
O diretor editorial das Edições Salesianas e coordenador, que no passado dia 7 deste mês veio ao Algarve apresentar o novo itinerário catequético desenvolvido por aquela editora, explicou ao Folha do Domingo que o projeto não pretende romper com o itinerário catequético existente, mas surge numa linha de continuidade e complementaridade, aproveitando o que de bem está feito.
“A catequese que temos, com as fragilidades e dificuldades todas, forma cristãos, faz diferença. E até matematicamente é possível demonstrar que estes jovens que fizeram 10 anos de catequese são qualitativamente diferentes, por exemplo, de quem fez quatro ou seis anos de catequese”, considera o padre Rui Alberto, com base na análise que realizou para a sua tese de doutoramento no âmbito da Teologia com especialidade em Pastoral Juvenil e Catequética.
O sacerdote salesiano assegura, por isso, que os materiais do ‘Ligações’ foram produzidos tendo em conta a tradição da catequese e as suas etapas e procuram ir ao encontro das “necessidades” que a Conferência Episcopal Portuguesa e o Secretariado Nacional da Educação Cristã identificam.
O padre Rui Alberto realça que o projeto assenta no tradicional esquema eclesial de comunicação “traditio-reditio”, explicando que “a Igreja transmite para que o recetor se aproprie da informação e a possa redizer com as suas próprias palavras”. “A Igreja, com mais ou menos entusiasmo na catequese, tem procurado transmitir esta mensagem bela do evangelho, mas alguns têm alguma dificuldade em receber. Se calhar, não temos ajudado todos ou muitos, a receber esta mensagem, a apropriarem-se dela no diálogo com a sua própria existência. E aí está uma das insistências do nosso projeto. Trata-se de transmitir e propor a fé e de ajudar o próprio catequizando a absorver esta mensagem, a construi-la, a incorporá-la”, sustenta, advertindo que “não basta melhorar a transmissão”.
Por outro lado, aquele responsável destaca a importância da “aprendizagem ativa”. “Aquilo que é importante na vida – e o evangelho é vida e é mesmo importante – nós temos que o aprender, experimentando. Não interessa dizer que Jesus Cristo era bom, se não experimentamos aqui agora a sua bondade ou falar de Jesus na eucaristia se não aprendemos a saborear esse Jesus na eucaristia ou dizer que a palavra de Deus é palavra de salvação se não nos habituamos a lê-la com gosto”, adverte.

No contexto desta aprendizagem experienciada, o editor destaca a importância da “atenção à imagem”. “Hoje, os miúdos são muito obcecados pela imagem, têm tempos de atenção muitíssimo curtos, veem horas e horas de televisão e internet. É um ambiente muito estimulante. Não é por gritarmos mais alto que ganhamos tempo de antena, mas temos de encontrar estratégias que vão ao coração e que os ajudem a descobrir a beleza desta mensagem”, refere, confidenciando que uma das dificuldades prendeu-se com o design. “Procurámos em todos os catecismos um design atraente, impactante. Não foi fácil encontrar uma solução de como é que se faz em papel para esta geração. Desapareceram as referências. Esta geração só consome conteúdos em suporte digital”, constatou, acrescentando ter sido ousar. “Algumas estéticas podem parecer um bocadinho disruptivas. Não devemos olhar para estes materiais com o nosso olhar de adultos, mas perceber se eles funcionam com esta geração que agora tem 13, 14, 15 anos”, observa.
O editor considera, por isso, ser possível “fazer mais e melhor”, indo “de uma forma mais proativa e enérgica ao encontro dos desafios”. “É esse o objetivo [do ‘Ligações]”, observa, lembrando que “o mundo mudou muito”, mas que “a Igreja sempre teve esta capacidade de se inculturar, de trabalhar com as linguagens mais simples e mais funcionais” e “sempre foi muito criativa a inventar novas maneiras de colocar no coração das pessoas a palavra eterna que vem de Deus”.
O sacerdote explica que o projeto, constituído por “um conjunto de propostas acessíveis” e “não excludentes” que “ajudam a catequese, a família e a paróquia”, é desenhado editorialmente tendo em vista “um determinado perfil de cristão adulto” que, “em Igreja”, seja “capaz de ser «sal» e «luz»” no atual contexto de pós-modernidade.
O padre Rui Alberto refere ainda que o projeto foi desenvolvido para ser trabalhado pelas paróquias e seus catequistas com “os recursos que têm”. “É preferível utilizar uma solução menos espetacular, mas que o comum dos catequistas consegue agarrar do que fazer uma coisa perfeita mas pouco acessível”, observa, explicando que a fase de construção do ‘Ligações’ incluiu a análise de algumas catequeses por um grupo de voluntários. “É sempre possível receber críticas e avaliações, quer para corrigir alguns erros, quer para reforçar algumas estratégias. Temos as ferramentas para recebermos esse feedback dos catequistas, dos párocos, das coordenações de catequese para ir melhorando a pouco e pouco estes materiais”, explica, acrescentando ser possível nas próximas reedições alterar alguns aspetos.
O diretor editorial das Edições Salesianas explica que o projeto também procura “envolver o mais possível as famílias naquilo que podem dar”, tendo em conta que hoje “são muito diferentes”, incluindo no seu “perfil religioso”. “Gostaríamos de entrar em casa com estas famílias que são como são. Que em casa eles pudessem – os catequizandos e, eventualmente, os pais – consumir, usufruir, aproveitar de uma série de conteúdos. Que pudessem ler, fazer uns jogos online, brincar um pouco”, refere o padre Rui Alberto, considerando que “este brincar faz crescer e liga os conteúdos da fé à vida e assim a fé torna-se muito mais saborosa”.

O sacerdote explica que este trabalho de casa é um dos “vários momentos de intervenção” de uma catequese pensada como “uma espécie de um ecossistema”, constituída não apenas pelo “momento clássico do encontro semanal”, mas também pela eucaristia dominical, as festas (etapas), e por outras propostas para os “tempos fortes” de Advento ou Quaresma como acampamentos, vigílias de oração e de sensibilização vocacional que pode ser adaptadas.
O editor acredita que o projeto, com quatro fases, previsto para 12 anos, dos 6 aos 18 de idade, terá uma vida útil máxima apenas de seis anos. “Daqui a 5/6 anos a condição cultural e existencial dos miúdos vai ser diferente e aí vamos precisar de fazer um lifting mais sério, uma avaliação do projeto. Acho que não será necessário pôr em causa os seus pressupostos catequéticos e pastorais – esses são válidos geracionalmente – mas, culturalmente, como é que estaremos a usar e a consumir conteúdos e media daqui a cinco anos? Ninguém sabe. Quando lá chegarmos adaptaremos os suportes àquilo que houver”, observa, lembrando a velocidade a que muda “o panorama comunicacional, que é também o panorama existencial das pessoas”.
“Para sermos fiéis a Deus e ao homem, como dizia Paulo VI, temos de ter essa dupla fidelidade. Temos que nos adaptar na procura do sempre melhor. Tem que haver aqui um trabalho contínuo porque a causa de Deus justifica essa nossa generosidade e as necessidades de cada destinatário e de cada catequizando em cada tempo exigem de nós essa flexibilidade, essa rapidez na resposta”, considera.