Jantar-palestra com Rui Diniz assinalou o encerramento do presente ano pastoral do núcleo algarvio da Associação Cristã de Empresários e Gestores

O CEO da CUF garantiu no Algarve que “a inclusão de pessoas com deficiência no ambiente empresarial é bom” para as próprias e “é muito bom para a empresa que as acolhe”.

Rui Diniz foi o orador do jantar-palestra que teve lugar no Jupiter Algarve Hotel, em Portimão, promovido pelo núcleo algarvio da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores no passado dia 14 deste mês para encerramento do presente ano pastoral.

Na sua intervenção, subordinada ao tema “Diversidade, Inclusão e Conciliação Família-Trabalho: partilha de boas práticas empresariais”, aquele responsável explicou ter lançado há cerca de sete anos, no contexto da Universidade Nova de Lisboa, a iniciativa Inclusive Community Forum destinada a promover a empregabilidade de pessoas com deficiência nas empresas.

“Apesar de as pessoas com deficiência terem uma determinada incapacidade, o foco tem de ser outro. Elas têm aquela incapacidade, mas têm várias capacidades”, evidenciou o orador, exortando à valorização do que conseguem fazer e não o contrário. Aquele responsável considerou que a sensibilização para a inclusão de pessoas com deficiência nas empresas “é um papel da ACEGE”. “E não é por caridade. É porque elas acrescentam e têm capacidade”, justificou.

Lamentando que a taxa de desemprego de longa duração de pessoas com deficiência seja “três vezes superior” a quem não a tem, Rui Diniz explicou que “já aderiram cerca de 80 grandes empresas em Portugal” ao projeto e acrescentou que a principal resistência se prende com o “preconceito” que ainda existe. “Começámos a fazer um trabalho de mostrar exemplos bons, sítios onde as pessoas com deficiência trabalham e acrescentam real valor”, adiantou sobre a estratégia adotada.

O CEO da CUF – que, excluindo médicos, inclui cerca de 6.000 outros trabalhadores com contrato individual de trabalho e nos últimos três anos já empregou mais de cem pessoas com deficiência – garantiu que os departamentos que acolhem aquelas pessoas “tornam-se mais solidários” e “relativizam alguns problemas que parece que são importantíssimos, mas que, perante um problema maior, valem zero”.

Como exemplo, Rui Diniz referiu o da arquiteta surda-muda que a empresa recrutou. “As reuniões, duas vezes por ano com um intérprete de língua gestual, são melhores porque as pessoas são mais disciplinadas, falam na sua vez e são mais concisas”, concretizou.

Partindo da interpelação da sua experiência pessoal de ter querido ser pai adotivo de um quinto filho com “99% de incapacidade”, devido a “lesões cerebrais muito sérias” que “são irreversíveis”, aquele economista explicou que a circunstância decorrente daquela opção tem feito da sua “uma melhor família” porque a tem levado a introduzir a questão da inclusão noutras realidades onde também se insere.

Rui Diniz considerou que “o acolhimento de pessoas com deficiência na Igreja deixa muito a desejar” e que a sua “é hoje uma melhor comunidade paroquial” porque o filho lá frequenta a catequese e participa na Eucaristia, “fez a primeira Comunhão, todos os anos se confessa” e “comunga regularmente”.

No âmbito do dilema sobre conciliação família-trabalho que o tema da sua intervenção encerrou, aquele executivo defendeu que “ser uma empresa familiarmente responsável não se pode limitar a iniciativas várias, todas elas boas, sem que os salários aumentem”. “Este tema dos salários é muito relevante para que as pessoas tenham uma conciliação família-trabalho boa”, alertou.

Lamentando que, “muitas vezes”, a questão seja vista a partir da perspetiva dos horários, disse que isso é “conversa circunscrita a gestores e a quadros intermédios ou superiores”. “Porque as pessoas a ganhar 1.000 euros ou menos [por mês] como auxiliares ou empregados de limpeza ou administrativos – como nós temos 4.000 – querem seguramente ter uma vida familiar, mas muitas vezes têm um segundo emprego para compor o ordenado”, observou, acrescentando: “Eu, para ter conciliação família-trabalho, tenho de ter um trabalho que me remunere adequadamente porque senão não consigo desempenhar os meus objetivos pessoais. E o meu objetivo é que as pessoas que trabalham na CUF sejam capazes, em simultâneo, de concretizar os seus objetivos profissionais, mas também pessoais e isso não é possível fazer sem receberem o que devem receber”.

Não obstante esta constatação, Rui Diniz confessou que “a CUF ainda não conseguiu” lá chegar, “mas ajuda muito saber que o quer fazer”. “É fundamental subir salário. Estamos a fazer um esforço, dentro da possibilidade e do que estamos comprometidos com os nossos acionistas, mas sempre que podemos aumentamos salário”, garantiu, considerando que “ter bons resultados com os salários baixos é doping” e “não orgulha ninguém”.

Reconhecendo que a CUF é uma empresa “muito dura do ponto de vista familiar” porque trabalha por turnos, disse, a propósito da diminuição horária, ser impossível “ter uma semana de quatro dias e manter o salário” porque a redução de um dia laboral “tem um impacto brutal em custos”. “As pessoas estão num nível em que não podem prescindir daquele salário. Isso é possível quando se ganha 4.000 euros. Com 1.100, não chega”, defendeu.

Entre as restantes “políticas e regras que ajuda a que a empresa seja mais amiga das famílias” enumerou o trabalho remoto, a flexibilidade horária e/ou geográfica, seguro de saúde, a possibilidade de faltar no primeiro dia de aulas dos filhos até aos seis anos, um cabaz escolar em setembro e outro alimentar no Natal, o financiamento dos ATL, bolsas de estudo universitárias para filhos e até para funcionários que queiram completar estudos, tabela especial de preços em atos de saúde e o “contributo” de cada vez que têm um filho. “Estas coisas, que as pessoas valorizam, são todas boas, mas nada substitui o salário”, considerou, acrescentando que a CUF dá “prémio a toda a gente com base na performance”. “Este ano demos 1,3 salários”, contou.

O presidente da comissão executiva da CUF aconselhou ainda a que a “estratégia profissional” seja pensada no contexto da “estratégia pessoal”, acrescentando que família e trabalho são dois pilares da vida onde é necessário encontrar o equilíbrio. “A empresa tem de dar condições para que possam fazer as suas escolhas, mas as pessoas têm a sua autonomia, liberdade”, afirmou.

Por fim, Rui Diniz defendeu que “quer a inclusão de pessoas com deficiência, quer o tema do equilíbrio família-trabalho não pode implicar uma derrota da performance” empresarial, mas acrescentou: “Ao contrário do que muitas vezes à nossa volta nos querem fazer querer, é possível fazer bem e ser bem-sucedido”.

No âmbito das duas dimensões do tema que abordou, o orador garantiu que tem conseguido traduzir na sua vida, à luz das responsabilidades que tem, “interpelações pessoais” em “possibilidades profissionais”. “Isso é uma das coisas que, na ACEGE, mais temos de trabalhar: esta unidade de vida, a minha realidade pessoal também ter um reflexo na minha realidade profissional. É um desafio permanente este equilíbrio”, concluiu.