O conferencista, que hoje abordou o tema “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, começou por lembrar que “o ser humano e a sua importância estão acima do dinheiro e do seu valor facial” e defendeu que “foram a ganância, as fraudes e a irresponsabilidade que trouxeram a crise dramática para os mais pobres e inocentes que se veem prejudicados e roubados da sua dignidade de seres humanos”.
O orador advertiu que “só a riqueza que se apoia em Deus tem valor incorruptível” e que “o dinheiro não é um fim absoluto em si”. “É um meio face ao qual o homem deve ser independente. Usado corretamente pode permitir fazer boas obras. Trata-se de descobrir o sentido de prestar um serviço ao bem do homem”, salientou, considerando que “é o amor é o que dá sentido a tudo e também ao dinheiro” e que assim “é possível redimir o dinheiro”. “A riqueza legitima-se como meio de amor fraterno e de libertação social. O dinheiro dá sentido à existência humana ou torna a pessoas escrava dele”, evidenciou, lembrando que “se o endinheirado ama Deus e o próximo, não ama o dinheiro” e que “a riqueza torna-se enganosa quando impede de ouvir a mensagem de Deus”.
Nesse sentido, “o dinheiro pode ser um presente envenenado”, destacou, lembrando que “a riqueza impõe ao rico severas leis”. “O dinheiro é um «senhor» exigente que também quer ser adorado e amado com exclusividade”, lamentou, considerando que “ao ser-lhe dado um valor absoluto, o dinheiro transforma-se em «senhor» do homem e converte-se em fonte de poder, exploração humana, e divisão”.
Reforçando a ideia de que a riqueza não é um mal em si mesma lembrou que o homem “não se salva por ser pobre, mas por estar aberto a Deus”.
Aos sacerdotes, o conferencista aconselhou a serem “peritos em humanidade e espiritualidade” e não “homens das finanças”. “Não podemos descambar para a categoria de empresários”, advertiu considerando que “o critério da identidade sacerdotal não arranca do dinheiro, mas de Deus”. “A missão do sacerdote não alinha pela lógica do dinheiro, mas da cruz”, disse, considerando que “uma preocupação excessiva pelo dinheiro é sinal de paganismo”. “A crise que nos perpassa é uma prova de fogo não só para os dirigentes políticos mas para a nossa consciência sacerdotal ao desafiar os nossos níveis de solidariedade comprometida”, acrescentou.
A terminar, considerou que “a crise económica converte-se numa janela de oportunidades”. “Obriga-nos a rever o nosso caminho, a dar-nos novas regras e a encontrarmos novas formas de compromisso. É oportunidade para voltar ao essencial do Evangelho”, advogou, lembrando que “a pobreza não se combate só com dinheiro mas também com cultura e evangelização”.
Samuel Mendonça
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico