As Igrejas cristãs do Algarve voltaram a rezar pela unidade de todos os cristãos.

Associando-se à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que anualmente é celebrada, no hemisfério norte, entre 18 e 25 de janeiro, católicos, anglicanos e luteranos residentes no Algarve voltaram a reunir-se esta tarde na igreja de São Francisco, em Faro.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que teve hoje início, 18 de janeiro, e se prolonga até dia 25 destes mês, é centrada no tema «Crês nisso?», inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.

Para este ano de 2025, em que se assinala o 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália.


No Algarve, a iniciativa foi organizada pelo Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da diocese algarvia em parceria com as restantes Igrejas Cristãs e com a colaboração com o Movimento dos Focolares.

Na celebração desta tarde – que ficou marcada pela simbologia da luz do Batismo que foi partilhada numa alusão à “luz de Cristo” que cada um deve levar ao próximo – o bispo da Igreja Católica do Algarve constatou que “hoje é muito fácil encontrar cristãos nas diversas Igrejas que têm muita dificuldade em acreditar na ressurreição”. “A fé em Cristo ressuscitado, garantia de nossa ressurreição, é nuclear para nós, seguidores de Cristo”, realçou D. Manuel Quintas.

“Jesus vai ao encontro das nossas dúvidas e faltas de fé – até aceita que tenhamos dificuldade – e coloca-se ao nosso nível”, prosseguiu, lembrando que a certeza na ressurreição “é dom também”. “«Crês nisso?» é a pergunta que Jesus nos faz hoje também. E, para crescermos como discípulos de Jesus, seja como católicos, luteranos ou anglicanos, é fundamental, cada dia, respondermos a esta pergunta, apoiados na ressurreição de Jesus que é garantia de nossa ressurreição e fundamento da nossa esperança, da qual o Papa nos pediu para sermos peregrinos ao longo deste ano com todo o sentido de conversão que significa e de novo impulso evangelizador, missionário e de abertura a todos”, desenvolveu na celebração que contou também com a presença do diretor do Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da Diocese do Algarve, o cónego Rui Barros Guerreiro.

Aquele responsável da Igreja Católica algarvia considerou que “o dinamismo de Cristo ressuscitado pode ser essa força mobilizadora e dinamizadora que ajuda” os crentes a ficar “mais próximos uns dos outros como cristãos, mesmo pertencendo a Igrejas diferentes”.

A pastora Traute Finken, presidente do Conselho da Igreja Luterana alemã no Algarve, em representação daquela entidade juntamente com Monika Diete, apresentou o seu testemunho como professora de Educação Religiosa que também é. “Sei que a questão da fé é estranha para os jovens que estão à minha frente. É difícil de compreender”, constatou, admitindo que apesar de “praticamente nascido com fé em Deus”, graças aos seus pais, e de crer “em Deus, em Jesus, no Espírito Santo, na vida eterna, em cada palavra da Bíblia”, também tem as suas dúvidas.

“Conciliar a minha fé confiante em Deus, que não posso ver, com o meu espírito, frequentemente muito critico, continua a ser um desafio para mim”, reconheceu. “Por momentos, penso em falar disso aos meus alunos e mostrar-lhes como, no fim de contas, somos semelhantes, mas depois apercebo-me que eles não esperam que eu seja um deles. Esperam que eu, como pastora, seja realmente fiel ao que digo, que seja credível, mesmo e talvez apesar de eles próprios não saberem muito sobre a fé”, prosseguiu.


Aquela docente relatou que os alunos lhe repetem a pergunta de Jesus a Marta. “«Crê mesmo nisso?», perguntam-me e olham para mim com atenção. E eu consigo ouvir-me a responder: «Sim», creio nisso. Creio que Deus existe e que está ao meu lado. Não consigo explicar, mas sinto-o sempre que não estou sozinha, que há alguém que tem tudo nas suas mãos, que me tem nas suas mãos e que me acompanha no meu caminho pela vida”, contou, explicando ver nos olhos eles que “estão satisfeitos” com a sua resposta, “embora eles próprios considerem a questão da fé mais do que duvidosa”. “Provavelmente, não converti nenhum deles com o meu testemunho, mas talvez um ou dois deles se lembrem num momento difícil da vida que há pessoas que crêem realmente que há mais do que podemos imaginar”, concluiu.

A pastora Carla Vicencio Prior, em representação da Igreja Anglicana, juntamente com o padre Rob Kean, considerou que a distinção entre anglicanos, luteranos ou católicos só é afirmada em ambiente crente. “Para o mundo lá fora, nós somos só cristãos. A maioria não tem conhecimento das coisas que nos dividem. Só tem conhecimento de que estamos unidos pelo amor a Deus e a fé em Jesus Cristo”, afirmou, acrescentando: “se eu fosse pedir uma graça ao Senhor hoje, seria para termos entre nós os olhos de nos vermos como os outros nos vêem, que será, talvez, como Deus nos vê”.

Aquela responsável exortou os presentes a serem “belíssimas testemunhas do Evangelho” porque esse “amor cristão” “muda vidas”. “As nossas e as dos outros”, especificou, pedindo que demonstrem também esse amor, “sempre e em qualquer lugar”, “quando a vida é dura, as injustiças são estruturais, o medo, a solidão e a dor parecem permanentes”. “O importante é mesmo no meio das dificuldades pessoais, e às vezes até ecuménicas, amarmos a Deus. E não há melhor maneira de fazermos isso do que nos amarmos uns aos outros”, concluiu.

O ‘oitavário pela unidade da Igreja’, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.

O ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade dos cristãos, quebrada no passado por cismas e ruturas.

As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).
com Agência Ecclesia