“Os Animais Mudos possuem a Razão” é outro título de um volume marcante de Fílon, e a “alma” protocristã está bem “visível” e “viva” mas, de forma subliminar nesta extraordinária alegoria zoomórfica relativa aos “peixes”. São simbolicamente representados nas inúmeras imagens de mosaicos de “tesselae” (pedrinhas) com esse signo dos “animais mudos”, e espalhados pelo mundo romano. As numerosas “Villae” ou “Domus” pulverizadas pelo norte de África, com incidência em Cartago (Tunes, Tunísia), detêm particularmente este importante símbolo do “peixe”. Do grego “ichthus” (peixe), detém um conteúdo literal importante e marca do acróstico muito conhecido: “Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador”. E toda a poética se desenrola através de letras e iniciais helénicas e, primitivas formas de um verso que encerra uma e “única” imagem do “Peixe”. Não se podia descrever melhor a exegese alegórica nessa era muito “original”.
O muito mais “recente” padre António Vieira, também ele influenciado pelos primitivos “Padres da Igreja”, é um dos maiores testemunhos literários deste “signo” e que constitui o selo da era cristã. O seu “discurso” com a menção do sermão de S. António aos “peixes” está bem retratado, alegoricamente. Nele (“A Terra dos Homens”) faz também referência a Aristóteles que, por sua vez, considera “entre todos os animais, se não domam nem domesticam” e, “falando dos peixes” pressupostamente.
O carácter quase “secreto” desta forma de ensino teológico em imagens, literais ou formais, tem relação com as esporádicas perseguições que os primitivos cristãos estariam sujeitos, num mundo gentio e pagão enraizado no culto imperial. No entanto, o enigma destas congregações “originais” (primeiros cristãos) reside no êxito exponencial da “Boa Nova”, interpretada com um sentido evolutivo e de base alegórica e, essencialmente, espiritual.
Um “novo” conceito de “Alma”, que só é atingido pelo Cristianismo primitivo. O seu “Corpo” é a figura do “Peixe”, e que constitui também alimento eucarístico.
(continua)
Vítor Cantinho
Arquitecto e ensaísta
Bibliografia consultada:
Pe. António Vieira, "A Terra dos Homens".
B. Altaner e A. Stuiber, "Patrologia".
Eusébio de Cesaréia, "História Eclesiástica".