Numa intervenção que teve muitos pontos de contacto com uma outra que já tinha realizado em Março do ano passado para formação de ministros de exéquias na ausência de sacerdote, o padre José Águas começou por esclarecer que a celebração exequial não é um sacramento, mas um sacramental e que, por isso, um fiel leigo (entenda-se não clérigo) pode presidir à sua celebração.
Entrando no núcleo da sua exposição defendeu que viver a esperança na morte “tem muito a ver com toda a comunidade”. O presbítero considerou mesmo que “temos que viver da esperança para não sermos como os que não a têm”.
Procurando justificar o motivo da esperança, o orador apontou que “a primeira razão da fé é a da paixão, morte e ressurreição do Senhor”. “É esta a certeza”, concretizou, lembrando o que os cristãos professam no credo: “creio na ressurreição da carne e na vida eterna”. “A vida não se acaba, apenas se transforma. Embora, a tristeza pela partida, nos comova, consola-nos a promessa da eternidade. A fé tem de estar presente e esta fé leva à esperança na vida eterna”, observou, lamentando: “para quem não tem esperança, é o fim”.
Neste sentido, explicou que “a morte cristã é efectivamente o mistério pascal”, sendo que a Páscoa é a “passagem da libertação para o deserto, do deserto para a terra prometida, da morte à vida, da paixão, morte e ressurreição de Cristo para a eternidade”. “A morte do cristão é a sua passagem para a felicidade eterna”, acrescentou, considerando ser “obrigação” dos cristãos “reavivar a fé no mistério pascal e na ressurreição”. “Temos obrigação de fazer levantar esta esperança porque nestes momentos as pessoas estão receptivas. Temos a obrigação de manifestar o amor materno para aqueles que estão em dor”, afirmou.
Considerando a morte um “momento sublime”, “tão natural como nascer”, criticou a sua desvalorização e desumanização nos dias de hoje. “Nós, cristãos, temos a obrigação de fazer alguma coisa para humanizar a morte”, disse, lembrando que “outrora, era um acto religioso fechar os olhos ao pai ou à mãe”. “Hoje é uma complicação tremenda a pessoa morrer em casa”, constatou, evidenciando que “a vela que se devia acender devia ser a do Baptismo”. “Ao lado do féretro devia estar o círio pascal”, mas “o prático sobrepõe-se ao simbólico”, criticou.
A terminar, lembrando que o momento da morte “é muito mais do que um momento de comunhão” e que “esta comunhão deve ser a comunidade a realizar”, defendeu a necessidade de “formar equipas para acompanhar as famílias, para rezar um pouco e falar da esperança e do encontro futuro com os entes queridos”.
Samuel Mendonça
Ouça a conferência:
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