O cónego Joaquim Nunes celebrou 25 anos de ordenação sacerdotal na passada quinta-feira.
A efeméride foi assinalada com uma celebração eucarística na Sé de Faro, presidida na primeira parte pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, e na segunda parte pelo aniversariante de 61 anos.
O bispo diocesano destacou no início da eucaristia que o sacerdote constitui um “dom”, “como pessoa e sacerdote”, para a igreja algarvia. “Queremos agradecer ao Senhor este dom que é o padre Joaquim e o seu ministério e agradecer-lhe também o testemunho que ele nos dá”, afirmou D. Manuel Quintas, lembrando que também beneficia desse “dom” quem vive com ele. “Destes 25 anos, 12 estamos a passá-los na mesma casa, juntos, constituindo a mesma família”, afirmou o bispo do Algarve, lembrando que vive com o sacerdote no Paço Episcopal.
D. Manuel Quintas apelou à oração a Deus para que o cónego Joaquim Nunes continue a ser o que é. “Peçamos ao Senhor que ele continue a ser dom para nós pela sua maneira ser e estar, de exprimir a sua fé, de nos transmitir o seu testemunho apesar das suas limitações que todos conhecemos. Até parece, quando o ouvimos, que isso não existe”, afirmou sobre o sacerdote que sofre há vários anos de esclerose múltipla.
Na homilia que proferiu de forma muito emocionada, o aniversariante referiu-se ao “dom do ministério” que abraçou a 19 de maio de 1991 como tendo sido “recebido sem mérito algum” da sua parte, também como uma “graça” e “de graça”. “Recebido de graça, não para mim, mas para dar, para servir, para ser dom”, sustentou.
O cónego Joaquim Nunes referiu-se ainda ao ministério como um “tesouro livre de apegos, de vaidades, de avarezas estéreis, de astúcias”, “um tesouro que só vale enquanto for para multiplicar em dons fecundos, em frutos de graça”. “Eu tiro benefícios deles, mas só enquanto os der e multiplicar a misericórdia, o amor e a complacência que recebi”, advertiu, acrescentando confiar mais naquilo que Deus faz por si do que no seu próprio esforço.
O sacerdote destacou duas palavras em relação a este quarto de século de sacerdócio: “graça e agradecimento”. “Agradecido pelo dom, pela alegria e pela felicidade, acolho e confio no que Deus me dá continuamente. E o que Deus me dá continuamente é a possibilidade de ser santo, apesar de pecador; de ser feliz, apesar das debilidades humanas. Há 25 anos descobri n’Ele a vocação, a escolha tantas vezes negada, adiada ou afastada. E apesar disso Ele não desistiu e fez-me descobrir e confirmar”, afirmou.
“Durante estes 25 anos relembro cada dia, porque, cada vez mais, dou conta que Jesus gosta de mim com um tal amor que está para além da minha medida. A medida do amor com que Ele me ama – com que Ele nos ama a todos e a cada um – é a medida de um oceano infinito, de uma luz imensa, um amor que se faz luz nos dias e que é céu estrelado, também infinito, nas noites mais escuras”, prosseguiu, afirmando-se inundado por uma “alegria plena e completa que se renova na eucaristia de cada dia”. “Sobretudo, na eucaristia”, reforçou.
“Olhando para o futuro, 25 anos depois, confio em Deus que me escolheu, que tudo me dá para além do merecimento e do direito. Confiado, peço-vos que rezem por mim. Confio-me a São José, silencioso e protetor para que me leve pela mão como levava o menino. Confio-me a Nossa Senhora para que me ampare e me indique o caminho que leva ao Senhor e à sua alegria”, concluiu.
No final da celebração, concelebrada por muitos colegas do Algarve e não só, o sacerdote foi presenteado com uma bênção apostólica do papa Francisco.
Uma vocação madura
Natural de Monchique, o cónego Joaquim Nunes frequentou a escola primária local, o Colégio de Santa Catarina e o então Liceu de Portimão (atual Escola Secundária Poeta António Aleixo). Enquanto frequentava o colégio diocesano surgiu o convite do seu pároco, o padre Joaquim Beato (atual pároco de Armação de Pêra e Porches), para integrar o Seminário de Faro, que não hesitou em declinar.
