O sacerdote, que falou sobre “A Palavra de Deus na Vida e Missão da Igreja”, considera que “ainda não tratamos, no mesmo horizonte sagrado, a Palavra como tratamos o Corpo do Senhor”. “Falamos muito da Palavra de Deus, temos imensas experiências pessoais ou comunitárias a respeito da Palavra de Deus, mas vou-me perguntando se somos pessoas marcadas, iluminadas e fortalecidas pela Palavra. Falamos muito dela, mas não sei se ela é o centro do nosso coração, da vida, até das nossas atitudes, gestos e mesmo celebrações. Às vezes, participando em tantos acontecimentos da nossa vida diocesana, vou-me apercebendo que, mesmo estando no centro a proclamação da Palavra, ainda não se lhe dá a atenção devida do coração”, afirmou o padre Carlos de Aquino, constatando que “ao Corpo do Senhor, a gente venera, ajoelha, olha e trata com respeito, mas não faz o mesmo com o Livro Sagrado”.
Lembrando que “todos os ministérios decorrem da Palavra e estão ao serviço dela”, alertou para a “atenção interior para a Palavra”. “Temos imensa dificuldade em escutar a Palavra”, lamentou.
Pedindo aos cristãos que sejam “praticantes da Palavra e não apenas ouvintes da Palavra”, o orador lembrou que “sempre que é proclamada a Palavra, é Cristo que no-la lê” e que “escritura e liturgia convertem num único sim: levar o povo ao diálogo com o Senhor e obediência à vontade do Senhor”.
O padre Carlos de Aquino frisou que “da Palavra nasce a liturgia” porque aquela “faz-se naturalmente celebração e oração” e “tende por si mesma para a acção litúrgica”, mas evidenciou que “da liturgia também é gerada a Palavra”.
Por outro lado, destacou que “é no contexto da celebração que a Palavra é oferecida para realizar aliança”. “É Deus que está na origem da aliança. É a Palavra que, na celebração, se torna vida e expressão dessa aliança”, referiu, acrescentando ser no ambiente litúrgico que a Palavra se torna “viva e vida”.
O padre Carlos de Aquino defendeu ainda ser “necessário ajudar os fiéis a valorizar os tesouros da Escritura por meio de iniciativas pastorais”. Nesta linha considerou também necessário promover “formas de oração confirmadas pela tradição” como a liturgia das horas, vigílias ou a oração dos salmos. “Infelizmente são metodologias de grande tradição cristã que perdemos. Sempre que nos reunimos para alguma celebração é a missa que realizamos, quando há tantas outras propostas que evidenciam a beleza da Palavra de Deus e que deviam ser mais utilizadas”, criticou.
Considerando que a Palavra de Deus é a “expressão única e definitiva do amor de Deus por nós”, explicou que “o lugar e o tempo por excelência onde a proclamação desta Palavra de amor e a transformação da vida acontece, é na liturgia”. “A liturgia é a Bíblia transformada em Palavra proclamada”, destacou.
O orador alertou para alguns aspectos a ter em conta na valorização da Palavra. Neste sentido pediu que o livro da Escritura “ocupe um lugar visível e de honra na igreja”, que haja momentos de “silêncio depois das leituras e da homilia” e que as celebrações da Palavra sejam “centradas nas leituras do domingo”.
Lamentando por fazermos pouca “partilha da vida a partir da Palavra”, lembrou ainda, entre outras coisas, que as leituras devem ser “sempre proclamadas a partir dos livros sagrados”, que “não sejam esquecidas as pessoas com incapacidade visual e auditiva” e que “nunca se substituam os textos sagrados por outros”.
A terminar, exortou a uma “dinâmica pastoral litúrgica organizada” e à “promoção de uma educação litúrgica sólida dos cristãos”, mas também à “permanente catequese, oração espiritualidade, vivência do mistério” e uma “participação mais activa e frutuosa”.
Samuel Mendonça
Ouça a conferência:
![]() |