No prefácio escrito pelo Bispo Emérito do Algarve, D. Manuel Madureira Dias, explica-se que o mesmo se trata de um testemunho e como tal deve ser entendido. No entanto, “não é um puro testemunho descritivo das coisas acontecidas. O autor, de quando em vez, toma posições, define pronunciamentos, indica rumos, critica atitudes”, citava ontem Luís Horta na sessão de apresentação da obra.

O apresentador lembrava ainda que a publicação surge também como desafio ao clero para que deixem também registadas as suas memórias. “O padre David Sequeira considera que, por parte do clero, «existe uma clara alergia eclesial a deixar escritos»”, afirmou Luís Horta, acrescentando o apelo de D. Manuel Madureira Dias. “Que esta publicação possa ser motivadora de outros escritos semelhantes por parte de muitos outros sacerdotes que entregaram a vida a Cristo e à Igreja e ficarão sem registo se eles próprios não tiverem a ousadia de o fazer”, citou.

O próprio autor, de 79 anos, referindo-se sobretudo à Diocese do Algarve, defenderia na sua intervenção que “há um certo mutismo dos sacerdotes em escrever alguma coisa sobre aquilo que fizeram”. “Penso que isso é uma pecha nacional”, acrescentou.

É com partida de Alcantarilha, de onde é natural, que o autor inicia uma «viagem longa» de todos estes anos que, desde a meninice, o levaram à escola, ao Seminário de Faro, ao Seminário de Almada, ao Seminário dos Olivais e, finalmente, à ordenação por D. Francisco Rendeiro em setembro de 1956 e Missa Nova em Alcantarilha.

A viagem que o autor propõe estabelece, a partir desse momento, novas rotas. A primeira paragem no Seminário como prefeito e professor, onde se destaca o gosto pela música e ensino daquela arte. É, pois, a música que ocupa uma boa parte desta sequência com referência, por exemplo, para o período de estudo no Instituto Pontifício de Música Sacra, em Roma. Nesse capítulo destaca a criação do Coral Nova Esperança, que fundou em Tavira, mais tarde denominado Psallite Chorus, e a sua influência na educação e enriquecimento cultural de novas gerações.

Destaque ainda para a referência ao desporto “já que o autor, exímio tenista de mesa, gostava de atividades desportivas, fomentando, por exemplo, o futebol entre a rapaziada”, prosseguiu Luís Horta.

De quase meio livro para a frente, o autor estacionou a sua «carruagem» em Tavira onde tem permanecido desde setembro de 1969 até ao presente. “A revolução de abril , e algumas perseguições que se fizeram à Igreja em Tavira e ao pároco de São Tiago em particular, são episódios – alguns caricatos e outros pouco próprios –, de que, como muitas outras pessoas de bem, foi vítima”, destacava o apresentador.

O apoio que sempre deu ao Agrupamento 100 de Tavira do Corpo Nacional de Escutas e a referência ao Jornal do Sotavento, órgão da imprensa regional que se ergueu por sua iniciativa e de que foi diretor Luís Horta, são outros dos destaques do livro que agora saiu à estampa.

Jorge Botelho destacou os mais de 40 anos de trabalho do sacerdote em Tavira, com relevo para o período pós ano 2000, altura em que “carregou as duas paróquias de Tavira ao colo por ocasião da aposentação do padre Jacinto Rosa”. “Nunca regateou esforços, nunca virou a cara e teve sempre uma palavra de amizade e conforto. Foi professor exigente e era daqueles que marcava, amigo daqueles a quem ensinou e que hoje têm por ele uma grande consideração e estima. Se há pessoa que é reconhecidamente estimada pela população de Tavira e merece o reconhecimento é o padre David Sequeira”, considerou o presidente da Câmara, lembrando que “a verdadeira obra é a da sua vida”.

Já Jorge Correia, médico e ex-presidente da Câmara de Tavira, lembrou que o exercício do ministério sacerdotal do autor não foi só vivido em Tavira.

Samuel Mendonça

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico