Foto © Samuel Mendonça
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O apelo à união da Europa para que se torne, verdadeiramente, espaço de acolhimento, não só para os que nela vivem, mas também para os que a procuram, marcou a iniciativa “Juntos pela Europa”, este ano assinalada no Algarve com a realização de um encontro sobre o tema “O papel dos cristãos na Europa de hoje”, na passada sexta-feira, véspera da comemoração do Dia da Europa (9 de maio).

O evento, promovido por vários movimentos cristãos algarvios na sede da delegação regional de Faro do Instituto Português do Desporto e Juventude, contou com as reflexões de Pedro Vaz Patto, juiz desembargador e presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, e do pastor Hans Uwe Hüllweg, da Igreja Luterana alemã presente no Algarve.

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Na introdução à temática, uma das organizadoras da iniciativa no Algarve, frisou ser “necessária uma(!) Europa”. Graça Couto destacou a importância, nesta consolidação europeia, do “património cultural, artístico e político” da Europa, da sua “moderação”, a “experiência de tantas décadas sem guerra”, a sua “experiência judaico-cristã e a sua nova dimensão muçulmana”, a sua “incrível diversidade” e, ao mesmo tempo, a sua “unidade, mesmo se ainda muito imperfeita”. “É necessário o nosso amor pela Europa e este deve passar pela exigência de uma realidade transcendente”, acrescentou.

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A intervenção do bispo do Algarve, também presente, apontou no mesmo sentido. “A Europa precisa, verdadeiramente, que estejamos juntos. A Europa de todos nós exige de cada um esforço e participação para que seja espaço de acolhimento”, considerou D. Manuel Quintas, lamentando que ainda não haja “caminhos claros de solução” para que isso aconteça.

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O prelado acrescentou a necessidade de “avivar a alma cristã” europeia, regozijando-se com a organização de mais uma edição do “Juntos pela Europa”. “Certamente que ela nos vai sensibilizar, ainda mais do que já estamos, para todos colaborarmos, de maneira ativa e corresponsável, na construção deste nosso continente, no qual nós queremos, verdadeiramente, avivar a alma cristã porque sabemos que os valores cristãos fazem falta a esta Europa que é de todos nós”, concluiu.

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Neste sentido, Pedro Vaz Patto, que defendeu a criação da “consciência de um bem comum europeu” “para que a unidade europeia assente em alicerces sólidos”, considerou que a “abertura da Europa a Deus serve de antídoto ao terrorismo fundamentalista” porque “as religiões são fator de paz”.

Hans Uwe Hüllweg, que também considerou que “a cultura europeia deve ser caraterizada pelo espírito do Cristianismo”, defendeu que “a Europa é, e deve permanecer, um continente no qual membros de igrejas cristãs, membros de outras religiões e pessoas sem convicções religiosas, podem viver lado a lado para um enriquecimento recíproco”.

Lamentando que ainda não tenha sido alcançada uma “real política social europeia comum”, advertiu que os europeus não podem “ficar indiferentes à situação nos limites da Europa, tal como no Médio Oriente ou na África, ou, no contexto de um mundo globalizado, em países mais distantes”.

Graça Couto lembrou que o projeto “Juntos pela Europa” (“Together for Europe”, na versão internacional) surgiu de fundadores e responsáveis de vários movimentos, para responder ao apelo de João Paulo II, que iniciaram na Vigília de Pentecostes em 1998, um “percurso de comunhão na Europa, de mútuo conhecimento entre todos, no sentido de colaborarem para preencher o enorme vazio religioso da Europa”. Com o lema “Juntos pela Europa” são agora 300 movimentos e comunidades cristãs, entre os quais católicos, evangélicos, anglicanos, ortodoxos, membros de igrejas livres e comunidades pentecostais, que “trabalham juntos para reavivar a cultura cristã da Europa, procurando intervir também a nível dos seus processos sociais e políticos”.

Neste contexto foram promovidos dois encontros europeus, um em 2004 e outro em 2007, em Estugarda, na Alemanha, onde também Portugal participou. O primeiro reuniu 9000 pessoas de 170 movimentos e comunidades locais. O segundo, do qual nasceu o chamado “Manifesto dos 7 Sim’s” – Sim à vida, Sim à família, Sim à criação, Sim a uma economia justa, Sim à solidariedade, Sim à paz e Sim à responsabilidade fraterna – foi apoiado por mais de 240 movimentos e comunidades e “deu grande relevo à rede de fraternidade entre os movimentos e ao trabalho de renovação espiritual e social que já existia”, explicou aquela responsável.

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Em maio de 2012, em Bruxelas, voltou a realizar-se outra jornada e, desde aí, o Algarve tem-se associado anualmente a esta iniciativa. Graça Couto considerou que, também no Algarve, este “caminho de comunhão”, que este ano teve mais uma etapa, desta vez particularmente dedicada ao Sim à Paz, tem levado a “verdadeiros relacionamentos de conhecimento mútuo”.

O próximo evento europeu será realizado em 2016, em Munique, na Alemanha, com um congresso sob o tema da reconciliação, tendo como horizonte o ano de 2017 em que se recordará o quinto centenário da Reforma Protestante de Lutero.