Na iniciativa, promovida pela paróquia no âmbito da reabertura da Sé, após oito meses da sua recuperação e restauro, o conferencista mostrou como é “ser padre com o coração voltado para a esperança”. Esta expressão bem pode sintetizar o conteúdo e alcance da sua intervenção na qual sublinhou vezes sem conta não só o significado do termo esperança mas também da palavra amor.
O jovem sacerdote começou por lembrar que “o padre é pai e, por isso, o seu coração está aberto aos apelos da humanidade”. “Ser padre não é um vazio significado ou um somatório de funções. Ser padre é a resposta a um apelo que não é humano, nem particular. É dom. Ser padre não se explica pelo verdadeiro e justo resultado de uma equação. Por isso, aliado ao dom, vemos desenhado diante de nós aquilo que apenas se compreende com o coração pela fé: o mistério”, afirmou, justificando que “ser padre não se diz a não ser com a linguagem de quem ama, a linguagem que o coração sabe expressar”.
O padre Pedro Manuel sublinhou ainda que “o sacerdócio não é apenas um ofício, mas sacramento”. “Deus serve-se de um pobre homem a fim de, através dele, estar presente para os homens e agir em seu favor. Esta audácia é o que de verdadeiramente grande se esconde na palavra sacerdote”, frisou, lembrando que, “os sacerdotes são chamados pela Igreja a uma missão muito alta e bonita: dar a vida por todos com a certeza de terem sido salvos já por Aquele que deu a vida por muitos”.
O conferencista considerou que “o sacerdócio não é o caminho de solidão ou de total alheamento da vida”, até porque “o sacerdote está com a sua comunidade”. “Quando me perguntam o que me seduziu ou fez ser sacerdote, não tenho pejo em afirmar que sou padre porque acredito que o meu amanhã pode ser diferente. Isto é esperança e certeza. Esperança num Deus que caminha com cada um e certeza de que nada nos falta se procurarmos o Senhor”, afirmou, considerando que “o maior dom é o de um pastor que saiba introduzir na sua paróquia o amor e a esperança”. “O sacerdote é, por isso, continuador da obra da redenção sobre a terra”, evidenciou.
Reflectindo sobre as três virtudes teologais na vida do sacerdote – fé, esperança e caridade –, explicou que a fé é dom e a caridade é a capacidade de entrega aos outros. Já sobre a terceira, desafiou os sacerdotes à esperança, na consciência de que a “verdade última” não é aquela que se consegue com o “toque da sensação”.
Lembrou ainda que “o sacerdote não é um mini-deus ou um deus em potência”, mas “um homem frágil e de carne, que não busca as possibilidades da carne mas renuncia-as para ser totalmente de Deus”.
O padre Pedro Manuel criticou as “preocupações com o celibato sacerdotal apenas a partir da sua dimensão de complementaridade humana e biológica”. “Bem diz o Santo Padre que o celibato é um escândalo e essa é uma das tónicas que também torna o sacerdote testemunho e arauto da esperança que diariamente o ajuda a vencer as suas debilidades e a seguir a sua entrega, sem medo, mas consciente de que o amor, que chega ao fim, lhe dará a recompensa”, afirmou, lamentando que, “num tempo em que ninguém quer casar”, tanta gente se preocupe com o celibato dos presbíteros.
Mais adiante, motivado pelas perguntas dos presentes, justificaria que “o celibato é um escândalo porque parece que ninguém pode optar livremente por viver de maneira diferente”. “Não fui obrigado a ser celibatário pelo facto de ser padre. Quando percebi que Deus me chamou a ser padre, optei livremente por não casar para poder fazer esse caminho”, complementou, acrescentando acreditar que o celibato, “é uma mais-valia” que “continuará sempre a ter o seu lugar na Igreja”.
Não obstante essa sua convicção, disse acreditar que “aconteça a possibilidade de sacerdotes casados e padres celibatários trabalharem em conjunto”. “Acredito na possibilidade (o que não quer dizer que concorde com ela) que o sacerdócio possa ser aberto a homens que estão casados e que sentem no seu coração o chamamento do Senhor ao sacerdócio. Se o Espírito Santo assim quiser há-de iluminar a Igreja para chegarmos aí, mas não acredito que isso resolva a questão do número das vocações. Resolverá uma parte desse número”, defendeu, sublinhando que “a questão do celibato não é a mais importante da vida de um padre”. “A questão mais importante da vida de qualquer pessoa é a felicidade”, frisou.
O sacerdote destacou ainda a relação da Eucaristia com o sacerdócio. “O presbítero deve ser, em primeiro lugar, adorador e contemplativo da Eucaristia a partir do preciso momento em que a celebra. Bem sabemos, graças a Deus, que a validade do sacramento não depende da santidade do celebrante, mas a sua eficácia, para ele e para os outros, será tanto maior quanto mais ele viver com fé profunda, amor ardente e fervoroso espírito de oração”, advertiu.
Na mesma linha, lembrou também que “o sacerdote não se esgota em ocupações e movimentos supérfluos, mas entrega-se todo a Deus e aos irmãos”. “O desejo de melhorar o nosso serviço e, por isso, de dar eficácia à nossa missão deriva naturalmente da nossa capacidade de amar e de olhar a missão com esperança”, afirmou, revelando o “rosto do padre que vive com esperança”.
Sobre a “fidelidade à vocação”, explicou que a mesma “exige coragem e confiança”. “O exercício da fidelidade e da presença firme junto do sacrário será o único caminho para uma renovação da Igreja”, afirmou, acrescentando: “inquieta-me bastante ver uma Igreja onde cada um faz o que quer e cada um busca um senhor e não apenas o único Senhor”.
Quase a terminar, disse acreditar que o padre não é um homem comum. “Deixa-me acreditar, porque sou novo, que o padre é um homem diferente porque eu acho, efectivamente, que sou um homem diferente. Deixa-me acreditar que o padre é um homem especial, porque eu acho que o facto de fazer milagres todos os dias com a celebração da Eucaristia me confere essa característica”, justificou.
Já durante o diálogo com a assembleia, defendeu que “a razão fundamental para um certo desencantamento em relação à vocação sacerdotal” é o “desencantamento geral em relação à vida, sobretudo com aquilo que compromete, o que acontece também no matrimónio”. “Cada vez se atrasam mais as decisões de vida e encontramos também a procura do seminário e da vocação já numa idade tardia. Isto significa que os tempos mudaram”, referiu.
Samuel Mendonça
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