As Igrejas cristãs do Algarve voltaram a rezar pela unidade de todos os cristãos.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Associando-se à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que anualmente é celebrada, no hemisfério norte, entre 18 e 25 de janeiro, católicos, anglicanos e luteranos residentes no Algarve voltaram a reunir-se esta tarde na igreja de São Francisco, em Faro.

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A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que teve hoje início, 18 de janeiro, e se prolonga até dia 25 destes mês, é centrada no tema «Crês nisso?», inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.

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Para este ano de 2025, em que se assinala o 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália.

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No Algarve, a iniciativa foi organizada pelo Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da diocese algarvia em parceria com as restantes Igrejas Cristãs e com a colaboração com o Movimento dos Focolares.

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Na celebração desta tarde – que ficou marcada pela simbologia da luz do Batismo que foi partilhada numa alusão à “luz de Cristo” que cada um deve levar ao próximo – o bispo da Igreja Católica do Algarve constatou que “hoje é muito fácil encontrar cristãos nas diversas Igrejas que têm muita dificuldade em acreditar na ressurreição”. “A fé em Cristo ressuscitado, garantia de nossa ressurreição, é nuclear para nós, seguidores de Cristo”, realçou D. Manuel Quintas.

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“Jesus vai ao encontro das nossas dúvidas e faltas de fé – até aceita que tenhamos dificuldade – e coloca-se ao nosso nível”, prosseguiu, lembrando que a certeza na ressurreição “é dom também”. “«Crês nisso?» é a pergunta que Jesus nos faz hoje também. E, para crescermos como discípulos de Jesus, seja como católicos, luteranos ou anglicanos, é fundamental, cada dia, respondermos a esta pergunta, apoiados na ressurreição de Jesus que é garantia de nossa ressurreição e fundamento da nossa esperança, da qual o Papa nos pediu para sermos peregrinos ao longo deste ano com todo o sentido de conversão que significa e de novo impulso evangelizador, missionário e de abertura a todos”, desenvolveu na celebração que contou também com a presença do diretor do Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da Diocese do Algarve, o cónego Rui Barros Guerreiro.

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Aquele responsável da Igreja Católica algarvia considerou que “o dinamismo de Cristo ressuscitado pode ser essa força mobilizadora e dinamizadora que ajuda” os crentes a ficar “mais próximos uns dos outros como cristãos, mesmo pertencendo a Igrejas diferentes”.

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A pastora Traute Finken, presidente do Conselho da Igreja Luterana alemã no Algarve, em representação daquela entidade juntamente com Monika Diete, apresentou o seu testemunho como professora de Educação Religiosa que também é. “Sei que a questão da fé é estranha para os jovens que estão à minha frente. É difícil de compreender”, constatou, admitindo que apesar de “praticamente nascido com fé em Deus”, graças aos seus pais, e de crer “em Deus, em Jesus, no Espírito Santo, na vida eterna, em cada palavra da Bíblia”, também tem as suas dúvidas.

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“Conciliar a minha fé confiante em Deus, que não posso ver, com o meu espírito, frequentemente muito critico, continua a ser um desafio para mim”, reconheceu. “Por momentos, penso em falar disso aos meus alunos e mostrar-lhes como, no fim de contas, somos semelhantes, mas depois apercebo-me que eles não esperam que eu seja um deles. Esperam que eu, como pastora, seja realmente fiel ao que digo, que seja credível, mesmo e talvez apesar de eles próprios não saberem muito sobre a fé”, prosseguiu.

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Aquela docente relatou que os alunos lhe repetem a pergunta de Jesus a Marta. “«Crê mesmo nisso?», perguntam-me e olham para mim com atenção. E eu consigo ouvir-me a responder: «Sim», creio nisso. Creio que Deus existe e que está ao meu lado. Não consigo explicar, mas sinto-o sempre que não estou sozinha, que há alguém que tem tudo nas suas mãos, que me tem nas suas mãos e que me acompanha no meu caminho pela vida”, contou, explicando ver nos olhos eles que “estão satisfeitos” com a sua resposta, “embora eles próprios considerem a questão da fé mais do que duvidosa”. “Provavelmente, não converti nenhum deles com o meu testemunho, mas talvez um ou dois deles se lembrem num momento difícil da vida que há pessoas que crêem realmente que há mais do que podemos imaginar”, concluiu.

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A pastora Carla Vicencio Prior, em representação da Igreja Anglicana, juntamente com o padre Rob Kean, considerou que a distinção entre anglicanos, luteranos ou católicos só é afirmada em ambiente crente. “Para o mundo lá fora, nós somos só cristãos. A maioria não tem conhecimento das coisas que nos dividem. Só tem conhecimento de que estamos unidos pelo amor a Deus e a fé em Jesus Cristo”, afirmou, acrescentando: “se eu fosse pedir uma graça ao Senhor hoje, seria para termos entre nós os olhos de nos vermos como os outros nos vêem, que será, talvez, como Deus nos vê”.

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Aquela responsável exortou os presentes a serem “belíssimas testemunhas do Evangelho” porque esse “amor cristão” “muda vidas”. “As nossas e as dos outros”, especificou, pedindo que demonstrem também esse amor, “sempre e em qualquer lugar”, “quando a vida é dura, as injustiças são estruturais, o medo, a solidão e a dor parecem permanentes”. “O importante é mesmo no meio das dificuldades pessoais, e às vezes até ecuménicas, amarmos a Deus. E não há melhor maneira de fazermos isso do que nos amarmos uns aos outros”, concluiu.

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O ‘oitavário pela unidade da Igreja’, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.

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O ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade dos cristãos, quebrada no passado por cismas e ruturas.

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As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).

com Agência Ecclesia