As principais dificuldades vividas pelos centros sociais paroquiais do Algarve, enumeradas no encontro que ontem teve lugar em Santa Bárbara de Nexe, promovido pela Pastoral Social da Igreja do Algarve, relacionam-se com a sua sustentabilidade financeira.

Em tempo de crise, quase todos os dirigentes das 13 instituições presentes testemunharam a crescente dificuldade de os pais pagarem as mensalidades da creche dos filhos e o consequente prejuízo que esta situação acarreta para os centros paroquiais.

Esta realidade foi testemunhada aos jornalistas pelo diácono Luís Galante, responsável pelos Centros Paroquiais de Santa Bárbara de Nexe e Estoi, que confirmou que estes casos “têm estado a aumentar”. Aquele responsável destacou, no entanto, que “nunca ninguém deixou de ser atendido e servido por deixar de pagar alguma mensalidade”. “Temos de tratar isso sempre com muita benevolência e compreensão”, complementou.

Esta foi, de resto, também a orientação do bispo do Algarve que presidiu ao encontro. D. Manuel Quintas mostrou aos cerca de 52 dirigentes presentes a sua convicção de que “não vai ser pelo facto de alguns terem dificuldade em pagar a mensalidade” que ficarão sem o serviço. “Não devem ser essas dificuldades que nos vão fazer deixar de continuar a prestar a ajuda necessária”, apelou.

Aos jornalistas, o prelado adiantou ainda que as instituições “saberão ir ao encontro dessas dificuldades na medida das suas possibilidades” e apelou ao envolvimento ainda maior das comunidades paroquiais. “Que estas instituições não funcionem à margem das próprias comunidades paroquiais. Se conseguirmos que as comunidades sintam as instituições como suas, aumentando até o número de voluntários e promovendo até a partilha e interajuda, vamos dar a resposta que é possível”, complementou.

A segunda maior dificuldade apontada no encontro de ontem prende-se com a responsabilização familiar dos idosos, uma evidência que reforça a ideia de que a crise atual não é apenas financeira e económica. A grande maioria dos responsáveis dos centros paroquiais denunciou o abandono dos idosos por parte dos seus familiares.

“As visitas são, muitas vezes, uma realidade difícil, a tal ponto que, no Natal, tivemos de pedir a famílias da freguesia que adotassem idosos da instituição para puderem passar aquela quadra com elas”, testemunhou ao Folha do Domingo o padre Carlos César Chantre, responsável pelo Centro Paroquial de Paderne, acrescentando que naquela instituição o horário das visitas é “totalmente flexível”.

Lembrando haver famílias que “passam meses” sem aparecer para visitar os seus familiares, o sacerdote relata que a instituição está já a obrigar ao pagamento presencial da mensalidade na instituição para contrariar esta tendência.

Também o diácono Albino Martins, presidente do Centro Paroquial de Cachopo, relatou aos jornalistas que, não obstante toda uma “panóplia de atividades” que a instituição desenvolve com as famílias, “existe muita dificuldade na sua presença”. “Os motivos não sei bem quais são e nós continuamos a insistir para que isso não aconteça”, disse.

A diretora geral do Centro Cultural e Social da paróquia de Estoi tem outra experiência e garante que naquela instituição o problema não se coloca. “Os familiares podem visitar os idosos em qualquer altura do dia sem constrangimentos nenhuns, e, inclusivamente, até no período da noite até à hora de deitar, tanto durante a semana como ao fim de semana”, afirma Dora Luís ao Folha do Domingo.

Aquela responsável destaca as “muitas atividades” realizadas em conjunto com os familiares. “Chamamos os familiares para participarem em diversas atividades festivas e também em diversos projectos e, provavelmente, eles sentem-se muito envolvidos pela instituição e querem fazer parte da vida dela”, diz.

O bispo do Algarve também considera que a responsabilização familiar dos idosos tem que ser reforçada “envolvendo as famílias com iniciativas” e adverte para a necessidade de não se apontar o dedo aos familiares. “Temos também de nos colocar no lugar deles e tentar perceber porque é que não aparecem, quais os problemas por que estão a passar”, sustenta D. Manuel Quintas, acrescentando que o “desinteresse em relação aos idosos encontra-se com alguma frequência a nível geral e advém da formação das famílias” e que as famílias “deveriam ser ajudadas”.

O padre César Chantre, por sua vez, considera este um problema de “desregulação da família” da “época moderna”. “Há esta postura psicológica que temos de trabalhar junto das famílias”, considera o sacerdote, que critica o facto de a convivência entre “avô e criança” não poder estar prevista nos projetos das casas que acolhem estas instituições.

Outra das dificuldades apontadas foi o aumento da procura dos refeitórios sociais paroquiais, alguns deles sem o recente acordo estabelecido com o Estado através da Segurança Social. Lígia Pereira, coordenadora das Respostas Sociais do Centro Paroquial de Quarteira, testemunhou ao Folha do Domingo que a procura começa a aumentar a partir do próximo mês e provem de todo o tipo de pessoas. “No verão temos menos pessoas porque muitas têm empregos sazonais, mas, a partir de novembro, já se verifica um aumento significativo de pessoas”, relata.

Para além destas dificuldades, os dirigentes enumeraram ainda o acréscimo de pedidos de integração de idosos com baixos rendimentos, o alheamento de algumas comunidades cristãs em relação a estas instituições, a dificuldade na evangelização de funcionários e famílias, a dificuldade de relacionamento com a Segurança Social e a precariedade das instalações.

Samuel Mendonça