Seguiu-se a frequência na Faculdade de Letras da Universidade Católica Portuguesa (UCP) em Lisboa, tendo-se licenciado em História.
Já no final da licenciatura, o desafio para integrar o Seminário volta a ser feito, desta vez por um sacerdote que estava de passagem pela paróquia de Monchique. “Fiquei chateado com a proposta e disse-lhe logo que não. Estava fora dos meus projetos”, contou ao Folha do Domingo, explicando, não obstante, que sempre esteve integrado na vida da comunidade, nomeadamente na catequese e no grupo de acólitos. “Julgo que foi esse empenhamento, sempre crescente, que foi colocando a questão de uma maneira subterrânea, tornando-se cada vez mais incomodativa, no sentido do desafio”, acrescentou.
Regressado ao Liceu de Portimão como professor, tendo feito parte do então Conselho Diretivo, o jovem Joaquim Nunes fez a profissionalização em Lisboa, onde se efetivou como docente.
Entretanto a inquietação vocacional ia crescendo. “Lembro-me que a decisão foi muito difícil porque estava bem instalado na vida e gostava do que fazia”, conta, lembrando que nos acampamentos na Praia da Carriagem “as coisas foram ficando mais claras”. “Resolvi [entrar para o Seminário] e contei-o ao padre Ferro [pároco de Monchique da altura] no Domingo do Bom Pastor, explicando-lhe que primeiro queria ficar efetivo. Depois falei com o D. Ernesto [Costa, então bispo do Algarve]”, lembrou.
Nos primeiros anos foi simultaneamente professor de história e aluno da Faculdade de Teologia da UCP. No terceiro ano de Teologia entrou no Seminário dos Olivais, continuando a dar aulas até ao quinto ano.
Em 1991, com 36 anos, foi ordenado por D. Manuel Madureira Dias, então bispo do Algarve, tendo sido nomeado nesse ano prefeito e professor do Seminário de Faro e diretor do Pré-seminário. Dois anos depois, o prelado nomeou-o diretor espiritual do Seminário e administrador paroquial de Quelfes, a única paróquia onde trabalhou.
Em 1994, o mesmo bispo nomeou-o diretor espiritual do Movimento dos Cursos de Cristandade no Algarve, mantendo-se até hoje ligado a essa organização eclesial, e em 2006 diretor do Folha do Domingo, funções que desempenhou até fevereiro de 2000. Foi ainda administrador da extinta Tipografia União – Folha do Domingo, Lda.
Mantendo-se na equipa formadora do Seminário foi nomeado vice-reitor da instituição em 1999 e esteve sempre ligado a ela até 2004. Nesse ano foi nomeado chanceler diocesano, função que desempenha até hoje.
Em termos de departamentos da pastoral da diocese algarvia foi assistente do Secretariado da Catequese e diretor do Departamento do Património, sendo que atualmente ainda parte da equipa do Secretariado da Liturgia, Música Sacra, Novas Igrejas e Espaços Culturais da Diocese do Algarve.
Na diocese pertenceu ainda a Conselhos Presbiterais, tendo sido secretário, e ao Colégio de Consultores. Ao Conselho de Pastoral da Diocese do Algarve (do qual foi também secretário durante vários anos), ainda pertence, fazendo igualmente parte da sua Comissão Permanente.
A 19 de junho de 2013 foi nomeado, pelo atual bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, cónego do Cabido da Sé de Faro, tendo tomado posse no dia 19 de julho daquele ano.
Atualmente é ainda diretor do Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-Religioso.
O cónego Joaquim Nunes identifica alguns marcos na sua caminhada vocacional. A participação no Congresso Eucarístico de Lourdes, em 1981, é um deles e a eleição papal de São João Paulo II, em 1978, é outro. O sacerdote considera também que o contexto familiar de integração eclesial também contribuiu para a sua vocação.