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Foto © Samuel Mendonça

Os cabo-verdianos a viver no Algarve voltaram a reunir-se no passado dia 1 de maio em Loulé para celebrar a fé e a cultura, numa iniciativa que contou com a presença da embaixadora de Cabo Verde em Portugal, Madalena Neves.

O 21º Encontro de Cabo-verdianos teve início com a celebração da eucaristia na igreja matriz, presidida pelo cónego Carlos César Chantre, também ele natural de Cabo Verde.

O sacerdote advertiu que “os cabo-verdianos, quando se encontram em qualquer canto do planeta, não podem, nem devem pôr de lado a cultura dos seus avós, a cultura daquelas ilhas”.” E a cultura daquelas ilhas é sofrimento, saudade, alegria, abraço ao outro por causa da presença de Deus, não obstante as intempéries, as secas e as dificuldades”, sustentou, considerando ser por isso que os naturais de Cabo Verde estão “espalhados pelo planeta todo” e que nessa condição devem transmitir a mensagem de Jesus Cristo.

A propósito da mais conhecida morna, imortalizada por Cesária Évora – “Sodade” – e evocada no início e no fim da celebração por Lígia Pereira, o cónego César Chantre lembrou os cabo-verdianos que, na década de 60 do século XX, foram para São Tomé trabalhar nas roças, “muitos, obrigados”. “Esta morna expressa um sentimento de respeito pela história para que o presente seja melhor que o passado”, afirmou, considerando que “Portugal traduziu, na expressão da palavra e da música, a saudade e os cabo-verdianos captaram essa mensagem e assumiram um novo estilo de saudade”. “Muitos outros povos estão hoje a sofrer porque não aprendemos com a história”, lamentou, lembrando que todos os homens, de todas as culturas, são “filhos de Deus”.

O sacerdote disse ainda que “não faz sentido que haja cabo-verdianos que estejam zangados uns com os outros”. “Isso é uma estupidez ambulante”, considerou, lembrando que “um povo pobre tem a sua riqueza na fraternidade, no abraço que dá aos outros”. Nesse sentido, acrescentou também que “não faz sentido que os portugueses estejam de cabeça baixa”. “Dois povos pobres, logo dois povos irmãos que se podem abraçar porque só assim a riqueza vai aparecer e vai multiplicar-se”, completou.

O cónego César Chantre não esqueceu o povo da Ilha do Fogo, recentemente vítima da erupção vulcânica que provocou cerca de 1500 deslocados e destruiu parte da ilha. “Neste dia de São José, abracemos a Ilha do Fogo que a esta hora, no meio daquelas intempéries vulcânicas, está em grandes festas do primeiro de maio”, pediu, aludindo à Festa da Bandeira. “Peço à senhora embaixadora, o carinho de transmitir o nosso abraço solidário à Ilha do Fogo e que hoje estamos com eles”, acrescentou.

Madalena Neves valorizou a celebração da “cultura” e da “comunhão” daquele encontro. “Já é com saudade que aguardo o momento de participação nesta celebração”, afirmou, destacando ainda a “convivência” daquela iniciativa em que se celebra o trabalho e a língua comum.

Aquela embaixadora sublinhou ainda o papel das mães e avós que “garantem a transmissão e a preservação” da cultura cabo-verdiana, “mesmo na terra longe”. “Senhor padre, continue com este trabalho que representa Cabo Verde, que nos aproxima da terra mãe e que nos ajuda a mitigar a saudade”, pediu, deixando ainda uma mensagem à comunidade cabo-verdiana trabalhadora no Algarve. “Com confiança, encaremos o dia de amanhã porque juntos vamos continuar a celebrar a amizade e a construir esta sociedade da amizade e da solidariedade”, exortou.

O presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina, na Ilha de Santiago, Francisco Tavares, igualmente presente, também dirigiu a todos os cabo-verdianos que vivem em Portugal uma mensagem de esperança.

O cónego César Chantre anunciou ainda que, no próximo ano, o encontro deverá ser presidido pelo novo cardeal de Cabo Verde, D. Arlindo Furtado. “O senhor cardeal prometeu que faria tudo por tudo para presidir a esta celebração em 2016”, afirmou.

À celebração, também participada pelo diácono Nelson Rodrigues e por africanos de Angola, Guiné, Moçambique e São Tomé, seguiu-se o habitual almoço-convívio.