu percurso na catequese com os catecismos criados por monsenhor Amílcar do Amaral, que apresentou depois aos mais novos, como catequista.
“Claro que os desenhos hoje parecem desatualizados, mas tinham a ver com a nossa realidade”, precisa, com representações onde “todos cabiam”, do campo à cidade.
com Ecclesia