O orador começou por explicar que o dom é mais importante do que o mérito. “É preciso aceitarmos o que temos, não por mérito próprio mas como dom. Somos pelo dom que recebemos e isso tem-me ajudado a não me deslumbrar com o que consegui. Não temos a vida, mas foi-nos dada”, concretizou, acrescentando que “na vida somos todos «por contra de outrem»”. “Uns têm «contrato a prazo», outros estão a «recibos verdes»”, afirmou.

Considerando que “o investimento tem subjacente uma questão moral”, defendeu a necessidade de “levar o Evangelho para a empresa” e aludiu à dificuldade de se ser cristão integral no dia a dia da empresa. “O difícil é vivermos e sermos Cristo na empresa”, testemunhou, apelando à “missão dos líderes empresariais cristãos de envolverem as suas convicções mais profundas”. “A dificuldade não é a de sobreviver, fazê-lo com ética é que já é outra história”, concretizou, assegurando que “há uma nova geração empresarial que já não vive dentro da lógica da esperteza”. “É sempre possível iludir a lei. Não é fraude, é evasão”, elucidou, garantindo que “o Estado vai andar sempre a trás das empresas porque as empresas são muitas a detetar os buracos da lei do que o Estado – um só – a tapá-los”.

Neste sentido, considerou que os cristãos têm uma “mais-valia” relativamente aos que não o são. “Se acreditamos na eternidade temos muito tempo para resolver a crise”, concretizou, lembrando que “as crises são cíclicas e normais”. “A história repete-se e nós achamos que vivemos a «mãe» de todas as crises”, afirmou, aconselhando que a preocupação deve ser “não perder o norte”. Exortou a “viver a crise não numa atitude de sobrevivência, mas de vivência”.

Armindo Monteiro lamentou ainda que a “maior parte das nossas empresas” não tenham “sofisticação de negócio”, lembrando que só 890 empresas é que, em Portugal, faturam mais de 50 milhões de euros. “Para criamos emprego a sério não pode ser com estas empresas”, lamentou, evidenciando que “o nosso modelo económico é o comércio”. “É preciso que os nossos empresários criem modelos de negócio com sofisticação”, defendeu, acrescentando que “temos mesmo de mudar por imperativo de sobrevivência e não por opção”.

O orador advogou ainda que “é preciso escapar à idolatria da ação ”, lamentando que “haja a tentação de passar a ideia de que se está em atividade ”. “Quando não sabemos para onde ir todos os caminhos parecem bons e isso é perigoso”, advertiu.

Aludiu ainda à “confusão entre dinheiro e crédito” “que nos faz estar a pagar a fatura ”. “Parece que o mundo ruiu porque o crédito deixou de existir”, ilustrou, advertindo para o “risco de regresso às políticas públicas” e para o perigo do Estado “sentir a tentação de secar a iniciativa dos privados”.

Considerando que “a crise é inevitável mas não nos convoca para a resignação”, defendeu uma “atitude de confiança e luta” e o “regresso à consciência social e ética empresarial”. “Para mudarmos de paradigma temos de ser todos muito mais solidários. Não deixemos o medo sobrepor-se à esperança. Podemos criar um mundo melhor voltando ao tempo das ideias. Temos de voltar ao tempo dos valores porque vivemos uma crise de valores”, exortou, acrescentando que “é preciso não ter visão cética da vida” e “ver para além das ações , apostar na felicidade e não no prazer”. Apelou ao otimismo defendendo que “a solução da crise é de natureza comportamental”.

Samuel Mendonça

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico